Finanças

2 anos de guerra: Ações de petróleo se destacam, enquanto aéreas sofrem

Investidor deve ficar atento à volatilidade e se ainda há espaço para ganhos em ativos ligados à commodity.

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Há exatos dois anos, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciava a invasão ao país vizinho, à Ucrânia.

Na ocasião, as bolsas pelo mundo despencaram com receios dos impactos econômicos do conflito, em especial com a escalada de preços dos grãos e também do petróleo, devido à grande participação de ambos os países na produção mundial.

Se de um lado, os preços dos insumos subiram e acertaram em cheio o bolso dos consumidores, do outro, investidores expostos aos ativos atrelados ao petróleo, principalmente, tiveram bons retornos.

“O aumento do preço do petróleo fez com que diversas empresas do segmento conseguissem aumentar seus lucros em meio à escassez do produto”.

Marcello Corsi, economista da WIT Invest.

Em dois anos, os papéis da Petrobras (PETR3 PETR4), por exemplo, foram os que mais subiram entre as companhias que compõem o Ibovespa: quase 179%, de acordo com a levantamento feito por Einar Rivero da Elos Ayta Consultoria.

Em contrapartida, passados dois anos, os preços do petróleo e de grãos, como o milho e a soja, que atingiram cotações históricas, retornaram ao patamar anterior ao conflito.

O barril do petróleo Brent, por exemplo, que chegou aos US$ 122 em maio de 2022, está atualmente na casa dos US$ 84.

Essa redução ocorreu porque o mercado se adequou à nova realidade. “Tivemos uma restauração do fornecimento do petróleo e gás, em especial os países da Europa que são dependentes do gás e petróleo da Rússia, mas que diversificaram sua matriz”, explica Renan Silva, professor de Economia do Ibmec Brasília.

O mesmo ocorreu com o Brasil, conforme explica Ikedo. “Havia uma forte dependência na importação de fertilizantes, sendo a Rússia o principal fornecedor do Brasil que foi bastante afetada em 2022, fazendo com que fossem ampliadas as importações do Canadá”, acrescenta

Mas como os ativos ligados à commodities devem caminhar agora?

Para o economista da WIT Invest, Marcello Corsi, papéis de empresas ligadas ao petróleo, por exemplo, continuam sendo uma boa pedida, principalmente porque é um recurso que deve se manter escasso no futuro.

“Porém, o investidor deve estudar bem os ativos para não adquirir ações de empresas já próximas ao preço justo”.

Para efeito de comparação, o banco BTG estima um preço-alvo da ADR (recibo oferecido por empresas estrangeiras nas bolsas de valores dos Estados Unidos) da Petrobras em US$ 19 para os próximos 12 meses – o papel já está cotado na casa dos US$ 17 em Nova York. Ou seja, se levarmos em consideração este exemplo, o espaço para ganhos com valorização está cada vez menor.

Outro setor que vem ganhando com a guerra é o bélico. Luciana Ikedo afirma que, em 2023, mundialmente houve um aumento dos investimentos de 9% no segmento, tendo como principal influência a guerra entre Ucrânia e Russia. Com o mais recente conflito em Gaza, o setor pode ganhar ainda mais relevância. “Ainda veremos a alta dos ativos do setor e o aumento dos investimentos em 2024”.

O tombo das aéreas

Se de um lado empresas de commodity e do setor bélico conseguiram extrair pontos positivos, as companhias aéreas foram bastante prejudicadas especialmente por serem sensíveis aos preços dos combustíveis – um dos principais custos para as empresas do setor.

“O combustível a preços elevados por tanto tempo corroeu boa parte do resultado e balanço dessas empresas, que já estavam fragilizadas pelos impactos da pandemia”,

Marcello Corsi, economista da WIT Invest.

Esse cenário contribuiu para que o investidor fugisse da alocação no setor. A ação da Azul (AZUL4), por exemplo, foi uma das que mais caiu entre os papéis que compõem o Ibovespa. O recuo foi de 53,88% em dois anos.

Ao mesmo tempo, Corsi acredita que essas empresas já se adequaram ao novo cenário e que o preço do petróleo não deve voltar tão cedo aos patamares históricos. “O que traria um aperto maior seria se tivéssemos uma escalada da guerra com a entrada de outros países. Mas não estou vendo esse risco como provável para o momento”, diz.

A guerra vai continuar?

Ninguém sabe ao certo quando o conflito terá fim. Mas em caso de vitória de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, o cessar fogo pode estar mais perto do que se imagina.

O político já afirmou que, se eleito, estuda encerrar a ajuda dos EUA – uma das maiores potências militares e econômicas do mundo – à Ucrânia, o que tornaria mais difícil para o país manter sua defesa.

“Podemos ter um choque momentâneo de oferta, com petróleo russo à disposição de todo o mercado (o que reduziria os preços). Porém, o principal conflito que pode afetar a comodity é o do oriente médio e o quanto os países produtores vão cortar ou não da produção. É uma comodity que gerará volatilidade nos próximos tempos”, alerta.

Decisão do BC

Hugo Queiroz, sócio diretor da L4 Capital, acrescenta que a guerra ainda traz reflexos para o Brasil, especialmente nas decisões do Banco Central.

“O BC ainda enxerga o risco monetário global em suas decisões e naturalmente não corta os juros em uma magnitude maior do que 0,5%, e isso gera impacto nos preços dos ativos da renda fixa e da renda variável”.

Ele acrescenta que, com o dinheiro “mais caro” as companhias sofrem o reflexo “com margem mais baixa, geração de caixa menor, o que pode contaminar a economia real”.

Ao mesmo tempo, conforme explica o professor do Ibmec, o Brasil passou a atrair mais investidores estrangeiros com a guerra, já que muitos acabaram deixaram de investir na Rússia.

“O risco fiscal da Rússia ficou extremamente elevado devido aos gastos exorbitantes com a guerra, o que acaba atraindo investidor de capital especulativo para o Brasil, que também oferece grandes prêmios, com taxa de juros elevada”, conclui.

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