Trump volta a atacar Jerome Powell e diz que poderia demiti-lo do Federal Reserve

Presidente dos EUA critica lentidão para cortar juros

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a atacar o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, nesta quinta-feira (17), afirmando que poderia demiti-lo, se decidisse fazê-lo. As declarações inflamam o debate sobre a independência do banco central americano e ocorrem em meio à frustração de Trump com a política monetária atual.

“Se eu pedir, ele sai”, disse Trump a repórteres no Salão Oval da Casa Branca, após publicar em redes sociais que Powell estaria sendo “lento demais” para cortar os juros. “Não estou satisfeito com ele. Eu já o avisei.”

Powell tem mandato como presidente do Fed até maio de 2026, e segue como integrante do conselho até fevereiro de 2028. As falas de Trump vieram um dia depois de Powell reiterar, durante discurso em Chicago, que o Fed não tem pressa em reduzir os juros e que aguarda sinais mais claros da economia antes de agir.

Independência do Fed

As críticas de Trump reabriram a discussão sobre os limites do poder presidencial sobre órgãos independentes, especialmente após a Casa Branca já ter destituído autoridades de outras agências reguladoras, como a Comissão Federal de Comércio, o Conselho Nacional de Relações Trabalhistas e o Conselho do Sistema de Mérito.

O senador democrata Chuck Schumer condenou os ataques, afirmando no X (ex-Twitter) que “um Fed independente é vital para uma economia saudável — algo que claramente não é prioridade para Trump.”

As recentes demissões desafiam uma decisão da Suprema Corte de 1935, que estabeleceu a autonomia de agências como o Fed. Powell, em sua fala em Chicago, fez referência a um processo em andamento na Suprema Corte que pode redefinir essas regras. “Estamos acompanhando de perto”, disse. “Não acredito que a decisão vá se aplicar ao Fed — mas não sabemos ainda.”

Ele reforçou que a independência do Fed está garantida por lei, e que membros só podem ser removidos “por justa causa”.

O impacto econômico e político

Economistas da Bloomberg alertaram que, se a Suprema Corte derrubar o precedente de 1935, o Federal Reserve poderá se tornar o único banco central do G7 a ter sua independência legalmente enfraquecida por motivos que não envolvem supervisão bancária.

Apesar da retórica agressiva, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, indicou que o governo só pretende iniciar a busca por um eventual sucessor de Powell no segundo semestre deste ano. Ele também defendeu a independência do banco central, afirmando que é “um bem precioso que deve ser preservado”.

Trump, no entanto, retomou o tom da sua primeira presidência, quando frequentemente criticava Powell por não agir com rapidez suficiente para cortar os juros. Ele voltou a comparar o Fed com o Banco Central Europeu, que reduziu sua taxa básica para 2,25% nesta quinta-feira. Em publicação nas redes, Trump escreveu que Powell é “sempre tardio e errado” e que “já deveria ter cortado os juros há muito tempo.”

Trump alegou ainda que os preços do petróleo e alimentos estariam em queda, e que os EUA estão “ficando RICOS” com as tarifas impostas a outros países. No entanto, dados oficiais mostram que os preços dos alimentos subiram 2,4% nos últimos 12 meses — apesar da queda superior a 10% no petróleo neste ano.

Powell tenta conter pressões

Durante seu discurso em Chicago, Powell reforçou que a principal missão do Fed é manter as expectativas de inflação de longo prazo ancoradas. “Nosso dever é garantir que aumentos pontuais de preços não se transformem em inflação persistente”, afirmou.

Enquanto Trump defende cortes nos juros para estimular a produção doméstica — especialmente em meio a novas tarifas —, muitos economistas avaliam que a inflação ainda está elevada demais para que o Fed afrouxe sua política monetária.

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, foi questionada sobre os comentários de Trump. “Tenho muito respeito pelo meu colega e amigo Jay Powell”, respondeu, destacando o histórico de cooperação entre o Fed e o BCE.

Reação do mercado

Apesar das declarações inflamadas, o mercado financeiro reagiu com relativa calma.

As ações subiram com otimismo sobre acordos comerciais com a União Europeia e o Japão, enquanto os juros dos Treasuries aumentaram levemente.

O índice S&P 500 avançava 0,8% às 14h46 (horário local), enquanto o rendimento dos títulos de dois anos subia para 3,80%.

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