Finanças
Por efeitos do El Niño, Hidrovias do Brasil é aposta de gestora
AF Invest segue posicionado na companhia de logística hidroviária contra os possíveis efeitos do fenômeno climático no mercado.
Economias pelo mundo ainda tentavam se reerguer dos efeitos da pandemia quando a guerra russa contra a Ucrânia tornou complexo traçar qualquer retorno à normalidade no curto prazo. No entanto, outro alarme está soando: os possíveis efeitos do El Niño à economia. Nesse cenário, as atenções de alguns especialistas se voltaram para empresas como Hidrovias do Brasil (HBSA3), e a AF Invest já se posicionou comprada na companhia.
Meteorologistas que acompanham o fenômeno têm alertado para o poder devastador que pode estar se aproximando justificado pela mudança climática acelerada. Segundo a Bloomberg Economics, a chegada do El Niño após quase quatro anos indica mais danos à economia mundial.
Fenômenos anteriores causaram impactos, desde alta nos preços das commodities não energéticas até a redução no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de países como Brasil, Austrália, Índia, entre outros tanto quanto vulneráveis.
No Brasil, o El Niño causa secas no Norte e Nordeste e provoca chuvas excessivas no Sul e sudeste. E diante disso, a AF Invest já se posicionou comprada em Hidrovias do Brasil (HBSA3) contra os possíveis efeitos do fenômeno climático no mercado financeiro.
A companhia, que atua na área de logística com foco no modal hidroviário, deve ser uma das principais beneficiadas com os efeitos do fenômeno climático, segundo a gestora, dado o aumento de chuvas em uma das regiões onde opera.
Porém, segundo Hugo Baeta, analista da AF, a posição montada se dá em maior grau pelo desconto da empresa em bolsa devido a penalização sofrida dois anos antes, dada a seca do período na região onde transporta minério de ferro.
Segundo o site da companhia, a Hidrovias do Brasil opera hoje em quatro rotas logísticas estratégicas: Corredor Norte do Brasil, Hidrovia Paraguai-Paraná, rota de cabotagem entre Porto Trombetas (Corredor Sul) e Vila do Conde (PA) e Porto de Santos.
O sistema Sul – apontado como beneficiado pelo aumento das chuvas segundo o analista – conecta cinco países (Brasil, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina) com o transporte de grãos, fertilizantes, minério de ferro, celulose, além de procedimentos portuários. E como é esperado que o El Niño fortaleça as chuvas na região, a empresa tende a impulsionar os resultados.
“A Hidrovias não tem competidores no Brasil; existem empresas listadas que prestam serviço de transporte marítimo, mas no transporte em rios, a companhia é de longe a maior”.
hugo baeta, analista da af invest
O Itaú BBA destaca que foi no trecho sul que os volumes transportados cresceram 20% ao ano, sendo o segundo melhor resultado do 1º trimestre deste ano, atrás da região norte (23%). Pelo menos 1,2 milhão de tonelada de minério de ferro transportado no período foi beneficiado pela normalização das condições de navegação.
Já o volume de grãos cresceu 7% ao ano em igual período, refletindo a recuperação de grãos no Paraguai, um ano após a maior quebra de safra já observada no país, de acordo com dado também citado em relatório do Itaú BBA.
Questionado pelo InvestNews sobre os fundamentos da companhia, o analista da AF Invest destacou que os contratos de longo prazo (take or pay) nos serviços prestados de transporte. Segundo Baeta, se a empresa transportar ou não, ela recebe o valor do contratante da mesma forma.
No entanto, esse acaba sendo um tipo de contrato mais barato porque dá previsibilidade ao faturamento da companhia, segundo o especialista. A empresa também foi destacada por não precisar tanto de Capex (investimentos) para manter usas operações e por conseguir gerar muito caixa.
Somado a isso, foi ressaltado o fato de Hidrovias do Brasil estar vinculada a um setor resiliente a ciclos econômicos com o transporte de minérios e grãos, além do fato de ter mais de 60% das receitas dolarizadas.
“Porém, 75% da dívida da companhia é também em dólar. No curto prazo ela acaba tendo uma baixa, dado o efeito do câmbio com a valorização do real”, disse Baeta.
Em relatório de maio do Itaú BBA, os analistas Daniel Sasson e Larissa Pérez, destacaram o Ebitda ajustado 35% maior na base anual reportado no balanço do 1º trimestre de 2023. O montante de R$ 211 milhões foi 17% acima da previsão de R$ 180 milhões feita pelo banco.
Os fortes resultados no Corredor Norte (Ebitda ajustado 26% maior) e números expressivos do Corredor Sul (alta de 65% no Ebitda ajustado) também foram destaque no trimestre encerrado ao final de março. E até antes do alarme do El Niño, a visão dos analistas do banco já era de que os resultados da Hidrovias devem continuar melhorando em todas as divisões, atingindo todo seu potencial em 2024.
Riscos
Para Baeta, os riscos para se ter no radar de HBSA3 são mais macro do que da empresa propriamente, a exemplo de uma possível quebra de safra à qual companhia está exposta no Corredor Norte, ou um efeito não aguardado na hidrologia.
“Então caso não tenha produção agrícola suficiente acaba por aumentar os riscos, incluindo aí até alguma quebra de contrato.”
hugo baeta, analista da af invest
Hoje, a empresa está alavancada em mais de 4 vezes, segundo a AF Invest. “O que aponta que a Hidrovias vai levar mais de 4 anos para pagar a dívida, desde que a geração de caixa fique estável”, aponta o analista. Atualmente, a dívida líquida da Hidrovias é de R$ 3,8 bilhões.
Segundo consenso da ferramenta Valor Pro, BTG Pactual, Santander Brasil, XP, Guide Investimentos e Itaú BBA recomendam compra de HBSA3, enquanto Terra Investimentos segue com posição neutra na companhia. O preço alvo médio é de até R$ 3,60.
Nesta segunda-feira (26), os papeis estavam sendo negociados a R$ 3,46, às 15h50.
O impacto do El Niño
Segundo a Bloomberg, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou em 2000 que El Niños intensos podem acrescentar 4 pontos percentuais à inflação dos preços das commodities. Porém, não foi levado em consideração que o aumento geral das temperaturas amplifica os efeitos dos fenômenos climáticos.
A Organização Meteorológica Mundial calcula que há uma chance de 98% de que a combinação do acúmulo de gases de efeito estufa e o retorno do El Niño fará com que o próximo período de cinco anos seja o mais quente até agora, levando as temperaturas globais a um território desconhecido.
“Se o El Niño ocorrer de forma muito forte, se faltar alimentos e afetar o preço das commodities, todas as empresas da bolsa seriam de alguma forma impactadas. E isso em todo o mundo. Se tivermos escassez de alimentos, isso afeta inflação, afeta taxa de juros, assim como o consumo das famílias”
hugo baeta, analista da af invest
Setores mais afetados
Para o Santander, os setores mais impactos com preços para cima são açúcar e etanol, alimentos, utilities e bens de capital.
Já setores que devem ser afetados com preços para baixo incluem instituições financeiras e construtoras residenciais.
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