Finanças
Após correção do mercado, Ibovespa tem leve queda e dólar chega a R$ 5,90
Varejo decepciona e crise política ainda é protagonista
Após duas quedas consecutivas, o Ibovespa, principal índice da B3, fechou com leve queda de 0,13% aos 77.772 pontos, aparentemente por um movimento de correção dos mercados após dois dias com forte queda. Outro fator que influenciou foi o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell. Ele afirmou hoje cedo que seriam necessárias mais estratégias para tirar os EUA da crise, que hoje acumula quase 20 milhões de desempregados. Com esta incerteza, os índices americanos Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq também caíram.
O dólar fechou em alta de 0,60%, cotado a R$ 5,901. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a R$ 5,937.
Entre as ações mais negociadas do dia caíram: a Petrobras (PETR4) e o Bradesco (BBDC4), 3,03% e 0,88%, respectivamente. E avançaram a Vale (VALE3), com alta de 2,28% e a Via Varejo (VVAR3), que subiu 6,90%.
Por falar em varejo, a queda das vendas do setor no Brasil em março também chamou a atenção dos investidores. O varejo restrito teve recuo de 2,5% das vendas ante fevereiro, menor que a mediana esperada de -4,7% (intervalo de -16% a +0,80%), enquanto as vendas no varejo ampliado caíram 6,3%, também menor que a mediana das projeções, de -14,35%, e do intervalo de -22,5% a -7,8%.
Já o dólar não deu o braço a torcer pelo risco político, segundo operadores de câmbio. Outro fator que influenciaria na desvalorização do real seria a prorrogação das medidas de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Um estudo coordenado pelo economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, estima que uma provável prorrogação das medidas de isolamento pode trazer as despesas extraordinárias para valores acima de R$ 900 bilhões, elevando o déficit nas contas públicas para R$ 1,2 trilhão em 2020, cerca de dez vezes o projetado no início do ano.
Destaques da Bolsa
Entre os destaques positivos do dia estavam: as ações da BRF (BRFS3) que avançaram 12,17%, cotadas a R$22,85. Subiram também os papéis da Klabin (KLBN11), com alta de 7,64%, negociados a R$ 23,25. Ambas companhias são influenciadas pela alta do dólar, além de serem setores resilientes durante a pandemia. Ainda entre as maiores altas estava a Via Varejo (VVAR3), que subiu 6,90%, cotada a R$9,14. A empresa vai na contramão dos resultados do setor.
Entre os destaques negativos caíram: as ações da Embraer (EMBR3), com queda de 8,70%, cotadas a R$ 6,19. A companhia teve forte baixa após ser excluída do índice da MSCI Brazil, que mede o desempenho das companhias de capital aberto, e entra em vigor no começo de junho. E os papéis da IRB Brasil (IRBR3), que recuaram 7,84%, negociados a R$ 7,41 e da Qualicorp (QUAL3), com queda de 5,52%, cotados a R$ 19,70.
Juros disparam
A “dose de realidade” trazida pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ao mercado financeiro global se somou, no Brasil, a mais um dia de ruído político, elevando o prêmio de risco para ativos domésticos e causando a inclinação da curva futura de juros. As preocupações fiscais seguem ainda como pano de fundo, à medida que o projeto Pró-Brasil, que prevê recursos da União, volta à mesa com comentários do vice-presidente Hamilton Mourão.
Ao fim da sessão regular, o contrato do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 subiu de 2,610% ontem (terça, 12) para 2,655% hoje (quarta, 13). O janeiro 2022 avançava de 3,500% para 3,640%. O janeiro 2023 saltava de 4,730% para 4,940%, na máxima do dia. E o janeiro 2027 ia de 7,790% para 7,960%.
A incerteza veio de temores em torno da reabertura econômica nos Estados Unidos e de comentários de Jerome Powell em um webinar no meio da manhã. O dirigente negou adotar juros negativos neste momento nos Estados Unidos, apesar de crescentes rumores e pressões no mercado.
Powell também alertou que a recuperação da economia pode demorar algum tempo. Isso ampliaria os riscos de problemas de liquidez se transformarem em uma crise de solvência. Essa declaração em específico foi lida por analistas do banco holandês como uma “dose de realidade” ao mercado.
Mas não apenas fatores externos que conduziram à inclinação da curva de juros hoje. Nem mesmo a divulgação, à tarde, dos exames do presidente Jair Bolsonaro para covid-19, que deram negativo, desanuviou o ambiente político.
A expectativa em torno da divulgação ou não do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, quando Bolsonaro teria pressionado o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro a trocar o comando da Polícia Federal no Rio de Janeiro, segue fazendo preço nos ativos domésticos.