Finanças
Ação da Americanas cai mais 38%; na contramão, Magalu sobe 12% e Via, 10%
Em meio a expectativas sobre recuperação judicial, mercado aguarda desdobramentos.
Apesar do respiro do pregão do dia anterior, os efeitos do rombo bilionário na contabilidade da Americanas continua a refletir negativamente nas ações da varejista (AMER3), fecharam em queda de 38% nesta segunda-feira (16) após chegarem a cair mais de 42% na mínima do dia. Na semana passada, os papeis acumularam queda de mais de 70%. O Ibovespa recuava 1,68% em igual período.
Na contramão, os papeis de Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) seguem em alta nesta segunda-feira (16), chegando a subir mais de 15% cada uma na máxima do dia até agora. Nesta segunda, MGLU3 subiu 12% e Via, 10%.
Dívida de R$ 40 bi
Apesar de o juiz Paulo Assed Estefan, da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, ter concedido na sexta-feira (13) proteção à Americanas contra vencimento antecipado de dívidas, dando fôlego para a empresa enfrentar a crise por 30 dias, o mercado ainda analisa com pessimismo os papéis.
Como o trio de acionistas de referência da varejista – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira – indicou injetar ao menos R$ 6 bilhões na companhia, o valor foi considerado baixo por instituições financeiras.
Recuperação judicial à vista?
Já é apontado por analistas do mercado que a Americanas pode vir a fazer pedido de recuperação judicial após fim do prazo da liminar concedida pela 4ª Vara. Advogados do BTG, um dos maiores credores da empresa, entraram com ação para tentar reverter a medida cautelar que dá mais fôlego para a varejista quitar seus débitos.
Segundo carta da Empiricus, “a companhia parece enveredar para o pedido de recuperação judicial, o que retiraria a empresa do Ibovespa e feriria de morte sua relação com bancos. […] Fornecedores já começam a interromper sua relação com a empresa, com medo de não receber. Vai faltar produto. Seca a venda e complica o capital de giro completamente. Além disso, covenants vão pro espaço e bancos secam acesso a capital. Vira um ativo tóxico”.
De acordo com o juiz do caso, eventuais alterações no balanço da varejista decorrentes do anúncio das inconsistências contábeis “poderão repercutir no grau de endividamento da empresa e no capital de giro mínimo (…) acarretando o descumprimento de cláusulas de covenants financeiros culminando no vencimento antecipado de dívidas da ordem de R$ 40 bilhões”.
Para a Genial Investimentos, todos os pontos de valor da Americanas estão indo “ralo abaixo”. Eles destacaram piora na alavancagem financeira, encarecimento do custo de capital, compressão de margens e dúvida sobre crescimento de receita, conforme nota a clientes.
“Essa será mais uma semana turbulenta para os acionistas de Americanas e reiteramos nossa recomendação de ‘não pegar a faca caindo’“, afirmaram.
Eles avaliam que, para ganhar liquidez, além de uma capitalização de acionistas de referência, a varejista poderá colocar à venda dois de seus ativos valiosos para a tese de investimento nas ações sua parceria com a Vibra, Vem Conveniência, e o Hortifruti Natural da Terra.
Para a XP, a Americanas trabalhará em dois caminhos. O primeiro, a negociação de uma injeção de capital com os bancos, que eles estimam entre R$ 10,6 bilhões e R$ 20,6 bilhões.
Outra rota considerada pela XP é a organização dos documentos necessários para pedido de recuperação judicial, “o que pode ser considerada a alternativa mais provável, dado o tamanho da dívida da Americanas e da potencial necessidade de capital, além do número de credores envolvidos”.
As agências de classificação de risco Standard & Poor’s e Fitch cortaram na semana passada as notas de crédito da Americanas e Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu três processos para investigar a varejista. Minoritários também denunciaram Americanas à CVM, pedindo que as apurações englobem a empresa de auditoria PwC, responsável por analisar os balanços contábeis da companhia.
BTG recorre de liminar
No fim de semana, o BTG Pactual recorreu da liminar que protege a Americanas dos credores, segundo documentos vistos pela Reuters. Os advogados do BTG argumentam que a liminar determina ilegalmente o estorno de um pagamento feito pela Americanas ao BTG.
A unit do BTG caía 4,01%, a R$ 21,32, na ponta negativa do Ibovespa. Analistas chamavam a atenção para a exposição do banco e de outras instituições financeiras à Americanas.
Com base em casos anteriores, analistas do JPMorgan estimam que os bancos devem começar a provisionar cerca de 30% da exposição à Americanas, o que pode eventualmente subir a depender do desfecho de eventual pedido de recuperação judicial.
“Embora tivéssemos provisões crescentes no próximo ano para a maioria dos bancos, nossos números ainda não refletem um caso corporativo tão significativo”, afirmaram Domingos Falavina e equipe em relatório a clientes com data de domingo, que não veem grande impacto no nível de capital dos bancos.
“Não foi um bom começo para 2023, mas os bancos podem tentar antecipar as provisões já no quarto trimestre (de 2022) e começar 2023 com uma ficha limpa.”
CEO Interino
A CVM divulgou mais cedo a nomeação oficial de João Guerra Duarte Neto como CEO interino dado a renúncia de Sérgio Rial. A posse se deu no dia 11 de janeiro e João Guerra é atualmente o diretor (não estatutário) de recursos humanos da varejista. O executivo tem ampla trajetória na companhia nas áreas de tecnologia e RH.
Em documento, o conselho de administração da Americanas agradeceu Sergio Rial e André Covre “pela presteza e eficiência de sua atuação”.
*Com informações da Reuters
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