Capitalização da Cosan: qual é o efeito para quem tem ações da empresa?

Os minoritários só terão direito de preferência na segunda emissão, bem menor, de 550 milhões de papéis

Duas grandes ofertas de ações vão injetar bilhões na Cosan – e, se você tem as ações, pode sair prejudicado, ao menos num primeiro momento.

Isso porque a operação não vai dar direito de preferência aos investidores, o que fará com que eles percam espaço na estrutura de capital da empresa. Os minoritários ficarão ainda mais minoritários, poderíamos dizer. Por outro lado, a medida torna o futuro mais promissor para a companhia.

A diluição é automática porque a primeira emissão, de 1,45 bilhão de papéis, ficará integralmente nas mãos do BTG Pactual, Perfin e da família Ometto. Os minoritários só terão direito de preferência na segunda emissão, bem menor, de 550 milhões de papéis.

Levando em conta só a primeira emissão, cada ação atual ficará diluída em 43%. Em suma: se uma ação desse direito a R$ 1 de dividendos em algum momento, agora ela só dará a R$ 0,57 (43%).

A Cosan é dividida hoje em 1,87 bilhão de ações. Com mais 1,45 bilhão, a “nova Cosan” terá 3,3 bilhões no início. Mas quase metade estará nas mãos dessa nova holding, formada por BTG, Perfin e os Ometto.

Movimentos assim geralmente são acompanhados pelo “direito de preferência”, quando há pelo menos a possibilidade de os minoritários adquirirem açõe (injetando dinheiro na empresa para não ficar diluído). Não foi o caso.

Excluir o direito de preferência é uma prática controversa e não costuma ser bem recebida no mercado. Mas, no caso da Cosan, ninguém pode dizer que não foi avisado: a retirada do direito de preferência está prevista no estatuto da companhia.

Numa situação como essa, a única coisa que o investidor pode fazer para continuar com o mesmo tamanho dentro da estrutura da empresa é participar da segunda rodada de emissão de ações, comprando papéis na mesma proporção para garantir o que tinha, e adquirir o restante no mercado.

Mas esse copo tem um lado bem cheio. Com uma capitalização total de R$ 10 bilhões, a dívida líquida do grupo vai ter uma redução de quase 60%. Vai sair dos atuais R$ 17,5 bilhões para R$ 7,5 bilhões. Contado de outro modo: o múltiplo dívida líquida em relação ao ebitda (lucro operacional), que é a métrica mais tradicional usada por investidores para medir o peso do endividamento, poderia recuar de 3,4 vezes vistos no fim do segundo trimestre para até 1,3 vez – um patamar saudável.

Os números se referem à holding Cosan Corporativo. A estrutura foi criada para separar a parte financeira e societária do grupo em relação às controladas operacionais, como Raízen, Rumo, Compass, Moove e Radar.

O grupo como um todo acumular uma dívida líquida bem maior, de cerca de R$ 50 bilhões. A maior parte da dívida do grupo está concentrada na Raízen, de R$ 49 bilhões, segundo dados do último trimestre. A Raízen é uma joint venture entre a Cosan e a Shell, cada uma com 44% de participação.

De qualquer modo, uma redução tão forte do endividamento (ou da alavancagem, como o mercado costuma chamar), abre perspectivas positivas para a Cosan. No mínimo, confere fôlego para a companhia avançar em seu processo de reestruturação. O custo com juros e outras despesas financeiras no segundo trimestre deste ano, por exemplo, alcançou R$ 583 milhões. Com a queda do endividamento, o peso do serviço da dívida pode cair para a casa dos R$ 240 milhões trimestralmente.

A ação ordinária (ON) da Cosan recuava 26,43% às 12h15 para R$ 5,89. O preço busca se ajustar ao valor indicado como base para a oferta, de R$ 5. Antes da oficialização do negócio, o papel chegou a ser negociado a R$ 8 na máxima vista em 17 de setembro. A ação ganhou força diante dos movimentos de venda de ativos pela Raízen e, justamente, pelas notícias sobre uma potencial capitalização.

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