Finanças
Bitcoin caminha para mudar de ativo de risco para ‘ouro digital’, diz Ulrich
Economista vê tendência da criptomoeda passar a ser vista como ‘proteção’.
Se antes o bitcoin parecia “descorrelacionado” do mercado – ou seja, via seu valor oscilando sem razão aparente no cenário econômico, por exemplo -, agora seu conceito no mercado se aproxima cada vez mais ao de ativos considerados de risco. Porém, a tendência é que isso se inverta até a moeda se tornar um “refúgio de segurança” para os investidores, numa espécie de ouro digital.
Quem faz essa afirmação é o especialista Fernando Ulrich, economista da Liberta Investimentos. Em entrevista exclusiva ao InvestNews, ele atribui a correlação entre a cotação do bitcoin e ativos de risco como ações ao “amadurecimento que houve nos últimos anos”. “Hoje nós já temos contratos futuros de bitcoin, ETF, vários fundos alocando. Eu diria que o mercado internacional já está investido e pelo menos alguma alocação já tem nesse ativo”, diz.
“Talvez por esse fato que eu mencionei, a gente tem visto uma correlação bastante positiva com o mercado de ações. Ativos de risco. Quando há uma corrida para a segurança, caem ações, e criptos caíram da mesma forma. E o contrário também”, descreve Ulrich sobre o cenário atual do mercado, comentando em seguida para as perspectivas de mudança dessa tendência.
“Quando a gente olha para o bitcoin, ele tomando cada vez mais o lugar de um ativo de proteção, ou sendo percebido como tal – ainda não é, mas pode se tornar -, ele tende a performar mais como um ativo do tipo ouro, que é realmente um ativo de proteção”, copara Ulrich.
“O ouro é até relativamente chato, você não vê nenhuma volatilidade maior, nem forte apreciação e nem quedas bruscas. Mas ele vai se valorizando lentamente e segue como esse refúgio de proteção. O bitcoin pode, ao longo do tempo, também ser encarado dessa forma, e aí terá uma correlação não tão positiva com ativos de risco.”
Ulrich comenta que a consolidação do bitcoin no mercado passa inclusive pela segurança do ativo – ainda que isso ainda gere dúvidas entre muitos investidores.
“Como eu comprovo a escassez do bitcoin? Para entender isso, você precisa ter um mínimo de conhecimento de tecnologia, do sistema. Saber como visualizar o blockchain do bitcoin, que é o grande livro contábil em que estão registradas todas as transações. E aí você vai percebendo que, opa, realmente, ele não pode ser replicado e aqui estão todos os bitcoins que foram criados”, explica. “E não há nenhuma forma de burlar a regra de criação de novos bitcoins e nem de roubar bitcoins de um usuário, segundo o que está registrado na rede.”
Outras criptomoedas também vão ‘virar ouro’?
Ulrich não acredita que outras moedas caminham para se tornar ativos “de proteção” como o bitcoin. “Para mim, as outras são muito mais especulativas. E eu, cada vez mais, tenho separado bitcoin de um lado e todo o resto do outro. Nem acho que o restante compete com o bitcoin no propósito de ser ouro digital ou dinheiro para internet.”
“Pelo propósito de ser ouro digital, dinheiro da internet, para mim o bitcoin está sozinho. Pela simples questão que é o ativo mais imutável de todos. Não pode ser alterado”, afirma o economista.
“A gente vê o ethereum, por exemplo, que é a segunda maior rede por valor de mercado e por adoção. Ele passa por crises existenciais, ele tem alteração de regras, já teve inflação, agora estão ao contrário, estão até queimando para diminuir a oferta monetária. Não digo que isso está errado ou correto. Está diferente. E, para ser o ouro digital, isso, na minha avaliação, não serve”, compara.
Bitcoin caindo: por quê?
Em 2022, o bitcoin já perdeu mais de 20% de seu valor em reais. Apesar de o recuo estar preocupando alguns investidores, Ulrich aponta o momento atual como “janela de oportunidade” para continuar investindo, com foco no longo prazo.
“Eu entendo que quem já se interessou, já estudou, entende do potencial, já conhece um pouco mais a tese, essa é uma janela de oportunidade. Claro que não dá para dizer que não vai cair mais um pouco, talvez corrija mais 10%, mais 20%, eu não sei. Especialmente no curto prazo, é imprevisível. Mas para quem mira o longo prazo, entende a tecnologia e também está convicto da tese que é um novo ativo e que é uma tecnologia que veio para ficar, é um bom momento para começar a entrar.”
Sobre os motivos da queda recente, Ulrich aponta “alguns fatores”. “Alguns mais técnicos do próprio mercado de criptoativos, por exemplo: o nível de alavancagem vinha bem elevado nos últimos meses, aqueles apostando na alta. E isso é receita para vir uma correção forte, sempre”.
“A segunda parte dessa queda tem a ver com cenário macro. Vimos Nasdaq, S&P 500 desabando nas últimas semanas por conta da política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), o provável fim da liquidez. Nos últimos 18 meses foi liquidez sem fim, agora isso parece que vai acabar e pode vir o efeito contrário. O Fed começar a tirar liquidez a partir de março e abril”, acrescenta o especialista.