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Alavancagem financeira: 3 pontos que o investidor precisa saber

Ao mesmo tempo em que pode multiplicar seu dinheiro com a operação, o investidor corre o risco de grandes prejuízos; entenda como funciona.

Ibovespa bolsa B3 ações

O termo alavancagem financeira ganhou força nos últimos tempos. Mas o que é operar alavancado? No dicionário, a palavra “alavancar” significa mover ou levantar algo com uma alavanca. No mercado financeiro, a “alavanca” funciona como um crédito que possibilita o investidor negociar mais ativos do que seu dinheiro é capaz de comprar. O objetivo principal é multiplicar os ganhos. Mas como isso é feito? O Investnews conversou com João Paulo Costa, head de renda variável da Easynvest by Nubank, e Renato Breia, sócio-fundador da Nord Research, que falaram sobre a operação e os cuidados que os investidores devem ter ao optar pela modalidade.

O que é alavancagem financeira?

A alavancagem financeira de ações é a mais tradicional entre as modalidades. Vamos aos exemplos. Em uma operação comum de investimento na bolsa de valores, o investidor precisa ter dinheiro disponível na conta da corretora para comprar a ação de uma empresa. Quem tem R$ 1.000 pode adquirir, por exemplo, nove papéis da mineradora Vale (VALE3), supondo que ela esteja precificada na casa dos R$ 109.

Por outro lado, quando uma instituição financeira oferece ao cliente a opção de negociar mais ativos do que seu dinheiro é capaz de comprar, a operação é considerada alavancada. Para isso, os recursos que o investidor tem disponíveis são usados como garantia. “Se a corretora permite que esse mesmo investidor, que tem R$ 1 mil na conta, opere alavancado 20 vezes o valor, por exemplo, significa que ele vai poder comprar R$ 20 mil em ações”, explica João Paulo.

Além do dinheiro que tem na conta, o investidor pode usar ações e títulos públicos já presentes em seu portfólio como garantia. “Neste caso, é feito um deságio (depreciação do valor), que é de 20%, em média. Assim, se esse investidor tivesse os R$ 1 mil, não em dinheiro, mas em ações ou títulos do Tesouro Direto, a quantia daria um poder de compra de R$ 800, que alavancado 20 vezes se tornariam R$ 16 mil”, reitera o especialista.

Renato Breia, da Nord, explica sobre a existência dos ETFs (fundos de investimentos que acompanham a carteira de um índice) alavancados, bem comuns no exterior, que podem se expor duas ou três vezes a algum índice de mercado. Ou seja, se alavancagem é de duas vezes e o índice usado como referência se valorizar 1%, o investidor embolsará 2%. Ao mesmo tempo, se o indicador cair, ele perde o dobro. “É uma modalidade muito usada lá fora como instrumento para as pessoas aumentarem sua exposição, principalmente para quem tem pouco investimento e quer diversificar a carteira”, explica.

A alavancagem também pode ser feita no caso de investimentos em minicontratos de índice, que são contratos de compra e venda que projetam a pontuação do Ibovespa para uma data futura e com um preço já pré-estabelecido, e minicontratos de dólar, que são contratos de compra ou venda da moeda norte-americana em um prazo no futuro, por um preço combinado na hora da negociação.

Regras da alavancagem Financeira

O limite pode variar entre as corretoras, mas, em geral, a alavancagem financeira é de até 20 vezes o dinheiro depositado na conta da corretora ou o valor de ações e títulos públicos em portfólio, mas que pode variar também de acordo com o papel escolhido. Além disso, somente as ações mais líquidas, ou seja, as mais negociadas em bolsa podem ser envolvidas na operação.

Outro ponto é que a alavancagem financeira só ocorre em operações intraday, ou seja, o investidor deve vender os papéis no mesmo dia que comprou. Na prática, ele não se torna titular dessas ações, já que a liquidação – que é a transferência do papel para o novo dono – só ocorre dois dias após a transação. O objetivo da operação, portanto, não é ficar com os papéis na carteira, mas obter lucro com a valorização obtida em um dia.

Segundo o especialista, caso o investidor opere alavancado e não faça a operação intraday, a corretora pode zerar sua posição ao final do dia, para que o cliente não corra o risco de ficar com um patrimônio negativo. “Isso é feito porque se o investidor tem R$ 1 mil e a corretora permitir que ele compre R$ 20 mil em ações sem vendê-las no mesmo dia, ele ficará com um saldo negativo de R$ 19 mil após a liquidação financeira pela bolsa, já que ele só tem R$ 1.000 para pagar”, explicou o especialista.

Qual investidor pode operar alavancado?

Quando o investidor abre conta em uma corretora, ele é obrigado a preencher um questionário, chamado de suitability, com o objetivo de verificar se determinados investimentos são adequados para o seu estilo de vida. A partir das respostas fornecidas, ele é enquadrado em um dos três perfis: conservador, moderado ou agressivo/experiente. Só aqueles considerados agressivos/experientes é que podem operar alavancados. Além disso, o investidor que optar pela modalidade precisa assinar um termo de compra e venda a descoberto, que dará a permissão para iniciar as compras por meio do home broker.

Entretanto, na visão do especialista da Nord, a operação só deveria ser feita por investidores profissionais com, pelo menos, cinco anos de experiência no mercado de renda variável, já que assim, como é possível multiplicar o patrimônio com a operação, o investidor está sujeito a grandes prejuízos. “Todas as operações alavancadas são perigosas. Se o investidor não tem conhecimento sobre o que está fazendo e o mercado cair, ele pode ficar fora do jogo, o que significa perder todo o seu dinheiro e ter de começar do zero”, alertou.

Lembrando que quanto maior a alavancagem, maiores são as chances de ganhar ou perder – a intensidade é a mesma para os dois lados, como o exemplo abaixo.

Compare a simulação de compra de ações em uma operação comum e uma alavancada:

OPERAÇÃO COMUM      
Quantia disponível na conta da corretora Número de ações adquiridas por R$ 100 cada  Lucro obtido caso o papel valorize  1% em um dia Prejuízo obtido caso o papel valorize  1% em um dia
R$ 1 mil 10 R$ 10 -R$ 10
OPERAÇÃO ALAVANCADA      
Alavancagem permitida pela corretora Número de ações adquiridas por R$ 100 cada  Lucro obtido caso o papel valorize 1% em um dia Prejuízo obtido caso o papel valorize 1% em um dia
20 vezes o valor em conta (ou R$ 20 mil) 200 R$ 200 -R$ 200
OPERAÇÃO COMUM      
Quantia disponível na conta da corretora Número de ações adquiridas ao preço de R$ 100 cada  Lucro obtido caso o papel valorize  1% em um dia Prejuízo obtido caso o papel valorize 1% em um dia
R$ 50 mil  500 R$ 500 -R$ 500
OPERAÇÃO ALAVANCADA      
20 vezes o valor em conta (ou R$ 1 milhão) 10.000 R$ 10.000 -R$ 10.000

Além disso, é fundamental que o investidor acompanhe de perto as variações do papel durante o pregão, já que pequenas oscilações podem comprometer seu patrimônio – o ideal é não sair da frente do monitor, pratica comum entre os operadores de day trade. “Se comprou uma ação esperando uma alta de 10%, mas logo no início do pregão o papel passa a registrar quedas seguidas, o investidor já tem a informação suficiente de que deve zerar a operação sem esperar maiores perdas” explicou o especialista da Easynvest by Nubank.

João Paulo Costa pondera que as corretoras podem intervir caso o prejuízo do cliente corresponda a 70% do que ele tem como garantia. Ou seja, se o investidor com apenas R$ 1 mil comprar R$ 20 mil em ações de forma alavancada e os papéis caírem 3,5% – o que representa 70% do seu patrimônio – a instituição poderá zerar a posição.  

Quando a garantia envolve ações, o critério dos 70% também é válido, porém é calculado de acordo com o portfólio do investidor. Se os papéis adquiridos com a operação alavancada registrarem desvalorização e o investidor não transferir o dinheiro no mesmo dia para cobrir o prejuízo, a instituição vende parte das ações para arcar com o valor devido. 

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