Finanças
Por que o mercado não reagiu a pesquisas eleitorais da disputa de 2022?
Especialistas apontam que, no momento, investidores estão priorizando questões de curto prazo.
Lula ou Bolsonaro: quem vai ganhar as eleições de 2022? Apesar da disputa dominar as expectativas no meio político, no mercado financeiro o assunto ainda não está “fazendo preço”, segundo especialistas ouvidos pelo InvestNews. O motivo é que questões de curto prazo seguem ocupando as atenções dos investidores de maneira mais urgente, como a questão fiscal e a vacinação.
Na quinta-feira (13), uma pesquisa feita pelo instituto Datafolha mostrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o maior percentual de intenções de voto, com 41%, seguido por Bolsonaro, com 23%. Em um eventual segundo turno, Lula venceria com 55%. O Datafolha mostrou ainda que a aprovação de Bolsonaro atingiu a pior marca desde o início do governo. O percentual dos que consideram o desempenho do presidente ótimo ou bom caiu de 30% para 24%.
No mesmo dia em que as pesquisas foram divulgadas, o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, fechou em alta de 0,83%, aos 120.706 pontos. Analistas apontam que, nos últimos dias, o movimento do mercado financeiro tem acompanhado o cenário externo, embora internamente permaneçam preocupações como o atraso das reformas econômicas. Perspectivas sobre as eleições de 2022, então, não seguem entre os principais fatores no momento, de acordo com os especialistas.
“Para efeitos práticos, no curto prazo muda pouco para o mercado essa questão da pesquisa. O mercado está ignorando esse processo agora, dado que a gente tem problemas piores no curto prazo para discutir”, afirma Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos.
Na mesma linha, Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, aponta que, “hoje, o mercado está mais instável e mais incerto muito mais por conta dos fatores mais de curto prazo, que é a questão de vacinação, risco orçamentário e risco fiscal”.
“Quando você olha o cenário eleitoral para o ano que vem, ele impacta muito pouco ainda. O mercado ainda não está olhando isso, porque olhar isso é fechar os olhos para o curto prazo, principalmente em relação à vacinação”, diz Franchini.
Apesar de as pesquisas eleitorais não estarem mexendo com os mercados de forma mais perceptível agora, a bolsa teve um episódio recente de forte volatilidade causada pela disputa de 2022. No dia 8 de março, o Ibovespa caiu 3,9% repercutindo a notícia de que notícia de Lula teria todas as suas condenações da Operação Lava Jato suspensas e estaria, portanto, elegível.
Apesar daquele movimento, Franchini comenta que “aquele negócio de ‘o nome é ruim’ ficou um pouco para trás” no mercado financeiro. “As pessoas acham que o mercado vira o sinal de alerta por conta de nomes. O que o mercado quer hoje é um governo que faça boa gestão das contas públicas, que não incremente risco fiscal, não exagere na questão orçamentária e não viva de um governo populista”, avalia.
E a ‘governabilidade’?
Embora as eleições ainda pareçam “distantes” para o mercado, o cenário político faz parte das preocupações que estão no radar dos investidores. A queda de popularidade de Bolsonaro revelada pelo Datafolha reforçou um receio já motivado antes pela CPI da Covid: o de que o governo perca apoio e, assim, as reformas econômicas ganhem ainda mais entraves.
Franchini cita como preocupação a possível “inviabilidade de reformas estruturais por conta da CPI, que vai diminuir a força do governo em relação à base aliada”. Para ele, esse é um dos principais pontos que estão impactando a bolsa e os juros.
Por sua vez, Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, acredita que o mercado está, “de certa maneira, ignorando os problemas políticos impostos pelo palanque eleitoral da CPI da pandemia e das manobras do governo para preservar o poder em detrimento à boa condução das contas públicas”.
Isso porque “o mercado conta com a perspectiva de reabertura econômica em breve”, conforme apontou o economista em relatório na terça-feira (11). No entanto, Vieira afirma que as incertezas permanecem no radar. “O Brasil mostra que a sua tradicional capacidade de imunização, reconhecida globalmente, é eficaz quando há disponibilidade correta de insumos, o que é sempre uma dúvida por aqui”, diz.