Finanças
5 lições que a pandemia ensinou, segundo Nassim Taleb, criador do ‘Cisne Negro’
Para economista e pesquisador, pandemia não era um evento inesperado e governos foram ineficientes no combate.
Para quem ainda não conhece o significado, Cisne Negro é um conceito criado pelo economista, pesquisador e ex-negociador de ativos de risco Nassim Taleb para definir um evento “fora da curva”, que nunca ocorreu antes e pode gerar fortes impactos na vida das pessoas.
Um Cisne Negro seria então um acontecimento inesperado, que muda uma situação radicalmente. Entre os exemplos mais conhecidos de cisne negro na história temos as crises globais, atentados terroristas como o 11 de setembro e até o boom do Google.
Desde que a pandemia começou, muitas pessoas tentaram atribuir o conceito de cisne negro ao coronavírus. No entanto, Nassim Taleb apontou, nesta sexta-feira (17), em um grande evento de investidores em São Paulo, que a pandemia não é um cisne negro porque já aconteceram problemas semelhantes no passado.
Ele acrescentou também que a possibilidade de uma pandemia acontecer já era esperada no mundo. E que a crise gerada pela Covid-19 é fruto da falta de competência das autoridades, que não souberam ser ágeis no combate ao vírus e desperdiçaram muito dinheiro. “Se tivéssemos agido rapidamente com a pandemia talvez não teria sido necessário imprimir tanto dinheiro para estímulos.”, defende.
Com um discurso enérgico e realista, Nassim Taleb nos deixou 5 importantes lições. Confira:
1.- Estabilidade não permite evolução
O economista citou um exemplo de dois irmãos gêmeos nascidos no Chipre, ambos com 55 anos. O primeiro teve uma renda estável durante 35 anos, um salário fixo e algumas bonificações.
O segundo irmão tem um taxi. Teve meses bons e ruins, e com a crise teve que fazer ajustes. Então se especializou em entregas e conseguiu até dobrar sua renda. Sob o olhar de qualquer visão econômica, o primeiro irmão tem uma renda estável enquanto o segundo está exposto a volatilidade. Se um deles for demitido, qual terá mais chances de sobreviver?
Taleb explica que o primeiro irmão que trabalhou durante 35 anos em um escritório, fazendo sempre a mesma coisa, não desenvolveu capacidade de adaptação. Enquanto o segundo teve que aprender a se virar constantemente sob fatores estressantes.
Este mesmo exemplo se aplica às empresas. “Companhias que tem contrato com o governo, podem perder tudo na troca de mandatário. Companhias com o futuro previsto, têm péssimo desempenho”, explica Taleb. Para ele, se não tiver fatores estressores a empresa não vai aprender a se adequar ao novo ambiente ou sobreviver.
2.- Volatilidade é necessária
“Se eu der um pulo de 1 metro vou ficar bem, se eu der um pulo de 10 metros posso morrer, mas a ideia central disso é sobreviver”, afirmou Taleb.
Ele defende que o mundo não deve se preocupar com a mudança e sim com a sobrevivência. Porque afinal as coisas não são iguais e aquilo que não possui um pouco de volatilidade tem zero chances de sobreviver a longo prazo.
Por isso ele recomenda também na hora de investir ter ativos expostos a volatilidade. “Tem negócios que aprenderam a ganhar com a volatilidade, e desenvolveram uma proteção frente ao risco”, comenta.
3.- Empreendedorismo pode ser estimulado
Nassim Taleb se descreve como alguém incapaz de ter um chefe, um empreendedor nato. “Posso ter sócios, mas um chefe não. Eu percebi logo no início minha realidade”, comenta. Ele defende que os governos deveriam fazer algo para ajudar os empreendedores a realizar o trabalho deles no lugar de impedi-los. “No mundo temos elementos culturais que são muito ruins para o empreendedorismo”, diz.
Ele cita a Índia como exemplo de mudança cultural e afirma que lá o governo aceitou a ideia de estimular pessoas a fundar empresas e auxiliar estas para não fracassarem. “Estive na Índia e as avôs não querem que nos netos vão para boas escolas e tenham bons empregos para ajudar a sociedade”, explica e acrescenta “Elas sabem que você ajuda a sociedade criando uma empresa. Os empregos do governo e as universidades são um jogo de soma zero, se eu abro uma empresa estarei ajudando muitas pessoas”, aponta.
Para Taleb, o mundo precisa de empreendedores que não sejam burocratas e que não tenham passado por boas escolas. E sim pessoas que possam contar experiências de vida. “Se você tem 18 anos e quer melhorar o problema da fome do mundo crie uma empresa e tire alguém da pobreza”, aconselha.
4.- Falir não é tão ruim assim
Ele explica que as pessoas não deveriam ter vergonha de falir, porque apenas 1 em cada 10 empreendedores conseguem ser bem sucedidos. “Se você fica sem ideias ou sem produtos entenda que o fracasso é apenas um processo”, aconselha.
Por exemplo, a região com maior taxa de falência do mundo é o Vale do Silício na Califórnia, mais conhecido como o berço do empreendedorismo e as empresas mais inovadoras. O que prova que nem sempre falência é algo ruim.
5.- Procure oportunidades convexas
Segundo Nassim Taleb, de 18 mil empresas listadas em bolsas estrangeiras, apenas 200 representam metade da capitalização. O que isso significa? De centenas de empresas que entram no mercado, apenas 2% serão capazes de gerar renda ao longo do tempo.
Este conceito de convexidade, definido por Taleb como aquela oportunidade onde a perda máxima já está definida, se aplica a negócios que são concentrados, por exemplo, indústria farmacêutica, editora de livros. Ele exemplifica que se uma editoria que ter lucro precisa ao menos vender 20% das suas publicações.
Mas, quando a editora realiza uma fusão com outros meios de publicação, por exemplo digitais ou mais diversificados o lucro pode ser maior. O mesmo pensamento se aplica para área financeira. Por isso que ele defende que os investidores, ao comprar um portfólio de ações precisam diversificar bem, porque muitas companhias vão ganhar pouco dinheiro na maior parte do tempo.
“Um bom negócio é convexo, mas também existem oportunidade concavas. O negócio que perde mais dinheiro nos EUA é o setor imobiliário, ao mesmo tempo é o setor onde se ganha mais dinheiro”, reflete e acrescenta “Na convexidade você ganha mais dinheiro quando está certo e perde quando está errado”.