Finanças

Alta de ações de frigoríficos reflete recuperação do setor, dizem analistas

Empresas caminham para fechar junho em alta na bolsa, mas somente a BRF tem alta acumulada no ano.

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As ações de frigoríficos que fazem parte do Ibovespa caminham para fechar o mês de junho em alta, após uma sequência de pregões positivos para o setor. Especialistas apontam que o movimento reflete uma recuperação da baixa acumulada do setor – que foi impactado no início do ano pelo corte de exportações em vista de doenças identificadas nas proteínas animais.

Victor Bueno, sócio e analista de ações da Nord Research, comenta que nestes últimos dias o que está ocorrendo é, de fato, uma correção das ações de frigoríficos. “Agora que a gente começa… a ver uma retomada das ações dos frigoríficos”, diz. 

Para ele, esse movimento positivo reflete a “melhora generalizada para os ativos de risco da bolsa [de valores]” – por conta da proximidade do ciclo de corte de juros –, a retomada da exportação para a China – que havia barrado os produtos brasileiros em vista da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como doença da “vaca louca” –  e o retorno de investidores ao setor – que ficou “esquecido” no ano passado.

Carne bovina 22/08/2022 REUTERS/Andrew Kelly

Do mesmo modo, Fabiano Vaz, também sócio e analista de ações da Nord Research, aponta que a alta dos frigoríficos está atrelada a um “movimento de recuperação” após o caso da doença da “vaca louca” e da crise aviária. “Agora elas [ações de frigoríficos] começam a se recuperar, deixando essas crises para trás”, diz. Ele ainda adiciona que está havendo uma melhora nos preços das proteínas, mas que ainda estão abaixo do que eram no ano passado.

Já Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, menciona que o ciclo do boi está perto do ponto de virada. “Usualmente, o ciclo é de alternância de dois anos de baixa e dois anos de alta. É de se esperar uma alta no segundo semestre desses ativos”, comenta.

Ele acrescenta que os papéis também seguem reagindo com a notícia de que a China liberou a entrada de carne bovina após caso da doença da “vaca louca”. “A notícia tem alguns dias, mas me parece fazer realmente preço no dia de hoje”, pontuou, em comentário na quinta-feira (29).

Do mesmo modo, Eduardo Rahal e João Abdouni, analistas da Levante Corp, apontam que o setor de proteína animal apresentou margens muito apertadas nos últimos meses, mas que a recuperação agora vem da expectativa de um ponto de virada do ciclo e aumento da produção e exportação

Eles adicionam que o que ajudou a impulsionar ainda mais as ações do setor nesta sessão foi a revisão de estimativas e preços por parte de alguns bancos para as empresas, também em um dia de forte movimento de alta para o mercado local.

Cenário do setor

Em fevereiro, os frigoríficos foram impactados pela suspensão da produção de carne bovina para a China após o relato de um caso da doença da “vaca louca”, mas a produção certificada para embarque ao país asiático antes daquela data continuou sendo exportada, sob o risco de ter a entrada proibida no território chinês, o que acabou acontecendo. 

No início de junho, carregamentos de carne bovina brasileira, estimados em até 70 mil toneladas, ficaram parados nos portos chineses à espera de uma solução para um impasse relacionado ao embargo. Apenas nesta terça-feira (27) parte dos carregamentos começaram a ser liberados.

“Ainda não é uma retomada totalmente normalizada. A gente espera uma normalização a partir do segundo semestre”, diz Bueno, da Nord Research.

Outro problema enfrentado em junho foi a repercussão do caso vírus da influenza aviária de alta patogenicidade que atingiu granjas comerciais. O governo federal abriu crédito extraordinário de R$ 200 milhões em favor do Ministério da Agricultura e Pecuária para o enfrentamento da doença.

Fechamento e noticiário dos frigoríficos 

Marfrig 

A ação da Marfrig (MRFG3) encerrou a sessão desta quinta em alta de 2,59%, cotada a R$ 7,14. Por outro lado, o ativo do frigorífico acumula baixa de 17,82% no ano. Nesta sexta, o papel opera em alta.

Em maio, a companhia divulgou um aumento de capital avaliado em pelo menos R$ 1,5 bilhão, com compromisso do acionista controlador. Na época, a Marfrig também comunicou a sua participação na operação de capitalização da BRF – que foi aprovada preliminarmente pelo seu conselho de administração, envolvendo a emissão de entre 240 milhões e 360 milhões de ações, avaliadas ao preço de R$ 6,25 cada na data.

Já nesta quinta-feira, o Bank of America (BofA) reiterou a posição neutra para a Marfrig. “Estamos cautelosos nas margens da carne bovina nos EUA”, diz o relatório do banco.

BRF 

A ação da BRF (BRFS3) encerrou o pregão de quinta em alta de 3,98%, cotada a R$ 8,63. O ativo do frigorífico acumula alta de 4,59% no ano. O papel sobe novamente nesta sexta.

Em maio, foi divulgado o comunicado que a BRF passou a contar com participação da Marfrig em sua operação de capitalização. Além disso, a saudita Salic também se comprometeu com o investimento. Os valores das aplicações das companhias somados resultaram em de R$ 4,5 bilhões. 

Já em junho, a agência de classificação de risco S&P elevou a perspectiva do rating de crédito da BRF de “estável” para “positiva”. A agência também reafirmou o rating “BB-” da BRF, em escala internacional, após uma revisão da perspectiva do risco soberano do Brasil.

Nesta quinta-feira, o BofA reiterou a posição neutra para a BRF. “Ainda não alterando as estimativas de custos, mas monitorando o tempo”, aponta o relatório do banco.

Minerva

A ação da Minerva (BEEF3) encerrou a última sessão em alta de 2,57%, cotada a R$ 10,38. No entanto, o ativo do frigorífico acumula baixa de 16,8% no ano. A ação sobe de novo nesta sexta.

JBS

A ação da JBS (JBSS3) encerrou esta sessão em alta de 6,67%, cotada a R$ 17,43. Porém, o ativo do frigorífico acumula baixa de 15,99% no ano. 

O Bradesco BBI também elevou a recomendação dos papéis da JBS para “outperform”, com preço-alvo de R$ 30, avaliando que “o pior ficou para trás”. Para os analistas, a companhia deve mostrar recuperação de margem até 2025 entre outros fatores pelas chuvas causadas pelo El Niño em junho, melhorando a oferta de pastagens/grãos e reduzindo custos.

*Com informações da Reuters.

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