Finanças

Small caps x blue chips: quais ações levam a melhor na crise?

As ações de menor valor vinham obtendo retornos consideráveis até a chegada da crise – quando elas passaram a ‘apanhar’ bem mais que as grandes.

Publicado

em

Tempo médio de leitura: 6 min

As small caps — ações de empresas menos negociadas na Bolsa — tinham tudo para decolar até a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) chegar ao mercado financeiro. Em 2019, o índice SMALL11 (SMLL), que reúne 79 papéis com este perfil na B3, acumulou uma notável valorização de 58,2%, bem acima dos 31,6% do índice que reúne as ações mais relevantes do Brasil, o Ibovespa. Mas, com a crise, as pequenas passaram a “apanhar” bem mais que as grandes (conhecidas como blue chips).

Desde o início do ano até o pregão desta segunda-feira (18), o SMLL desvalorizava 37,4%, enquanto o Ibovespa caía menos, 29,7%. Estudos dão conta de que, por serem mais voláteis devido ao seu baixo valor, os papéis das small caps tendem a levar a melhor em períodos de calmaria e crescimento econômico — mas o tombo pode ser bem mais feio quando a crise está a caminho.

Não existe um manual ou um marcador que separa uma blue chip de uma small cap (ou ainda, de uma mid cap, ação intermediária), mas, via de regra, prevalece o conceito de que o primeiro grupo inclui empresas mais valiosas, enquanto o segundo fica com as de menor valor (menos negociadas em bolsa).

O efeito do tempo sobre as pequenas

Uma tese levantada pelo ganhador do Nobel Eugene Fama e pelo pesquisador Kenneth French, ex-professores da escola de negócios da Universidade de Chicago, defende que, em prazos mais longos, as ações de menor valor costumam sair na frente. Em 1992, eles desenvolveram o chamado modelo de três fatores, que estuda a precificação de ativos e que incorporou tamanho e valor nos fatores de risco.

Com isso, o modelo conclui que ações de menor valor (small caps) costumam performar melhor de forma geral. Em outras palavras, o tamanho influencia no retorno dos papéis.

Usando carteiras de ações aleatórias no mercado norte-americano, Fama e French perceberam que os investidores devem superar a volatilidade de curto prazo e o baixo desempenho periódico que pode ocorrer em pequenos períodos para apostar em prazos mais longos. Os investidores com um horizonte de 15 anos ou mais serão recompensados ​​por perdas sofridas no curto prazo, segundo os pesquisadores.

No Brasil, as ações de menor valor têm superado as grandes em prazos mais longos. Nos últimos cinco anos, as ações de empresas menores valorizaram mais que as maiores. O índice SMLL acumula até agora um avanço ao redor de 65% no período, enquanto o Ibovespa sobe 46% no mesmo intervalo de tempo.

Risco maior no curto prazo

Justamente por terem menor valor, as small caps costumam ser mais voláteis no curto prazo, elevando o perfil de risco da carteira. Imagine uma ação negociada a preço de banana por uma empresa que vale poucos milhões, e um grande investidor que possui 10% dos papéis decide vendê-los. O preço da ação tende a oscilar com muito mais intensidade do que se este mesmo investidor vendesse a mesma quantia em ações da Petrobras, que é avaliada hoje em R$ 250 bilhões e tem a ação negociada ao redor de R$ 18, por exemplo.

“Em circunstâncias normais, uma blue chip tende a se recuperar antes de uma crise porque o investidor tem uma preferência por empresas maiores e percebidas como mais sólidas”, explica Massaro. Mas ele acrescenta que, quando uma small cap tem boa performance, muitas vezes ela avança bem mais rápido que as maiores. “Algumas small caps certamente vão se recuperar com mais velocidade que as blue chips, por serem mais voláteis e por terem menor volume de ações negociadas”, explica Massaro.

Como identificar uma small cap?

São ações com menor valor de mercado (capitalização) na Bolsa. Costumam ser companhias mais novas e que apresentam um potencial de forte crescimento no médio e longo prazo. Por serem menos negociadas devido à menor procura do investidor, seus papéis tendem a ser menos líquidos. Ou seja, o investidor pode ter mais dificuldade em se livrar da ação caso queira vende-la no curto prazo. Outra característica das small caps é que elas costumam ter atuação mais local.

O que caracteriza uma blue chip?

São as ações mais negociadas de uma bolsa de valores. Via de regra, são papéis de companhias consolidadas, com maior valor de mercado e que apresentam lucros sólidos. Estas empresas costumam distribuir parte dos seus lucros ao acionista (as pagadoras de dividendos) com regularidade. Suas ações são muito procuradas pelos investidores, portanto, são mais líquidas (facilidade em comprar e vender).

O termo “blue chips” vem do inglês fichas azuis e remete às fichas mais valiosas dos jogos de azar, como o pôquer. Além do valor de mercado, estas empresas têm como características uma forte geração de caixa e boa relação com os acionistas, além de aplicar uma boa governança corporativa. Pode-se considerar “blue chips” da B3 ações como da Petrobras (PETR4, PETR3), Vale (VALE3), Ambev (ABEV3) e Itaú Unibanco (ITUB4).

Como funciona o SMALL11?

Na B3, as small caps são representadas pelo índice SMALL11 (SMLL), que agrega os 79 papéis mais negociados nesta categoria. Pela nomenclatura, pode-se concluir de forma equivocada que se tratam de pequenas empresas. Mas na verdade, muitas delas movimentam cifras bilionárias em seus balanços.

O valor de mercado de todas as companhias do SMLL somava, em dezembro de 2019, R$ 498 bilhões. Alguns exemplos de grandes empresas listadas neste índice são Embraer (EMBR3), que valia R$ 4,88 bilhões até segunda-feira, e Bradespar (BRAP4), avaliada em R$ 12 bilhões. Outros exemplos são a Eneva (ENEV3), Lojas Marisa (AMAR3), Banco Inter (BIDI4), Allupar (ALUP4) e Qualicorp (QUAL3).

Fundos de small caps têm regras rígidas

Os fundos com carteiras de small caps precisam seguir algumas regras estabelecidas pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Uma delas é que o portifólio não pode conter as 10 ações maior peso no Ibovespa, aquelas que são mais negociadas e representativas. Outra regra é que a carteira não pode ter mais de 15% de papéis que estão entre a 11ª à 25ª posição entre os papéis de maior peso no índice da B3.

Mais Vistos