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Operar vendido na Bolsa: as táticas e os cuidados de quem lucra com a prática

Estratégia envolve o aluguel de ações, que movimentou R$ 88 bilhões em ativos em dezembro, maior valor desde 2013.

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Você sabia que é possível lucrar apostando “na queda” de um ativo na Bolsa? Esta operação é conhecida como “operar vendido” (ou operar short ou, ainda, venda a descoberto). Basicamente, significa vender um ativo de renda variável que você não tem na sua carteira, a um determinado preço, e torcer pela desvalorização dele.

Confuso? Imagine a seguinte situação: a ação da empresa fictícia ABC está sendo negociada a R$ 20 e você acredita – com base em dados e não em intuição, hein! – que o valor do ativo vai desvalorizar 5%. A partir disso, você pode comprar um lote de 100 ações e vendê-lo pelo preço atual de R$ 20, totalizando R$ 2.000. 

Se a sua previsão se concretizar e a ação desvalorizar 5%, você pode comprar o mesmo lote por um preço inferior e sair com 5% de lucro ao vendê-lo novamente, pagando uma taxa pelo aluguel. Porém, o inverso também pode ocorrer e, no mínimo, você perderá alguma parte desse valor investido (vide o filme de Adam McKay com Christian Bale, “A Grande Aposta”). Por isso é importante sempre ter uma margem de garantia para esta operação.

Caso você não tenha ações, você pode alugá-las com corretoras. Porém, como você estará vendendo ações que não são exatamente suas, a Bolsa exige que você tenha garantias (ativos que podem ser vendidos caso você não honre a obrigação de devolver ao doador as ações alugadas). O valor de garantia também varia de corretora para corretora.

Custos da operação

Para operar vendido, é necessário pagar uma taxa de corretagem no momento da compra e venda das ações e taxa de BTC (que é o custo do aluguel e varia de acordo com a ação envolvida), além de uma comissão de intermediação anual para o tomador, sendo o mínimo de R$ 10, da B3. As informações sobre as taxas praticadas atualmente estão disponíveis no site da Bolsa.

Perfil arrojado

João Carlos Pinilla, de 46 anos, é investidor desde 2004. Depois que perdeu mais de R$ 500 mil na bolsa, ele optou por operar somente vendido. Hoje, ele investe praticamente 100% do seu dinheiro em ações da Petrobras e utiliza somente gráficos para escolher onde investir.

“Operar vendido, para mim, é o melhor dos mundos. Eu só ganhei dinheiro operando vendido. Você consegue ganhar em três situações de mercado: subindo levemente, com mercado lateral, e mercado em queda”, relata o investidor.

No ano passado, após a queda na taxa de juros para o menor patamar da história, a participação do capital nacional no mercado de ações ultrapassou o volume de dinheiro estrangeiro – 52% contra 48%. Em dezembro de 2019, foram colocados em empréstimo mais de R$ 88 bilhões em ações – maior valor desde 2013-, segundo dados da B3.

Apesar dos números, João acredita que operar vendido ainda é uma estratégia pouco comum entre os brasileiros. “Aqui no Brasil, se você opera vendido, parece que você é um um bicho de sete cabeças, sendo que nos EUA existe a profissão de trader que só opera assim. E você encontra oportunidades boas duas, três vezes por ano, apenas, em que você realmente ganha dinheiro”, diz o trader.

Riscos

De acordo com o especialista em ações da Levante Investimentos, Eduardo Guimarães, o investidor deve ser cauteloso ao escolher este tipo de estratégia, já que o mercado pode entrar em tendência de alta e a Bolsa pode exigir mais garantias do investidor. 

O analista também sugere que o trader opte pelo pair trading, que é a negociação de dois ativos similares negociados em pontas opostas, um na compra e outro na venda, ao invés de só operar na venda. A expectativa é que a ponta posicionada na compra (aposta na alta) tenha melhor performance do que a ponta vendida (aposta na baixa) e isso representa um menor risco para o investidor.

“Se você não for experiente, procure um fundo especializado nessa operação. Para quem já tem experiência, recomendo que faça uma operação relativa também em posição comprado, e não comprometa mais do que 5% do patrimônio neste tipo de operação”, alerta Guimarães.

Entenda os conceitos que envolvem a aposta na queda de um ativo:

Aluguel de ações: Prática entre investidores que acreditam que um ativo vai desvalorizar. A ideia é alugar a ação, vendê-la antes da possível queda e recomprá-la a um preço menor. O lucro vem ao devolver a ação ao doador, que recebe uma taxa de aluguel por essa operação.

Long & short (pair trading): Consiste em negociar dois ativos similares em pontas opostas, um na compra e outro na venda. Podem ser duas ações de um mesmo setor, como Itaú Unibanco e Bradesco. Ou ações ordinárias (ON) e preferenciais (PN) de uma mesma empresa, como Petrobras. É possível vender uma ação que você não possui (short) e, com este dinheiro, comprar uma ação que, para você deve subir (long).

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