Finanças
Criptoativos vão passar por ‘limpeza’ a partir deste ano, vê BTG Pactual
No ano passado, o bitcoin derreteu 64%.
A indústria global de criptoativos deve passar por uma depuração a partir deste ano após a forte turbulência de 2022, avalia o chefe da área de ativos digitais do BTG Pactual, André Portilho, que também vê o cenário atual mais benigno a ativos de risco também favorecendo criptomoedas.
“As empresas sem um modelo de negócios sustentável, que fizeram besteiras, que não trataram bem seus clientes, que alavancaram demais, essas vão ficar pelo caminho”, disse o executivo do maior banco de investimentos da América Latina à Reuters.
“Nada do que aconteceu com cripto já não aconteceu em outras indústrias no passado…Para a frente, a tendência é limpar a indústria, ter mais regulação e ter empresas mais estruturadas entrando nesse mercado”, avalia.
Segundo ele, as empresas que vão conseguir se manter no mercado serão as com uma eficiente gestão de risco e que oferecem segurança e mecanismos robustos de governança.
Em 2022, o bitcoin derreteu 64%, distanciando-se da máxima de US$ 69 mil registrada em 2021, em meio a um ambiente de aumento de juros, temores de recessão e uma série de colapsos de bancos e outras empresas de criptomoedas que incluíram a gigante FTX.
“Isso talvez tenha sido o primeiro grande movimento do mercado de cripto que foi muito mais influenciado por fatores macro (inflação e aumento de juros dos principais bancos centrais do mundo) do que por fatores específicos da indústria mesmo”, avalia Portilho.
Esses fatores, segundo ele, foram os gatilhos para o que se observou no ano passado, após a maior expansão na indústria de cripto, que provocou problemas inerentes a qualquer tipo de bolha financeira, como a má alocação de capital. As empresas que não estavam bem estruturadas, disse, começaram a ter problemas. “Quando a maré baixa, você vê quem está nadando pelado.”
Portilho avalia que o pior do movimento de queda de criptomoedas já passou, e cita a maior visibilidade sobre o ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos como um componente para o clima mais favorável a ativos de risco. Mas ele ponderou que a chance de recessão ainda é uma incerteza relevante.
“Não dá para saber ainda se vai vir uma recessão, quão forte vai ser agora. O que me parece é que o pior desse movimento já foi… O mercado está mais leve.”
Apenas neste ano, o bitcoin já acumula alta ao redor de 40%, negociado em torno de US$ 23.400.
Na quarta-feira (1), o banco central norte-americano reduziu o ritmo de altas da taxa de juros, que agora situa-se na faixa entre 4,50% e 4,75%. Mas continuou a prometer “aumentos contínuos” nos custos de empréstimos como parte de sua batalha ainda não resolvida contra a inflação.
Cenário brasileiro
O executivo do BTG Pactual não vê os eventos que ocorreram no exterior acontecendo no Brasil, uma vez que foram desencadeados por instrumentos de empréstimos e derivativos de cripto que não existiam no país, onde se negocia primordialmente cripto à vista. “Esse tipo de problema não vai ter.”
Entre os episódios que estremeceram o mercado nem 2022, está a derrocada do fundo de hedge voltado a criptomoedas Three Arrows Capital (3AC), que sofreu com o colapso da rede Terra e deixou de pagar empréstimos a corretoras como a Voyager Digital.
Também a Celsius entrou com pedido de recuperação judicial após congelar saques e transferências por causa de condições “extremas” de mercado, assim como outros bancos de criptomoedas, como o Vauld e o Hodlnaut, também suspenderam saques.
A FTX foi o caso mais emblemático dado o tamanho da exchange, que entrou com pedido de recuperação judicial em novembro, com seu fundador sendo acusado de fraude. Sam Bankman-Fried é acusado de usar secretamente US$ 10 bilhões em dinheiro de clientes para financiar sua própria empresa de corretagem, a Alameda Research.
Portilho afirmou, porém, que podem haver problemas relacionados ao momento de menor liquidez no mercado, com empresas do setor no Brasil não conseguindo se sustentar porque as receitas delas caíram muito. “Isso pode acontecer, mas é um problema completamente diferente do que se viu lá fora.”
Em 2022, no Brasil, além do BTG, que lançou sua plataforma de investimentos em criptoativos Mynt, grupos como Itaú Unibanco, XP e Nubank também se movimentaram, passando a oferecer serviços como negociação de criptomoedas, “tokenização”, custódia de criptoativos, entre outros.
Em um momento no qual uma série de empresas de tecnologia vem anunciado milhares de demissões, Portilho afirmou que a área de ativos digitais do BTG não precisa fazer nenhum ajuste significativo atualmente. “Pelo contrário, estamos avaliando oportunidades para coisas que sejam boas para o nosso negócio aumentar.”
Ele declinou em detalhar sobre eventuais aquisições de ativos. “A questão toda é quando acontece a oportunidade. E nesses momentos que o mercado está pior nós ficamos mais atentos.”
O executivo afirmou que a Mynt deve incluir novas moedas digitais para negociação ainda neste mês e que espera lançar outros produtos até o final do trimestre. Atualmente, a plataforma opera com 14 criptoativos entre os quais bitcoin, ether, solana e polkadot.
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