Finanças
Biden faz 100 dias de gestão com bolsas superando era Trump no mesmo período
S&P e Dow Jones tiveram avanço maior no começo da gestão democrata; Nasdaq é exceção.
O governo de Joe Biden completa 100 dias nesta sexta-feira (30) com otimismo no mercado financeiro dos Estados Unidos. Nesse início de mandato, os principais índices de Wall Street, S&P 500 e Dow Jones, acumulam um avanço maior que o desempenho do governo de Donald Trump no mesmo período. Para especialistas ouvidos pelo InvestNews, mais que as medidas econômicas adotadas pelos dois presidentes, a diferença no avanço dos mercados se dá muito mais pelas perspectivas diante do cenário que cada governante encontrou ao assumir o cargo.
Nos primeiros 100 dias do governo Biden, o S&P 500 subiu perto de 10,8%. O índice é considerado o principal indicador de Wall Street, reunindo as 500 maiores empresas com ações negociadas na bolsa dos EUA. No mesmo período do governo Trump, em 2017, a alta foi de 5,3%.
O Dow Jones, índice das maiores empresas da indústria, também subiu mais com Biden. A alta foi de cerca de 10,1% nos primeiros 100 dias do presidente democrata. Com Trump, o avanço foi de 6,1%.
Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, vê dois motivos para esse avanço maior dos principais índices no começo do governo Biden. Um é a base deprimida do ano passado, ou seja, 2020 foi muito ruim em diversos aspectos com pandemia da covid-19, aponta.
“A renda variável, dadas as taxas de juros globais todas muito baixas, se tornou a última grande alternativa de investimento. E, quando você entra com o governo Biden falando para colocar mais dinheiro na economia e a vacina junto, houve um impulso extra”, complementa Vieira.
Comparando com o início do governo Trump, ele avalia então que a grande diferença é a perspectiva de recuperação. “Lá atrás (no começo do governo Trump) havia um cenário normal, com um presidente prometendo alguma coisa. Agora, não. Está vindo de um cenário ruim, com a perspectiva de recuperação”, diz Vieira.
Da mesma maneira, Rodrigo Franchini, sócio e head de produtos da Monte Bravo Investimentos, também comenta as expectativas de melhora como impulso para as bolsas neste início de 2021 (e como Biden reforça esse sentimento).
“O mercado americano está apostando numa retomada econômica muito forte. Muito por conta do que já foi feito no ano passado, que foi muito significativo, mas também pelas propostas do Biden para 2021 – que são audaciosas, mas factíveis. Tanto que estão sendo discutidas”, afirma Franchini.
Nasdaq sobe mais com Trump
Se S&P 500 e Dow Jones apontam para um mercado mais animado com Biden do que com Trump no início de governo, o índice que reúne as principais ações de tecnologia, o Nasdaq, vai na direção contrária. Enquanto nos primeiros 100 dias do governo democrata a alta ficou perto de 6,7%, no período inicial republicano foi de 9,1%.
Franchini analisa que, “quando você olha a economia especulativa, claramente tem um movimento de setores que sofreram muito em 2020, como energia, indústria, materiais, bancos e financeiras de uma maneira geral”. “Esses setores são os mais demandados agora em 2021, com altas bem expressivas. Tanto que, se você olhar os 100 primeiros dias de Biden, você vai ver que Dow Jones está muito próximo do S&P 500 por exemplo, e acima do Nasdaq”, comenta Franchini.
Já Vieira credita o desempenho inferior do Nasdaq com Biden à discussão sobre aumento de impostos iniciada pelo atual presidente. “Os impostos vão atingir, muito provavelmente, mais o setor de tecnologia. Dentro desse cenário, se vê que o Nasdaq sofreu mais por ser o setor que, muito provavelmente, é um dos alvos de taxação maior”, comenta o economista.
Além das diferenças entre os índices, as comparações também mostram que os mercados têm mostrado mais volatilidade durante o início do governo Biden do que se via no começo do mandato de Trump.
Para os especialistas, o sobe e desce está relacionado ao momento atípico da pandemia e ao avanço do processo de vacinação. “Em janeiro, o processo vacinal ainda estava pegando ímpeto. Do momento que engatou, aí sim, trouxe um ânimo grande. Esse processo de imunização avançada, a reabertura econômica, isso faz muita diferença”, diz Vieira.
Mais semelhanças ou mais diferenças?
Comparando o começo dos dois governos, os especialistas comentam que, apesar dos cenários bem diferentes (em 2017, o governo Obama se encerrou com a economia dos EUA num bom ritmo de crescimento, enquanto 2020 foi marcado pela crise da pandemia), é possível notar um ponto em comum nas medidas econômicas adotadas por Trump e Biden: o foco na questão fiscal.
Biden marcou seu início de mandato com a aprovação dos pacotes trilionários de estímulo à economia para combater a crise da pandemia. Eles incluem desde ajuda aos americanos atingidos pela crise como investimentos em infraestrutura. Os estímulos já estavam em discussão desde o governo anterior. O novo presidente também elevou impostos – o que já era esperado desde a campanha eleitoral e vai na direção contrária de medidas adotadas por Trump.
“Esse, provavelmente, seja o ponto que diferencia os dois eventos. O principal ponto de semelhança é o gasto fiscal e a diferença é que um prometeu cortar e o outro, subir impostos”, resume Vieira.
Já Franchini comenta que Biden adota um direcionamento “totalmente contrário ao movimento que Trump fez no início do mandato”. “Ele saía de uma economia de manutenção expansionista interessante que o Obama colocou. Ele deu uma estimulada diminuindo impostos, e não com medidas fiscais na ponta para gerar demanda. E Biden fez o contrário. Até porque você saía de uma crise inédita no mundo, dessa magnitude.”
Força política
Franchini comenta ainda que a força política e Biden tem sido crucial para que essas medidas sejam colocadas em marcha. “Quando começou o ano, Biden encontrou imagem e política favorável, porque ele foi eleito e tem um percentual grande de aprovação. Então, ele usa esse capital político nos primeiros meses do ano, e isso é natural”, afirma Franchini.
Mais da metade dos norte-americanos aprovou a gestão de Joe Biden após os quase 100 dias no cargo, mostrou uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada na terça-feira (27). A pesquisa aponta que 55% aprovavam o desempenho de Biden no posto, 40% o desaprovam e o restante não tem certeza.
De acordo com a Reuters, Biden recebeu a avaliação mais alta pela forma como tem enfrentado a pandemia, com 65% de aprovação. Para 52% dos norte-americanos, o presidente tem desempenho positivo na economia, e 53% disseram o mesmo sobre seu impacto nos empregos. Nos dois casos, alguns pontos percentuais acima das avaliações de Trump nos quesitos emprego e economia em seus últimos meses na função.
“Geralmente, se você puxar grandes mudanças econômicas, monetárias e fiscais nos países, essa mudança ocorre nos primeiros 18 primeiros meses de mandato”, comenta Franchini. “E o Biden, com esse poder que ele tem de boa imagem por enquanto, fez uso disso. Ele colocou o pacote trilionário que o próprio Trump queria que fosse aprovado no ano passado e não foi. Então, você já vinha de um economia que demonstrava um crescimento, e acelera mais ainda”, analisa Franchini.