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Startups: este é o momento para investir nelas, apontam especialistas

Unicórnio ou camelo? Comprar cota ou ser um investidor-anjo? Preparamos um guia para você surfar nesta nova onda dos investimentos.

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A queda abrupta dos juros abriu uma porta para que investidores mais arrojados busquem novas opções para rentabilizar seu dinheiro. Entre elas, estão as ações, fundos e investimentos no exterior. Mas para quem está disposto a aceitar o risco em troca de um retorno exponencial, surge uma alternativa: investir em startups.

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Segundo Edson Machado, professor e head do Hub de Inovação e Empreendedorismo do Ibmec/SP, a pandemia é a melhor época para investir em startups porque muitas delas precisam de fôlego para sobreviver. Em consequência, a compra de uma cota ou um aporte como investidor-anjo pode ser uma ótima pechincha.

É aqui que entra o conceito do “burning money” (dinheiro para queimar). Machado explica que, se o investidor tem hoje dinheiro para aplicar em uma startup, o que se traduz em um recurso que pode ser aplicado mesmo com risco de perda total, a crise é a oportunidade ideal para fazer bons negócios. “Tem muita startup precisando de investimento. Como diz aquela frase, ‘em toda crise uns choram e outros vendem lenços’. Algumas startups precisam primeiro sobreviver para vender lenços”, defende.

Mais rentáveis que ações?

Mas não é tão simples quanto parece. O risco de uma startup quebrar durante seu primeiro ano de vida é de 80%. Para Wlado Teixeira, diretor do GV Angels, organização que conecta investidores-anjo a startups, antes dos primeiros 3 anos de vida de uma startup, é muito difícil ter noção se ela de fato vai sobreviver.

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“A startup pode passar a impressão de que está ótima no primeiro ano e depois por inadequação do plano de negócios começa a decair ou até morrer”, explica.

Ele acrescenta que em um universo de cinco startups investidas apenas uma decola e as outras ficam no meio do caminho. Em compensação, caso a startup dê certo, os ganhos também são expressivos e superam o investimento em ações.

Existem três formas de investir em uma startup: a primeira é restrita apenas para investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão aplicados), conhecida como venture capital.

Mas para o investidor pessoa física, existem outras duas alternativas:

  1. Ser investidor-anjo, com um aporte inicial a partir de R$ 10 mil.
  2. Comprar uma cota da startup por meio do equity crowdfunding.

A preferência é por cotas conversíveis ou mutuáveis, aquelas que podem ser resgatadas em até dois anos com o pagamento de juros ou transformadas em participação da companhia.

Para comprar uma cota em um equity crowdfunding, os preços são mais acessíveis. Algumas startups já ofertam cotas a partir de R$ 1 mil. Mas como escolher a modalidade mais adequada para o seu perfil? Separamos algumas dicas para lhe auxiliar na tomada de decisão.

Camelo ou unicórnio?

A primeira coisa que o investidor precisa entender é que os unicórnios estão deixando de ser moda. Agora, o mercado procura os camelos, as startups com um grau de senioridade na sua gestão e com capacidade para gerir um negócio mesmo na crise.

Os unicórnios são aquelas startups avaliadas acima de US$ 1 bilhão antes de abrir capital. São identificadas por seu alto grau de inovação e rápido crescimento. Já os camelos são as startups cujo foco principal é a sobrevivência. São empresas feitas para durar. Elas não buscam um crescimento agressivo e, sim, sustentável e possuem visão de longo prazo. Os camelos são capazes de crescer até durante a crise financeira.

Machado explica que a procura dos investidores por startups deste tipo tem aumentado no período da pandemia, especialmente porque mesmo encontrando a cura para o novo coronavírus, os impactos na economia devem ser sentidos ainda por muitos anos.

Por incrível que pareça, mesmo na hora de escolher um segmento para investir em startups, a lógica é a mesma que no capital aberto. Startups desenvolvidas em nichos de mercado mais resilientes, que não paralisam na crise podem oferecer uma segurança maior ao investidor. E o risco de quebrar é menor.

Machado destaca alguns setores bons para investir em startup: edutechs, healtechs, aplicativos focados em entrega (delivery ou e-commerce) e startups focadas em entretenimento online.

A lógica do equity crowdfunding

Esta modalidade de investimento surgiu no Brasil em 2014, mas está em alta nos últimos meses. O equity crowdfunding é uma espécie de financiamento coletivo regulamentado pela CVM no qual o investidor pode comprar uma cota de uma startup a um preço muito menor que um investimento-anjo. Há muitas cotas ofertadas a partir de R$ 1 mil.

Além de permitir entrar com um valor menor, Machado aponta o equity crowdfunding como uma forma de minimizar o risco ao investir seu capital apenas em uma única startup. Nesta modalidade, é possível diversificar e comprar cotas pequenas de várias startups, o que se traduz em prejuízo menor caso uma delas quebrar.

Outra diferença com o investimento-anjo é o grau de comprometimento. Teixeira, da GV Angels, explica que ser investidor-anjo de uma startup pode trazer mais responsabilidades ou garantir um contato mais próximo entre o investidor e a empresa.

Quando você compra apenas uma cota via equity crowdfunding, não existem estas responsabilidades. Muitas vezes o investidor não tem direito a voto. “O crowdfunding é perfeito para o investidor que está interessado na companhia mas não quer ter um contato frequente com a startup e nem com o fundador da empresa”, explica.

Outra vantagem do crowdfunding é a possibilidade de fazer um ciclo de investimentos com o retorno dos recursos. Suponhamos que um crowdfunding ofereça a compra de cotas conversíveis no período de três anos, com remuneração de 20% ao ano. Isso significa que, provavelmente no segundo ano, o investidor pode resgatar seu dinheiro com o pagamento de juros de 20% cada ano.

Machado explica que um movimento muito recorrente dos investidores é resgatar esse valor investido no segundo ano com a remuneração dos juros e reaplicar em outra startup ou fundo anjo.

A outra opção é transformar o valor investidor em participação na startup, o que não é muito comum entre os investidores. “A maioria só transforma o dinheiro em cotas da companhia quando acredita que a startup vai sobreviver no longo prazo”, afirma Machado.

Com o dinheiro se multiplicando a cada resgate, o investidor tem mais chances de optar por alternativas melhores no ecossistema da inovação. Mas, como o investimento em startup se traduz no alto risco, a recomendação dos especialistas é que seja aplicado no máximo entre 15% e 20% do patrimônio em equity crowdfunding.

Outro aspecto que deve ser avaliado neste tipo de investimento é que muitas vezes a companhia ainda não tem um balanço financeiro estabelecido, tudo é com base em projeções. Algo semelhante a comprar um ativo futuro. Para não errar na escolha é preciso avaliar alguns detalhes:

  • Entenda o estágio no qual a startup está: existem 3 níveis. No nível da ideia, a startup precisa do recurso para gerar o produto, aqui o retorno do investimento deve ser elevado. O segundo estágio é o do produto, aqui é preciso monetizar. O investidor precisa avaliar o que é necessário e quanto custa este produto. E se o mercado será receptivo. Na terceira fase, a do negócio, deve ser considerada a rentabilidade do dinheiro aplicado. Qual é o retorno que a startup oferece pelo dinheiro investido?
  • Conheça a companhia: saiba qual é o tipo de negócio, como a empresa foi estruturada, se possui CNPJ, qual é o faturamento que pode conseguir. E se a ideia e plano de negócios foi validada pelo mercado.
  • Certifique-se sobre a propriedade intelectual: Se há uma coisa que abunda no mercado é conflitos por propriedade intelectual. Entenda quem é o dono da ideia na startup
  • Faça dois questionamentos para a startup: Porque devo investir em você? E porque agora? E avalie o grau de maturidade do negócio nestas respostas.

Investimento Anjo

Se você é daqueles que busca um contato mais próximo com a startup, e quer acompanhar de perto o crescimento do negócio, com participação ativa na tomada de decisão uma alternativa é se tornar investidor anjo. Algumas comunidades de “anjos” já aceitam investidores com participação inicial de R$ 10 mil, outras como a GV Angels pedem um valor mínimo de R$ 20 mil.

Para quem está começando no investimento anjo Wlado Teixeira recomenda não aplicar além de 5% ou 10% do patrimônio. O valor deste tipo de investimento é maior do que o crowdfunding, em consequência o recurso vai para um número menor de startups e o risco é concentrado.

Teixeira também adverte sobre a importância de entender a cultura do investimento. Para ele os investidores anjos precisam necessariamente ter experiência com outros ativos voláteis, por exemplo a renda variável. Se você nunca comprou uma ação, é melhor esquecer este tipo de investimento.

Veja outras dicas do especialista:

  • Antes de investir em uma startup dedique um tempo a conhecer o ecossistema de investidores. Procure comunidades de investidores anjos. Muitas faculdades já oferecem esta opção, mas também é possível procurar comunidades como a GV Angels ou incubadoras de negócios.
  • Não coloque uma parcela grande dos seus recursos de cara na startup. Teixeira aconselha começar investindo apenas 5% dos recursos. Após o primeiro ano de vida da empresa pode aumentar para 7%. E tente não superar os 10% de patrimônio até os 3 anos de vida da startup.
  • Não analise sozinho se a startup vale a pena. Procure outros investidores que já aplicaram nela para saber se a empresa está indo bem, quais são as dificuldades dela e se o gestor tem capacidade de liderança.

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