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Milhões de bitcoins podem estar perdidos para sempre; veja como isso afeta o preço da cripto

Imagem de uma moeda estilizada com relevo de circuitos sobre um fundo gradiente de azul para lilás, com textura pixelada e padrões geométricos sutis.

Foto: Getty Images/Flavio Coelho

James Howells juntou uma fortuna de US$ 800 milhões – o equivalente a R$ 4,8 bi. Mas não consegue achar o dinheiro.

Está tudo dentro de um pendrive, na forma de 8 mil bitcoins. Um pendrive que ele jogou no lixo há 12 anos, numa limpeza de rotina. Esse programador britânico juntou as moedas digitais quando elas não valiam nada. Minerou tudo em 2009, primeiro ano do BTC. Era uma época em que dava para “desenterrar” bitcoins do sistema usando computadores convencionais. Hoje, minerar 8 mil BTC numa máquina comum levaria 621 bilhões de anos; a idade do Universo multiplicada por 45.

James, que mora em Newport, País de Gales, já entrou com diversos pedidos na Justiça local para poder escavar o aterro sanitário da cidade atrás do dispositivo, mas nunca obteve autorização.

Histórias de gente que perdeu acesso às suas criptomoedas são mais comuns do que se imagina – apesar de boa parte não envolver quantias tão grandes. E não estamos falando aqui em ataques hackers ou roubos, que no fim das contas só fazem a cripto mudar de mãos. Mas sim de casos de perda mesmo – caso descarte de dispositivos onde os BTCs estão guardados, como o de Howell, ou do esquecimento de senhas.

De fato, muita gente prefere guardar suas criptos em carteiras pessoais, em vez de deixar na conta da corretora ou do banco. Uma carteira pode ser um dispositivo (cold wallet, no jargão) ou estar online (hot wallet). Nos dois casos, você precisa de uma senha, geralmente composta por uma sequência de 12 ou 24 palavras, para acessar sua reserva de cripto. Os mais puristas têm até um lema: “not your keys, not your coins” (“não são suas chaves, não são suas moedas”). As “chaves” do lema se referem à senha.

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O problema é que, nesses casos, não existe “reset de senha” para recuperar acesso. Não há para quem apelar. Esqueceu sua sequência de palavras, danou-se.

Essa é a situação de Stefan Thomas, um investidor alemão que, em 2011, perdeu o papel em que guardava a senha da sua carteira virtual, que abrigava 7.002 bitcoins (US$ 20 mil na época; US$ 700 milhões hoje). No caso dele, o dispositivo, chamado IronKey, permite até 10 tentativas para acertar a senha antes de bloquear para sempre o acesso. Ele já usou 8 chances.

Em 2023, ele contou ao The New York Times. “Fiquei absolutamente desesperado. Não consegui dormir por noites. Eu simplesmente não conseguia acreditar que havia perdido algo tão importante.”

Thomas está guardando suas últimas duas tentativas e mantém a esperança de que conseguirá recuperar os ativos – assim como Howells acredita que conseguirá escavar o lixão de Newport.

A influência no preço

Os bitcoins perdidos afetam até o preço da cripto no mercado. Motivo: na criação do bitcoin, foi definido um limite de 21 milhões de unidades a serem mineradas, mas se existem grandes quantias definitivamente fora do jogo essa quantia final será menor. Porque não haverá substituição.

E o preço do bitcoin varia seguindo a velha lógica de mercado da oferta e demanda: se existe um limite de bitcoins no mundo e cada vez mais pessoas querendo comprar, ele vai valer mais com o tempo. O fenômeno dos bitcoins perdidos faz a oferta diminuir – e puxa para cima o preço das unidades que se mantêm em circulação.

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Quantos bitcoins estão fora do jogo para sempre? Não há uma resposta precisa. A corretora River estima em 1,5 milhão de unidades – o que já daria razoáveis 7% do suprimento final. E essa é uma projeção conservadora.

Em março do ano passado, a casa de análise Glassnode afirmou que o número de bitcoins perdidos seria de 7,8 milhões – 37% da quantia final; e 39% da atual (já foram mineradas 19,8 milhões de unidades).

Essa discrepância se dá porque o principal método de análise é olhar endereços de carteiras que estão paradas, ou seja, sem ter feito nenhuma transferência de BTC há alguns anos. Quando você vende um bitcoin (ou qualquer fração da cripto), a coisa sai da sua carteira e entra em outra. Esse dado fica gravado para sempre na rede (ou seja, na blockchain) do bitcoin e é público – ainda que a carteira seja anônima; o endereço nela no sistema será uma sequência de letras e números (tipo: 0xA4GH59C60d7593a7e97Aec78ca76DGF008473e27).

Os analistas que rastreiam bitcoins perdidos fazem isso varrendo a blockchain em busca de carteiras que estejam inativas há 5 anos ou 10 anos – cada um avalia como prefere. Mesmo assim, não há como confirmar nada. De uma hora para outra, afinal, qualquer carteira pode voltar à ativa – não que isso valha para as de James Howell e Stefan Thomas…

Mais. Existe um endereço que é creditado ao criador do bitcoin, a misteriosa entidade conhecida apenas pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto – já que ela foi criada nos primeiros momentos do bitcoin, início de 2009. Essa carteira está completamente parada desde 2010. Dentro dela, há 1 milhão de bitcoins – o que faz do dono (Satoshi?) uma das pessoas mais ricas do mundo, com uma fortuna de US$ 90 bilhões neste momento – e quiçá a mais rica da galáxia, caso o BTC siga subindo no ritmo dos últimos dois anos.

Existem outros três endereços com quantias acima de 30 mil bitcoins cada um (US$ 2,7 bi) e que estão parados há mais de uma década. Isso sem contar casos como o da QuadrigaCX, que chegou a ser a maior corretora de criptomoedas do Canadá, mas colapsou em 2019 após a morte de seu CEO, Gerald Cotten. Como ele, foram-se as senhas. E a empresa perdeu o acesso aos 26.350 bitcoins que possuía – ou seja, US$ 2,3 bi desaparecidos.

Vale lembrar que, ao menos para pessoas comuns, as carteiras de cripto não são mais tão necessárias. Já é possível comprar cripto via bancos convencionais (Nubank e Itaú, por exemplo). Aí os BTCs estarão no mesmo lugar onde já fica o seu dinheiro – por trás das mesmas senhas que você já usa todos os dias.

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