Finanças

Ações da Braskem recuam 4,7% um dia após rompimento de parte de mina

Uma das 35 minas que a companhia utilizava para extração de sal-gema, em Maceió, rompeu na tarde de domingo (10).

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As ações da Braskem (BRKM5) fecharam em queda de 4,7% na B3, negociadas a R$ 16,80, um dia após o rompimento de parte da mina 18, uma das 35 que a companhia utilizava para extração de sal-gema, em Maceió. No entanto, não se sabe se ainda pode vir a ter um colapso total da mina e do seu entorno, desocupados desde 29 de novembro.

Apesar de o ocorrido ter sido esperado, as perspectivas para a petroquímica ficam mais nebulosas, aumentando os receios de desembolsos adicionais por parte da Braskem para pagamentos de multas e processos na Justiça.

João Daronco, analista da Suno Research, aponta que até o momento, as cifras despendidas para ressarcimento de parte dos prejuízos causados pela extração de sal-gema não destruiram o valor da Braskem frente a sua geração de caixa, mesmo estas sendo expressivas. No entanto, restam dúvidas se haverá reajustes nessas indenizações e se estas podem vir a aumentar, segundo Daronco.

Unidade da Braskem em Maceió 30/01/2020 REUTERS/Amanda Perobelli

Já um segundo aspecto que pode vir a pesar sobre a companhia é o momento desafiador para o setor onde atua. “Se a empresa tiver de fazer um grande desembolso de caixa, isso tende a fazer algum tipo de pressão no seu endividamento, o que também causa preocupações para os seus investidores.”

Antes do rompimento de parte da mina operada pela Braskem, a Fitch Ratings projetou que a petroquímica teria de desembolsar pelo menos R$ 7,5 bilhões até 2025 – mas isso se novas ações não forem movimentadas na Justiça.

Em 23 de agosto, a agência de risco revisou a perspectiva da Braskem para negativa devido à probabilidade de a alavancagem permanecer elevada (em torno de 12 vezes), por mais tempo do que o esperado. No período de 12 meses encerrado em setembro, a relação dívida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ficou em 14 vezes, ante 5,2 vezes em 2022. 

Já sobre a dificuldade em vender a fatia que a Novonor (ex-Odebrecht) detém da companhia – negócio que poderia tirar a empresa envolvida na Lava Jato de uma recuperação judicial, o analista da Suno pondera que a Adnoc quando fez a proposta já estava ciente do risco e o valor ofertado já ponderava as consequências – “mas claro que pode acontecer uma diminuição na oferta”, aponta o analista.

A estatal dos Emirados Árabes entregou em novembro uma proposta não vinculante pelo controle de Barskem num montante de R$ 10,5 milhões, sendo metade pago à vista. Já o restante seria através da emissão de uma note de 7 anos, em dólares e com juros prefixados.

Caixa da Braskem é essencial para ressarcimentos

Marcelo Tapai, especialista em direito imobiliário, contratual e do consumidor aponta que a saúde financeira da petroquímica é essencial para o ressarcimento das pessoas ou empresas afetadas. Mas caso a Braskem entre em uma recuperação judicial, por exemplo, mesmo quem ganhou a ação na Justiça não terá de quem cobrar.

“A cada novo acontecimento, um novo episódio, maiores os danos, assim como a necessidade de desapropriação das famílias vai aumentando. Com certeza o número de processos de ações judiciais deve aumentar e isso vai impactar o caixa da empresa”, aponta o advogado.

Sinal amarelo para acesso ao mercado de capitais

Na semana passada, a B3 excluiu as ações da Braskem do seu Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). A medida passou a valer na última sexta-feira (8) e foi tomada após o decreto de situação de emergência pela Prefeitura de Maceió por conta da mina 18. 

A medida da bolsa brasileira é uma resposta a eventos ESG relacionados ao ISE.

Porém, segundo a Fitch, caso o número de novas ações judiciais contra a companhia aumentem, isso pode impactar a capacidade da petroquímica em acessar o mercado de capitais, “uma vez que os investidores estão mais restritivos e preocupados com questões ambientais, sociais e governamentais (ESG, na sigla em inglês)”, diz a agência.

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