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Após Petrobras prever investimento 31% maior, BTG e BB reiteram compra

Plano Estratégico da estatal prevê investimentos na casa dos US$ 102 bilhões entre 2024 até 2028.

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As ações da Petrobras (PETR4) operavam em leve alta no pregão desta sexta-feira (24), após a estatal prever investimentos na casa dos US$ 102 bilhões em seu plano estratégico entre 2024 e 2028. O montante é 31% maior em relação ao previsto no plano quinquenal anterior, além de projetar um aumento de mais de 13% na produção de petróleo em cinco anos, segundo a petroleira.

Apesar de as ADRs (recibos de ações negociadas nos Estados Unidos) da estatal terem aberto o dia em queda – também pesou sobre o veto à desoneração da folha de pagamento – o mercado parece estar digerindo melhor o anúncio, ainda mais após relatório do BTG Pactual reiterar a compra das ADRs a um preço alvo de US$ 16 para até 12 meses. O BB Investimentos também manteve sua recomendação, mas para as ações negociadas na B3. O teto é de R$ 42.

Em relatório, o banco comandado por André Esteves apontou que o plano não parece minar os aspectos-chave da perspectiva ainda otimista sobre a petroleira.

“A empresa se transformou significativamente nos últimos nove anos, marcados por desalavancagem e redução de custos. essa disciplina fiscal, aliada a uma gradual diversificação, deverá ainda impulsionar a geração robusta de fluxo de caixa livre para o acionista (FCFE) no futuro”.

Pedro Soares e Thiago Duarte, btg pactual.

Apesar de os analistas classificarem como uma decepção a curva de produção até 2027 por mostrar uma queda média de 0,7% ao ano, eles veem com bons olhos as mudanças feitas ao longo do ano em quase todos os pilares de investimentos da petroleira.

” A empresa modificou a sua política de preços de combustíveis, reduziu a sua distribuição de dividendos (de 60% a 45% menos capex), propôs a criação de reservas de capital (permitindo maior retenção de lucros), e agora, aumentou seu limite de investimento”, apontaram.

No entanto, o BTG destaca que a petroleira pode estar indo em direção errada, já que enxerga a companhia potencialmente começando a diminuir sua eficiência e aumentando o custo em dinheiro, “ponto de equilíbrio do preço do petróleo”.

Ainda assim, Pedro Soares e Thiago Duarte destacam que ainda há razões para acreditar que a empresa vai gerar mais caixa do que o mercado espera, impulsionando por resultados acima do esperado e mecanismos robustos de governança corporativa.

Dividendos

Os analistas do BTG acreditam que mesmo que algumas fusões e aquisições sejam executadas, não deve ser comprometida a capacidade da empresa distribuir dividendos atrativos. “Enquanto essa dinâmica persistir, a Petrobras continuará a ter uma história de transição atraente”, disseram por nota.

Em outro relatório, o BB Investimentos aponta que o novo plano da Petrobras prevê a manutenção da política de dividendos. “A previsão é de uma distribuição na ordem de US$ 40 bilhões a US$ 45 bilhões no período”, escreveram os analistas.

Recentemente, a petroleira aplicou a maior redução de proventos no mundo pelo segundo trimestre consecutivo, cortando US$ 9,6 bilhões em retorno aos acionistas. No entanto, novos cortes não foram anunciados.

“A petroleira deverá manter as principais premissas que hoje trazem previsibilidade para os investidores minoritários, como caixa de referência em US$ 8 bilhões e endividamento abaixo de US$ 65 bilhões”, aponta Daniel Cobucci, do BB.

Os planos da Petrobras

O investimento total de cinco anos, que aumentou 31%, para US$ 102 bilhões (anteriormente era US$ 78 bilhões), agora é dividido em uma carteira já em implementação (US$ 91 bi) e outra em avaliação (US$ 11 bilhões). O plano está sujeito a estudos adicionais de financiabilidade antes do início da contratação e execução.

Excluindo este último, que inclui potenciais fusões e aquisições, os investimentos teriam aumento de “apenas” 17%, segundo o BTG.

O plano inclui recursos para uma eventual aquisição de fatia na Braskem, embora ainda não haja qualquer decisão sobre o tema, disse nesta sexta-feira o CFO da estatal, Sergio Caetano Leite.

“A possibilidade (de aquisição) está lá no Capex em avaliação; está considerada a possibilidade”, afirmou o executivo a jornalistas.

Segundo a Petrobras, o aumento das despesas de capital (Capex) está associado principalmente a novos projetos, incluindo potenciais aquisições; a ativos que estavam em desinvestimentos e voltaram para a carteira de investimentos da companhia; e à inflação de custos, que impactou toda a cadeia de suprimentos.

Leite afirmou que no momento a Petrobras não é “compradora nem vendedora” da Braskem, lembrando que a estatal teria tanto o direito de preferência para comprar a fatia da Novonor colocada à venda, quanto direito de “tag along” para vender sua participação no negócio.

Ele disse que ainda é “é muito difícil” a Petrobras ser vendedora de um ativo petroquímico, setor considerado “relevante e estratégico” para a companhia, mas ponderou que a Braskem não é a única opção para a estatal crescer no segmento.

Baixo carbono

A petroleira anunciou ainda que vai destinar até US$ 11,5 bilhões para projetos de baixo carbono nos próximos cinco anos, ou 11% do investimento total da companhia, considerando os investimentos transversais nos diversos segmentos de negócio. A previsão para baixo carbono representa avanço ante o plano anterior de 2023-2027, que previa US$ 4,4 bilhões.

E, segundo analistas do BB, um dos pontos mais esperados em relação ao plano era o volume e destino dos recursos voltados à transição energética. O motivo é que tais projetos atualmente possuem retornos incertos, tendendo a ser mais baixos do que a média do portfólio da companhia.

“No entanto, em nossa opinião, a companhia está correta em perseguir os objetivos de
descarbonização e novas matrizes energéticas, pois apesar das dificuldades, tais
segmentos devem crescer em relevância e ter custos mais compatíveis, à medida em
que novas tecnologias são desenvolvidas, o que deve servir tanto para diversificar
receitas, quanto para atender demandas de um mercado hoje em desenvolvimento”, aponta trecho de relatório do BB.

Ao longo do período de cinco anos, o maior investimento anual está previsto para 2025, de US$ 21 bilhões, alta de 13,5% versus 2024. Para 2026 estão previstos US$ 19,1 bilhões, mantendo um declínio em 2027 (US$ 17,1 bilhões) e 2028 (US$ 15,2 bilhões).

Do valor previsto, cerca de 72% serão aportados na área de exploração e produção (E&P), que mantém seu protagonismo ainda que a administração da companhia esteja buscando caminhos para a diversificação do seu portfólio, uma das importantes bandeiras levantadas pelo PT para a Petrobras desde as eleições.

A área de Refino, Transporte e Comercialização, por sua vez, representa 16% do novo orçamento total, enquanto Gás e Energia (G&E) e Baixo Carbono tem 9%, e o Corporativo, 3%.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, durante coletiva de imprensa, em março de 2023. (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

A aprovação do plano pelo conselho de administração aconteceu na noite de quinta-feira (23) após o CEO da petroleira, Jean Paul Prates, ter sofrido pressões de Lula e de integrantes do governo por mudanças na reta final da elaboração do documento.

Segundo a Reuters, Lula pediu ao CEO em reuniões para priorizar projetos com geração de emprego e renda, incluir mais encomendas para a indústria naval e antecipar prazos para a entrega de grandes projetos.

Para o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, a estatal ‘cumpre os objetivos do governo Lula de geração de emprego e renda para os brasileiros, com o fortalecimento da empresa ”.

Sob as gestões anteriores do governo de Michel Temer e de Jair Bolsonaro, a Petrobras realizou desinvestimentos multibilionários, enquanto focava em exploração e produção de petróleo em campos de alta rentabilidade.

“Ao mesmo tempo, a companhia mantém grandes projetos de revitalização em águas profundas (REVIT), além de projetos complementares, a fim de aumentar os fatores de recuperação em campos maduros”, aponta fato relevante da Petrobras.

A petroleira prevê US$ 3,1 bilhões para exploração na Margem Equatorial, US$ 3,1 bi para a exploração nas Bacias do Sudeste e US$ 1,3 bilhão para outros países. Está incluída neste investimento ainda a perfuração de cerca de 50 poços em áreas onde a companhia possui direito de exploração em blocos adquiridos.

Produção de petróleo

Com o plano de negócios, a Petrobras projeta elevar a produção de petróleo e gás para 3,2 milhões de barris de óleo equivalente ao dia (boed) em 2028, alta de mais de 14% ante os 2,8 milhões boed projetados para 2024.

Considerando apenas petróleo, a produção aumentaria 13,6% em 2028, para 2,5 milhões de barris ao dia (bpd), contra 2,2 milhões bpd previstos para 2024.

A companhia ressaltou que as projeções de produção de óleo, produção total e comercial de óleo e gás natural para 2024 foram acrescidas em aproximadamente 100 mil bpd/boed, na comparação com o plano anterior, “considerando o bom desempenho dos campos, as previsões de ramp-ups e entrada de novos poços”.

REUTERS/Regis Duvignau

Nos anos de 2025 e 2026, a produção de óleo, produção total e comercial de óleo e gás natural encontram-se inferiores ao projetado no plano anterior em cerca de 100 mil bpd/boed.

“Esta diferença deve-se principalmente às condições atuais de mercado oriundas do contexto global, onde alguns sistemas de produção e projetos complementares de águas profundas tiveram seus cronogramas impactados”, disse a companhia.

“Essas flutuações fazem parte da dinâmica da indústria, e estão dentro da faixa de incerteza divulgada no último plano”, acrescentou.

A companhia tem uma margem 4% para mais ou para menos em suas estimativas de produção.

Na área de refino, o plano prevê aumento de capacidade de processamento nas refinarias em 225 mil bpd e da produção de diesel S-10 em mais de 290 mil bpd até 2029, suportado pela entrada de grandes projetos como o Trem 2 da RNEST, Revamps de unidades atuais e implantação de novas unidades de produção de diesel (HDT) na REVAP, REGAP, REPLAN, RNEST e GASLUB.

Em biorrefino, a companhia prevê investimentos de US$ 1,5 bilhão.

Como o plano vai se financiar

Dentre as principais premissas para a financiabilidade do plano, a Petrobras considera um petróleo Brent a US$ 80 dólares o barril em 2024, caindo nos anos seguintes para US$ 78 em 2025, US$ 75 dólares em 2026, US$ 73 em 2027 e US$ 70 em 2028.

Já a cotação do dólar, para financiabilidade do plano, foi prevista em R$ 5,05 no ano que vem, ficando praticamente estável nos anos seguintes, com queda para R$ 4,98 em 2027 e R$ 4,90 em 2028.

A Petrobras reiterou o caixa de referência de US$ 8 bilhões, dívida bruta inferior a US$ 65 bilhões, com dívida financeira inferior à de leasings e dividendos conforme política vigente.

*Com Reuters

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