Finanças
Morgan Housel: comportamento humano diz mais sobre finanças do que o próprio mercado financeiro
Autor de “A Psicologia Financeira” aponta os maiores erros das pessoas ao lidarem com dinheiro.
Morgan Housel, autor dos bestsellers “A Psicologia Financeira” e “O mesmo de sempre”, desembarcou em São Paulo esta semana para reiterar a um público da Faria Lima o que já prega em seus livros: o comportamento humano diz muito mais sobre finanças do que o próprio mercado financeiro.
“Apesar de as circunstâncias de onde vivo serem diferentes, ganância, medo, ego ou inveja estão em todo lugar, independentemente do continente ou classe social”, declarou o financista na quinta-feira (23), durante o BTG Summit, realizado em São Paulo.
A instigação de Housel, amparada por exemplos reais de pessoas que reagiram de formas diferentes a um mesmo evento, aponta que é melhor fazer previsões com base no comportamento das pessoas, em vez de tentar antecipar os acontecimentos.
Segundo o escritor, que iniciou sua carreira no auge da crise financeira (2008), os comportamentos mais poderosos são aqueles que nunca mudam e fornecem indicadores para o futuro.
Nascido em 1986, nos Estados Unidos, ele trabalhou como jornalista de finanças e agora é reconhecido como uma das 50 pessoas mais influentes do mundo na sua área de atuação, segundo o MarketWatch. Seu livro “A Psicologia Financeira” vendeu mais de três milhões de cópias no mundo e foi traduzido para 53 idiomas, de acordo com a Companhia das Letras.
“Sempre estive interessado no que acontece na cabeça das pessoas na hora de tomar decisões sobre dinheiro. Comecei como escritor no auge do inferno da economia mundial, com bolsas derretendo, e sempre tentei responder o que acontecia. Percebi que conforme o tempo passava, escrever sobre isso não me trazia respostas”.
Foi aí que Housel teve o “start mental” de estudar o comportamento das pessoas, uma vez que história e sociologia explicam o porquê de as crises acontecem, mas apenas a psicologia fala sobre ganância e medo, que também levam às crises.
“É importante entender o comportamento, psicologia e sociologia para perceber como as pessoas se comportam”.
Citando o exemplo de dois velejadores que competiam por dar a volta ao mundo em 1968, enquanto um era péssimo e buscava por redenção após uma vida de fracassos (logo, perder não era uma opção e, por isso, recorreu à fraude dando volta em círculos no oceano), outro, exímio na arte de velejar, pouco se importava com os holofotes pela vitória, e por isso, optou por abandonar a competição antes do fim para viver em uma ilha remota de forma simples.
E o que isso tem a ver com dinheiro?
“O primeiro velejador não queria nada além do respeito e admiração. O segundo não queria ser admirado pelos outros, mas fazer aquilo que o faria feliz. E isso deveria ser o que fazemos com o nosso dinheiro”.
Segundo Housel, devemos usar os recursos como uma ferramenta para levar uma vida melhor. “Ou então, viver uma vida melhor do que a dos outros, a fim de chamar a atenção”, ironiza.
“Esse é o melhor conselho financeiro que posso dar a vocês independente do país em que estejam. Usem o dinheiro para serem felizes ao invés de impressionar os outros”.
Mantenha as expectativas baixas
Outro exemplo real de Morgan foi sobre a forma que o brilhante físico Stephen Hawking enxergava a vida. Apesar de ter sido acometido por uma doença neuromotora que limitou sua vida ainda na juventude, Hawking dizia estar feliz e satisfeito, uma vez que suas expectativas de vida haviam sido reduzidas a zero pelos médicos.
Logo, “qualquer coisa acima disso era bônus”, segundo declarou o físico em uma entrevista ao “The News York Times”, no passado.
“Isso é muito importante sobre o que pensamos sobre o dinheiro. Se perguntar aos norte-americanos qual foi a melhor década da vida deles, impressionantemente eles indicam os anos 1950 – o pico da prosperidade econômica. Mas na real, as pessoas não estavam tão melhores nessa época como estão hoje”, apontou.
O financista observa que os americanos têm hoje uma renda mais de duas vezes superior, já contando o reajuste pela inflação quando comparado a 1950. “As casas eram 37% menores, os alimentos representavam 1/3 do orçamento (e hoje, 12,9%); as mortes no local de trabalho eram três vezes maiores e a idade média dos homens trabalhando atualmente também é maior”, apontou.
De acordo com Housel, a menor lacuna entre ricos e pobres na década de 50 criava a ilusão de uma vida melhor. “Não tinha CEOs, gerentes multimilionários, e ninguém ganhando milhões de dólares ao ano. E isso foi bom para o psicológico das pessoas”.
Já hoje, o autor comenta que as expectativas das pessoas mais que dobraram, com a necessidade por viagens fantásticas, casas maiores, carros melhores, salários milionários, levando a uma maior comparação com a grama do vizinho.
“Se a sua expectativa é crescer mais que a sua renda, você não será feliz em relação ao dinheiro. Primeiro, você precisa manter as suas expectativas equilibradas”.
Pode parecer um balde de água fria para uma plateia em um evento claramente capitalista – o BTG Summit. Mas o recado foi dado. “O que acontece quando não se mantém as expectativas baixas?” – questionou ao mostrar no telão uma foto de Bernard Madoff.
Housel refrescou a memória da plateia quanto ao histórico de Madoff antes de se tornar um criminoso, em meados de 1980. Ele faturava cerca de US$ 30 milhões por ano, sem fraudes, via negócios legais e bem sucedidos. “Apesar disso, ele queria mais dinheiro e começou um negócio fraudulento. E seus filhos cometeram suicídio depois que a história veio à tona”.
Segundo o autor de “O Mesmo de Sempre”, todos temos um pouco de ambição a fim de lucrar mais ao tomar maiores riscos. Mas é necessário equilíbrio a fim de evitar a ruína.
Já sobre como antever o que vai acontecer com a economia ou o mercado acionário, Housel foi categórico: “a única coisa que você pode controlar é seu comportamento. Economize como pessimista e investia como otimista”.
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