Finanças
Vendidos em dólar, comprados em emergentes: a tese de 6 gestoras
Ibiuna Investimentos, Verde Asset, Kapitalo, Genoa Capital, Kinea e UBS apontam para o enfraquecimento do dólar ante moedas de países em desenvolvimento.
“Se algo não pode continuar para sempre, então vai parar”. A frase, do economista e conselheiro do governo Nixon, Herbert Stein, pode servir como uma analogia aos principais dados de atividade e inflação de algumas economias desenvolvidas e emergentes, já que reforçaram as expectativas de que o ciclo de alta de juros deve estar mesmo chegando ao fim. E as recentes cartas das principais gestoras independentes do país vão pela mesma direção.
A combinação entre surpresas de inflação em desaceleração e a perspectiva de alívio monetário nos Estados Unidos induziu a quedas nas curvas de juros pelo mundo, enfraquecimento do dólar americano e forte performance dos ativos de risco, inclusive renda variável e emergentes, aponta a Ibiuna Investimentos, em sua última carta a clientes.
A casa viu seu portfólio se beneficiar principalmente das posições aplicadas em juros de países emergentes e desenvolvidos, assim como das posições vendidas em dólar e compradas em moedas de forte carrego (originárias de países latino-americanas com juro alto).
Mas outras gestoras fazem coro e também sinalizaram em suas cartas estarem “compradas” em moedas emergentes e vendidas na moeda norte-americana, a exemplo da Verde Asset, que atua no mercado brasileiro e internacional de ações, renda fixa e moedas sob a gestão de Luis Stuhlberger.
“Em moedas estamos praticamente zerados no dólar contra o real, mantemos posição comprada na rúpia indiana contra o renminbi chinês e aumentamos posição no peso mexicano contra o euro”, aponta a Verde
trecho de carta da verde asset
A Ibiúna Investimentos apontou manter o carry trade (quando se toma dinheiro em um país com juros baixos e se aplica em outro com taxas maiores) com viés vendido em dólar e comprado em moedas na América Latina, inclusive o real.
De forma semelhante, a Kapitalo aumentou as posições compradas no real, no iene japonês e na coroa norueguesa, e reduziu posições vendidas no peso colombiano e compradas no peso mexicano e dólar australiano. Os gestores também se mantiveram vendidos em euro, yuan chinês e baht tailandês.
Por sua vez, a Genoa Capital aponta em sua mais recente carta apostar na alta do real contra o dólar americano e uma cesta de moedas. “Estamos comprados no peso mexicano e no florim húngaro, e vendidos no euro contra o dólar americano”. A casa revela também ter apostas táticas nos juros nominais do Chile, da Colômbia e do México.
A resposta para os olhares voltados praticamente para o mesmo lado é o maior controle inflacionário dos emergentes, como observou a Kinea em recente carta. A gestora de recursos independente acredita que ativos de risco nestes mercados devem brilhar intensamente elevados “pela graça da queda das taxas de juros”.
A Europa, por sua vez, sofre a combinação de uma economia fraca e uma maior convergência inflacionária, o que afeta suas moedas, aponta a gestora.
Em julho, o UBS já tinha “cantando a bola” ao indicar que estava com posicionamento neutro em moedas historicamente fortes, como euro, libra esterlina e franco suíço, e que mantinha o dólar americano como moeda de menor preferência e o iene japonês, como maior.
E segundo projeta o Goldman Sachs, a América Latina deverá continuar mantendo um certo equilíbrio em 2024, com mais progressos para a inflação e realinhamento de metas nos Bancos Centrais da região, que teve uma normalização da atividade econômica entre final de 2021 e início de 2022.
Isso possibilitou muitos países latinos se anteciparam à alta de juros nos Estados Unidos, o que permitiu estarem hoje com suas economias em boas condições e uma menor depreciação de suas moedas em relação ao dólar como resultado disso.
Ainda assim, algumas taxas de juros da região permanecem mais altas que as do Federal Reserve (Fed), o que desacelera a saída de capitais e mantém as moedas fortes em relação ao dólar.
Ainda assim, o Goldman Sachs alerta que o ambiente permanece desafiador e representa um risco até mesmo para os “aviadores mais experientes”, já que autoridades latino-americanas (fiscais e monetárias) precisam continuar concentradas e disciplinadas para gerir riscos e incertezas.
“É esperado que alguns Bancos Centrais da região façam cortes moderados em suas taxas de juros ao longo de 2024 [a fim de controle inflacionário], e que outros sejam mais conservadores”.
GOLDMAN SACHS, EM RELATÓRIO
O banco americano projeta uma inflação moderada na América Latina em 2024, mas ainda acima da meta dos BCs.
Na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru é esperado que a inflação recue em 2024. Veja abaixo:
Como investir em países emergentes
Para os investidores que queiram expor parte da carteira a mercados emergentes, existem opções focadas no segmento.
Além dos fundos multimercados – como os das gestoras citadas na matéria – que podem investir em diferentes ativos, de moedas a juros, inflação e ações locais, outra opção é através de fundos de índice.
Um exemplo é o iShares JPMorgan USD Emerging Markets Bond ETF (EMB), negociado em dólar na Nasdaq. O fundo investe em títulos do governo de países, como, Peru, Qatar, Polônia, Brasil, República Dominicana, Hungria, África do Sul, Argentina, Venezuela, Panamá, entre outros.
No ano, o ETF acumula alta de 7,2% até 7 de dezembro. No entanto, para investir é necessário ter conta em corretora global.
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