Finanças

Ibovespa volta aos 100 mil pontos com risco fiscal e pressionado por Petrobras

Cenário político e bagunça no Ministério da Economia voltou a incomodar o mercado financeiro

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A Bolsa fechou aos 100 mil pontos nesta quinta-feira (13), invertendo o sinal com o exterior positivo. O Ibovespa, principal índice da B3, fechou em queda de 1,62% aos 100.460 pontos.

Pesou no índice a preocupação dos investidores com o risco fiscal brasileiro, especialmente após a saída dos secretários Salim Mattar e Paulo Uebel. As tentativas do ministro Paulo Guedes de flexibilizar o teto de gastos até 2021 complicam ainda mais o cenário. Há um receio de que a agenda liberal perca força no governo Bolsonaro.

Puxou também o Ibovespa para a baixa o desempenho das ações da Petrobras que seguiram a queda no preço do petróleo. Os contratos futuros da commoditie recuaram acima de 1% após a Agência Internacional de Energia (AIE) reduzir novamente as previsões para a demanda de petróleo em 2020 e 2021.

O barril WTI para setembro recuou 1,01%, cotado a US$ 42,24. Já o barril Brent para outubro caiu 1,03%, a US$ 44,96 o barril. As ações preferenciais da Petrobras (PETR4) fecharam em queda de 2,73%, enquanto as ordinárias (PETR3) caíram 2,95%.

Outra ação que desvalorizou junto foi a Vale (VALE3) que recuou 1,87%.

No Brasil, outro dado que surpreendeu foi a pesquisa de serviços, com avanço de 5,0% em junho, na margem, acima da mediana estimada de 4,35%. Com o setor de serviços melhor, diminui a necessidade de corte de juro e podem ate bater na inflação mais à frente.

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O cenário externo foi na contramão do índice, com dados importantes sobre os pedidos de seguro-desemprego nos EUA que somaram 963 mil, abaixo da previsão dos analistas de 1,1 milhão. Esta é a primeira vez desde março que o dado fixa abaixo de 1 milhão mostrando uma leve recuperação econômica.

Contudo, a cautela permaneceu na economia americana, especialmente porque as negociações no Congresso sobre os estímulos fiscais parecem ainda estar longe de um consenso.

Com isso as bolsas americanas fecharam sem rumo definido. Enquanto Dow Jones desvalorizou 0,29%, o S&P 500 caiu 0,20%. Já o índice Nasdaq fechou o dia em alta de 0,27%.

O dólar também teve um dia de queda. O dólar comercial encerrou esta quinta-feira com desvalorização de 1,56%, cotado a R$ 5,368. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a R$ 5,4103.

O dólar recuou na comparação com outras moedas fortes. Na visão de analistas, o impasse entre republicanos e democratas em torno de um novo pacote fiscal nos Estados Unidos reforça a percepção de que a Europa sairá antes da crise, o que fortalece as moedas do continente.

Além de gerar cautela no mercado acionário, a falta de consenso político nos EUA por mais estímulos fiscais pressiona a moeda americana. Para os profissionais, a Europa, que aprovou recentemente um pacote fiscal de 750 bilhões de euros, deve sair antes da crise.

Destaques da Bolsa

A maior alta do dia foi a Via Varejo (VVAR3) que avançou 3,41%. As ações dispararam após a divulgação do balanço revelar o sucesso na estratégia de vendas online. Outras companhias do setor também aproveitaram os dados positivos do serviço para impulsionar os ganhos. As ações da Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, subiram 0,49%, e os papéis da B2W (BTOW3) fecharam em alta de 1,45%.

Para Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos o crescimento do e-commerce da Via Varejo chama a atenção do investidor, especialmente porque a alta consolidada das vendas online e o marketplace é de 280%, um crescimento bastante expressivo. “A Via Varejo está conseguindo se posicionar neste processo de turn around, muito por causa do e-commerce mas também com um ebitda crescente”, avalia.

Ainda entre os destaques positivos estavam Klabin (KLBN11) e Hapvida (HAPV3) que avançaram 2,98% e 2,12%, respectivamente.

No lado negativo do Ibovespa, a BRF (BRFS3) caiu 7,80%, repercutindo o balanço do dia anterior e temores sobre a exportação de frango após a China ter encontrado sinais de coronavírus em asas de frango.

Entre os destaques negativos também estava a BR Malls (BRML3) que caiu 7,74%. E a Eletrobras, com suas ações ordinárias (ELET3) fechando em queda de 6,94%, enquanto as preferenciais (ELET6) recuaram 5,38%.

No radar do mercado corporativo também estavam os papéis da Marfrig (MRFG3) que dispararam com a divulgação dos resultados da companhia ontem, mas nesta quinta limitaram seus ganhos fechando em alta de apenas 0,41%.

A companhia teve um lucro líquido de R$ 1,59 bilhão no segundo trimestre de 2020, com alta de 1,738% comparado ao mesmo período do ano passado. A alta foi relacionada a um melhor desempenho operacional além do aumento da demanda de carne na China.

“Sem dúvida a Marfrig é outro resultado sensacional em função da operação. O setor de proteína animal, com carne bovina e suína tem se recuperado rapidamente graças a China. O Brasil virou o maior exportador do mundo e a China é o maior importador de carne”, explica Bevilacqua.

Além da alta demanda na exportação, ele aponta a Marfrig como uma empresa resiliente e dolarizada que conseguiu se recuperar no meio da pandemia e após o surto da peste suína em 2019.

Demonstrações financeiras

Atingida em cheio pela pandemia do coronavírus, a companhia aérea Azul (AZUL4) reportou um prejuízo líquido de R$ 2,9 bilhões no segundo trimestre de 2020, contra um lucro líquido de R$ 351,6 milhões em igual trimestre de 2019.

A Eletrobras (ELET3) teve lucro líquido de R$ 4,597 bilhões no segundo trimestre, queda de 17% na comparação com os R$ 5,561 bilhões apurados no mesmo intervalo de 2019. A receita operacional líquida da estatal foi de R$ 11,098 bilhões no segundo trimestre, expansão de 68% em um ano.

A Via Varejo (VVAR3) fechou o segundo trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 65 milhões. O canal online representou 70% das vendas da Via Varejo no trimestre. Em relação ao segundo trimestre de 2019, a alta é de 51,5 pontos porcentuais.

Bolsas americanas

As bolsas de Nova York fecharam sem direção única nesta quinta em meio ao impasse nas negociações entre o governo americano e lideranças oposicionistas no Congresso a respeito de uma nova rodada de estímulos fiscais. A notícia de que os pedidos por auxílio-desemprego nos Estados Unidos ficaram abaixo de 1 milhão pela primeira vez desde março chegaram a fornecer alívio pontual aos negócios, mas a cautela acabou prevalecendo.

O índice Dow Jones encerrou em baixa de 0,29%, a 27.896,72 pontos. O S&P 500, que se aproximou da máxima intraday histórica, de 3.393,52 pontos, perdeu força ao longo do pregão e terminou com desvalorização de 0,20%, a 3.373,43 pontos. O Nasdaq avançou 0,27%, a 11.042,50 pontos, sustentado pela forte alta dos papeis da Apple (+1,77%) e do Facebook (+0,54%).

Pela manhã, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que processou 963 mil solicitações de auxílio-desemprego na semana encerrada em 8 de agosto, uma queda de 228 mil em relação aos sete dias anteriores. O indicador não ficava abaixo de 1 milhão desde março, quando os efeitos mais agudos da pandemia começavam a ser sentidos.

Para o analista Chris Rupkey, do MUFG, o resultado sugere que o pior já passou, embora a crise ainda seja grave. “Ainda há milhões sem trabalho em uma escala que supera qualquer outra recessão na história econômica moderna, mas pelo menos o país superou os dias mais sombrios para esta recessão, que começou quando a economia caiu pela primeira vez em março”, analisa, em relatório.

Apesar disso, investidores seguem apreensivos por conta da falta de entendimento em Washington quanto ao novo pacote fiscal. Em entrevista coletiva, Pelosi afirmou que não sabe quando retomará as negociações com a Casa Branca. Democratas querem um pacote mais robusto do que o proposto pelos republicanos, com valor mínimo US$ 2 trilhões. A legenda governista, no entanto, tem sido firme na oposição ao repasse de recursos para estados e municípios.

Também no radar está a escalada das tensões entre EUA e China. Nesta tarde, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou hoje a designação do Instituto Confúcio como uma missão estrangeira do Partido Comunista chinês. Mais cedo, o diretor do Conselho Econômico da Casa Branca havia chamado o país asiático de uma “força subversiva”.

*Com Estadão Conteúdo

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