CDBs estão rendendo menos? Por que a aposta em corte de juros já está mexendo com a renda fixa

Em julho, rendimento dos títulos bancários chegava a 120%; hoje, não passam de 107%.

Quando muita gente quer a mesma coisa, o preço dessa coisa sobe. E, no caso dos títulos de renda fixa, sempre que os preços sobem, as taxas deles recuam. É a regra, e é o que está acontecendo com os CDBs: com tanta gente se estapeando por títulos de dívida, dada a Selic no nível em que está, a remuneração desse produto vem caindo.

O Banco Central decidiu ontem (17) manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, o que deve fazer esse movimento continuar ao menos no curto prazo. Ele provavelmente deve mudar quando a Selic começar a cair – o que pode começar a acontecer no fim do ano, segundo a expectativa dos economistas. Então, o investidor parece disposto a aproveitar os momentos finais de Selic e CDI nas máximas.

Na prática, o que essa demanda maior por CDBs está causando é uma redução nos spreads – a taxa acima do CDI que esse produto paga ao investidor. Isso fica claro quando se olha para os últimos três meses. Segundo levantamento da Quantum Finance, a remuneração máxima nos títulos com vencimento em três meses era de 120% do CDI em julho. Agora, em setembro, as emissões do mesmo prazo estão saindo ao redor de 103% do CDI. O mesmo fenômeno se vê em outros vencimentos, entre seis meses e dois anos.

Quando se olha a taxa média também houve uma queda. Em julho, os CDBs de três meses rendiam em média 100,79% do CDI. Agora, essa taxa caiu para 99,83%.

Considerando as taxas máximas desde o começo do ano, o movimento é ainda mais pronunciado: de janeiro a setembro deste ano, considerando todos os vencimentos, a taxa máxima das emissões chegava a 125%.

Mas não é só o futuro da Selic que influencia o rendimento dos CDBs. Lucas Batista, sócio do banco de investimento Archx Capital, lembra que o outro lado da moeda tem a ver com a necessidade de captação dos bancos.

Hoje, com a economia em desaceleração e os juros em nível alto, a concessão de crédito perde força. E é o esperado. Afinal, o juro elevado serve para isso mesmo: com menos crédito na praça, comprime-se o consumo e, claro, controla-se a inflação. Nesse cenário, os bancos ficam mais seletivos na oferta de empréstimos.

O CDB é um instrumento bem importante para os bancos conseguirem funding para os empréstimos. Se os bancos estão colocando o pé no freio no crédito – ou, no mínimo, tirando o pé do acelerador –, então a necessidade de levantar esses recursos diminui. E isso explica a queda do rendimento dos CDBs.

Com a Selic caindo, o esperado é o inverso: a economia tende a ganhar mais força, a necessidade de crédito das empresas e das pessoas aumenta e o banco precisa captar mais. Com menos pessoas buscando títulos de renda fixa, já que a atratividade desse segmento será menor, é a hora em que as instituições precisam subir os spreads para convencer o investidor a comprar seus papéis.

A mensagem, então, é simples: enquanto houver excesso de demanda, as taxas seguirão contidas. Quando a Selic recuar e o crédito acelerar, a conta inverte. É a hora em que a sua prateleira de produtos começará a exibir números mais gordos.

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