Finanças
Na pandemia, mais de 120 empresas adiaram os balanços do 1º tri
Excluindo os bancos, 1 em cada 3 companhias listadas na B3 que divulgaram seus resultados tiveram prejuízo entre janeiro e março.
Com a pandemia da Covid-19, muitas empresas viram seus balanços comprometidos e pediram para adiar a divulgação aos investidores. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já alterou pelo menos três vezes a data de entrega dos balanços para o primeiro trimestre de 2020. O calendário estabelecido segundo o artigo 3º da Instrução CVM 608 mudou as datas de entrega de acordo com o exercício social das companhias.
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Com a nova atualização, todas as companhias de capital aberto terão até o último dia de junho para divulgar os resultados do primeiro trimestre deste ano. Contudo, até esta segunda-feira (1), 128 empresas de capital aberto não haviam divulgado seus balanços.
Ainda segundo os departamentos de relações com Investidores de cada companhia, apenas 13 das 128 já têm data certa para publicar seus balanços este mês.
Segundo um levantamento da Sabe Invest, o problema não é apenas trimestral. Ainda há 26 companhias que também não apresentaram o balanço anual de resultados de 2019. “Para quem não divulgou o balanço anual, não faz sentido divulgar o trimestral. Isso deixou o calendário confuso”, afirma Luiz Guilherme Dias, CEO da Sabe Invest.
Veja abaixo algumas das principais empresas que prorrogaram a divulgação dos balanços para o prazo de 30 de junho:
- BR Malls (BRML3)
- Linx (LINX3)
- Positivo (POSI3)
- BR Distribuidora (BRDT3)
- OI (OIBR3)
- Engie (EGIE3)
- CVC (CVCB3)
- Ecorodovias (ECOR3)
- Equatorial (EQTL3)
Entre as empresas que deixaram a entrega para depois e devem extrapolar o prazo está a CVC (CVCB3). A companhia divulgou recentemente em fato relevante que apresentaria seu balanço do 1º trimestre até 31 de julho, infringindo as normativas da CVM. “Muitas companhias se deram mal na pandemia, então hesitam em mostrar os números ao mercado. Nas últimas semanas, teremos na lista empresas problemáticas e confusas”, afirma Dias.
Se apenas 13 das 128 empresas já têm data marcada para os resultados, o que ocorre com as outras? Segundo a instrução Nº 608 da CVM, as empresas que não entregarem seus balanços em dia estarão sujeitas a multa diária a partir de R$ 500, que pode chegar até R$ 10 mil. Se uma empresa estiver em falta com o balanço do 1º trimestre, pode ainda entregar primeiro o do 2º trimestre (até 14 de agosto) e, na sequência, o balanço atrasado. Caso não entregue nenhum dos dois, será multada por ambos.
1 em cada 3 tiveram prejuízo
Até o dia 30 de maio, 231 balanços foram divulgados. Destes, 21 eram bancos. Entre as 210 companhias de capital aberto que apresentaram resultados, 68 tiveram prejuízo no 1º trimestre de 2020, que totalizou R$ 87,4 bilhões. Ou seja, uma em cada 3 empresas que entregaram os balanços, excluindo os bancos, fecharam o período no vermelho.
A somatória dos resultados do 1º trimestre das 210 empresas listadas na bolsa representaram um prejuízo de R$ 67,59 bilhões, um resultado 482% pior se comparado ao 1º trimestre de 2020, quando a somatória dos balanços equivalia a um lucro de R$ 17,6 bilhões.
Os maiores lucros
A companhia com maior lucro neste trimestre, segundo levantamento da Sabe Invest, foi a Telefônica Brasil (VIVT4), que seria também a líder do setor de telefonia móvel. No 1º trimestre de 2020, a companhia reportou lucro líquido de R$ 1,153 bilhão, ocupando a liderança dos balanços.
Segundo Dias, a Telefônica na liderança é fruto de que grandes companhias tiveram fortes perdas como resultado da pandemia. É o caso da Petrobras (PETR4; PETR3) e a Vale (VALE3) que amarguraram perdas. “A Petrobras teve prejuízo e a Vale não apresentou lucro expressivo, mas isso não significa que a Telefônica esteja muito bem. Ela é apenas a número 1 no ranking do primeiro trimestre”, diz Dias.
A Petrobras, por exemplo, foi impactada pelo choque de petróleo e a queda dos preços internacionais, enquanto a Telefônica se beneficiou fortemente durante a pandemia, já que mais pessoas em home office passaram a usufruir do serviço de internet banda larga. No primeiro trimestre de 2019, por exemplo, a Telefônica ocupava a 6ª posição no ranking, com um lucro líquido de R$ 1,3 bilhão.
Ainda entre os maiores lucros do trimestre está a Ambev (ABEV3), com um resultado positivo de R$ 1,211 bilhões, mas 59% menor que no 1º trimestre de 2019. Segundo Dias, a empresa que teria uma caixa sólido vem sofrendo há um tempo com as mudanças do mercado, nas quais o consumidor compra menos cerveja, especialmente na pandemia. O volume de vendas de cerveja no Brasil caiu 11,5% se comparado ao primeiro trimestre de 2019.
Isso teria impactado o lucro da companhia. “Apesar de tudo, a Ambev é uma empresa bem administrada, que continua gigante, mas precisará se adaptar ao novo mercado e à entrada de concorrentes”.
O terceiro melhor resultado do 1º trimestre nesta amostra foi da B3 (B3SA3), a bolsa brasileira, que cresceu 69% e teve lucro líquido de R$ 1,02 bilhão. Para Dias, é inevitável o lucro da bolsa, apesar da pandemia, devido ao monopólio privado da companhia para corretoras e investidores. “Há algumas semanas, o mercado falou que uma nova bolsa brasileira pode entrar no Brasil, mas isso não deve ocorrer antes do fim de 2021”, afirma.
Na 4ª posição está a Itaúsa (ITSA4), holding dona do Banco Itaú, que reúne também grandes empresas como Duratex, Alpargatas, NTS e Itaútec. O lucro da holding caiu 59% neste trimestre e foi de R$ 1,012 bilhão.
Os maiores prejuízos
A Petrobras (PETR4; PETR3), que havia apresentado o maior lucro no primeiro trimestre de 2019, se tornou a companhia com maior prejuízo no mesmo período em 2020, com resultado 1,304% pior na comparação anual. Segundo a Sabe Invest, um dos motivos seria a queda abrupta do petróleo, motivada por conflitos da Opep. “A Petrobras enfrenta questões de dívida e está tentando liquidar negócios para fazer caixa. O prejuízo não está relacionado ao ‘core business’ e a situação deve melhorar no 2º trimestre”, acredita. A companhia teve prejuízo de R$ 48,5 bilhões para este trimestre, comparado com um lucro de R$ 4 bilhões no mesmo período em 2019.
Ainda entre os maiores prejuízos surpreendem companhias consideradas resilientes a crise. É o caso de Suzano, Suzano Hold e Klabin.
A Suzano (SUZB3) teve prejuízo de R$ 13,4 bilhões, uma queda de 994%, comparada com o 1º trimestre de 2019, quando lucrou R$ 1,2 bilhões. Além de investimentos na companhia, o prejuízo segundo a Sabe Invest seria decorrente da variação cambial sobre a dívida e no resultado de operações com derivativos. A Suzano Hold (NEMO3) também foi afetada com um prejuízo de R$ 3,7 bilhões, recuando 991% com o mesmo período do ano passado.
Outra das resilientes que desapontou foi a Klabin (KLBN4), com prejuízo de R$ 3,2 bilhão, caindo 1479%. A companhia também foi impactada pelo efeito negativo da variação cambial na dívida da empresa.
Os maiores prejuízos também ocorreram além da pandemia, algumas companhias amarguraram perdas de uma situação financeira dos setores que não andava bem há muito tempo. É o caso da Azul (AZUL4), do setor aéreo, que teve prejuízo de R$ 6,1 bilhões caindo 4567% comparada a 2019. E os prejuízos da JBS (JBS3) que somaram R$ 5,9 bilhões e da CSN (CSNA3) de R$ 1,4 bilhões.
Bancos lucraram menos
Entre os 21 bancos que divulgaram seus resultados no primeiro trimestre, ahouve uma queda de 34% nos lucros, somando R$ 14,5 bilhões.
Entre os maiores lucros, o Santander Brasil (SANB11), frente aos concorrentes Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4), que lucraram menos, R$ 3,4 bilhões e R$ 3,7 bilhões respectivamente, afetados pelo aumento das provisões contra calotes, diante do alto risco de inadimplência previsto para os próximos meses. Já o Santander lucrou R$ 3,8 bilhões, um aumento de 11%. Ainda entre os bancos, o Banco do Brasil (BBAS3) lucrou R$ 3,2 bilhões.
O BTG Pactual (BPAC11) teve prejuízo de R$ 908 milhões. Na lista dos maiores prejuízos, também estão o banco Pine (PINE4) e Mercantil Invest (BMIN3; BMIN4).