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Ação em foco: Petrobras retoma alta com a volta dos dividendos generosos

Papel da petroleira fecha em alta de 3,77% após a divilgação de dividendos de R$ 0,94 por ação – 40% maiores que os do trimestre anterior

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O terceiro trimestre da Petrobras marca uma espécie de volta ao jogo para a petroleira. Após uma primeira metade do ano turbulenta, impactada pela queda dos preços do petróleo global e por um aumento de custos na cadeia do setor, a gigante de óleo e gás, começa a reverter boa parte dos ventos contra que levaram PETR4 a cair 14,3% no ano.

A ação fechou em alta de 3,77% no pregão desta sexta, a R$ 32,18. Apesar dos resultados operacionais acima do esperado no terceiro trimestre, os investidores se animaram mesmo com a distribuição de dividendos intercalares, relativos ao terceiro trimestre, acima do esperado.

A Petrobras registrou lucro líquido de US$ 6,03 bilhões – R$ 32,7 bilhões – no terceiro trimestre, alta de 2,7% na comparação anual, e confirmou o pagamento de proventos no valor de R$ 12,16 bilhões, equivalente a R$ 0,94 por ação. Trata-se de um aumento de 40% ante os dividendos anunciados no segundo trimestre.

Na comparação com o segundo trimestre, a alta no lucro foi de 23%. “Isso é positivo considerando a queda do preço do Brent. Esse desempenho reflete, principalmente, o aumento da produção”, afirma João Daronco, analista da Suno. Entre 20 de junho e o final de setembro, ou seja, o grosso do trimestre, o barril caiu 15%.

Nada mau para quem começou o ano divulgando um prejuízo líquido de R$ 17 bilhões. O resultado se refere ao quarto trimestre de 2024, cujos números vieram a público em fevereiro.

Já nos primeiros três meses de 2025, os números apresentaram uma melhora significativa. A Petrobras registrou um lucro líquido de R$ 35 bilhões. Mas o balanço trouxe um dado que deixou muitos analistas com a pulga atrás da orelha: um aumento de quase US$ 2 bilhões nos investimentos, que poderia atrapalhar o tráfego de dividendos no futuro.

Muitos especialistas que acompanham a companhia passaram a questionar a aceleração dos gastos com produção e exploração. Isso diante de um cenário de queda de preços da commodity, além de um potencial excesso de oferta em meio aos sinais de retomada de aumentos de produção por parte dos principais países produtores integrantes da Opep+, o que de fato ocorreu.

A partir de abril, a Organização de Países Produtores de Petróleo passou a autorizar, mês a mês, a elevação da produção. No acumulado até o momento, o grupo permitiu aos associados aumentar a meta agregada em mais de 2,9 milhões de barris diários. O número equivale a uma oferta extra de 2,7% do total global.

O barril do petróleo Brent tem sido negociado nos últimos meses na faixa dos US$ 63 a US$ 70, no menor patamar desde meados de 2021. No ano, a cotação da commodity saiu da casa de US$ 80 para os atuais US$ 64.

O golpe mais forte para a ação da Petrobras, no entanto, veio mesmo após os resultados do segundo trimestre. Por causa da queda do preço do petróleo no período, a empresa decidiu rever alguns investimentos e a política de distribuição de dividendos extraordinários, ou seja, além da política normal da empresa, que é a de distribuir 25% do lucro A Petrobras anunciou em agosto que não faria mais pagamentos de proventos extras em 2025, uma prática que se tornou sua marca nos anos anteriores.

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PETR4 chegou a recuar 8% na semana após a divulgação de resultados do segundo trimestre. A contínua queda do preço do barril ao longo do terceiro trimestre também pressionou os papéis da petroleira que, na mínima do ano, alcançou R$ 29,17 em 9 de junho.

Ao longo da segunda metade do ano até agora, a cotação do papel se manteve entre esse piso de R$ 29 e o teto de R$ 32,77, ocorrido em 30 de julho.

O jogo parece que começou a mudar no terceiro trimestre. Os fantasmas do passado recente enfraqueceram, mesmo com o Brent no menor nível desde 2021, conforme indicaram a volta dos dividendos e os resultados acima do esperado.

A ampliação dos proventos retomou um dos principais atrativos do papel, ainda que a aprovação no Senado da tributação sobre dividendos a partir de 2026 possa ter inspirado a petroleira a antecipar o pagamento antes que 2025 acabe e a nova regra passe a valer.

No lado operacional, o terceiro trimestre trouxe o recorde histórico de produção. A marca de 3,14 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed) significa uma expansão de 17% em relação ao mesmo período do ano passado.

Só no pré-sal, a companhia alcançou 2,56 milhões de barris de óleo equivalente por dia. Entre os destaques, o campo de Búzios, o maior produtor do país, atingiu pela primeira vez 1 milhão de barris por dia (89% aí ficam com a Petrobras; 11%, com as estatais chinesas CNPC e CNOOC, sócias na empreitada).

No médio prazo, os novos sistemas de produção, que entrarão em operação até 2027, devem somar mais 900 mil barris diários adicionais de capacidade.

Um outro fator que tende a pesar favoravelmente para a companhia foi a obtenção, em 20 de outubro, da licença operacional para perfuração do primeiro poço na Margem Equatorial, no litoral do Amapá, avaliada como a principal nova fronteira exploratória – e que pode significar quase um novo pré-sal para a companhia. A Petrobras prevê a perfuração de oito poços exploratórios na região nessa primeira fase.

O único – e maior – vento contra, porém, ainda não saiu do radar. Os preços deprimidos do petróleo, por enquanto, estão na conta. Se caírem mais, porém, podem trazer novos revezes para a ação da gigante estatal.

Mas, para alívio do mercado, no fim de outubro a Opep+ decidiu pausar as elevações com medo de um excesso de petróleo na praça. A lembrança de crises recentes, quando, em 2020, o preço do barril chegou a cair abaixo de US$ 20, certamente pesou.

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