O rali começou na segunda-feira (27), quando a empresa anunciou um acordo de US$ 500 milhões com o fundo soberano da Arábia Saudita (PIF) para criar a Sadia Halal — uma joint venture com planos de IPO no Reino em 2027 —, o que levou a uma alta de 6,45% e abriu caminho para a disparada desta terça.
O movimento comprador não teve um fluxo específico, vindo de diversas corretoras, o que pode indicar que os investidores estão saindo da posição vendida (short) para a compradora (long).
Os operadores ouvidos citaram a possibilidade de um short squeeze, que é justamente quando aqueles que estão apostando na queda do papel precisam correr para cobrir suas posições “vendidas”, mas atribuíram o principal movimento a grandes investidores que formaram a “força compradora” no dia.
Quando um investidor quer ganhar com a baixa de uma ação, ele a aluga de outro investidor e a vende na sequência, pagando uma taxa ao dono e esperando para recomprá-la mais barato depois. Quando a ação começa a subir, porém, ele precisa correr para comprar os papéis para devolver a quem os emprestou e frear as perdas.
Vira uma bola de neve: os investidores começam a comprar, outros são pressionados a fazer o mesmo e o papel continua subindo: é o short squeeze. Hoje, 13,7% das ações em circulação da MBRF estão alugadas. Não existe um número específico de papéis alugados que determine que uma ação passará ou não pelo squeeze, mas profissionais de mercado observam que acima de 15% é uma fatia relevante.
A quantidade de dias necessários para zerar as posições de aluguel também conta nessa matemática: entre 5 e 8 dias é um ponto de atenção – no caso da MBRF, são 7,2 dias.
Da desconfiança ao rali
Segundo operadores ouvidos pelo InvestNews sob reserva, o papel vinha sob forte pressão desde o anúncio da fusão, em maio, acumulando queda de cerca de 10% até a véspera. Desde então, as ações — sobretudo as da antiga BRF — vinham sendo penalizadas pela relação de troca: cada papel da dona da Sadia passou a equivaler a 0,85 ação da nova MBRF, embutindo um deságio.
O cálculo foi contestado por investidores como a Previ e a Latache Capital, que recorreram à Justiça e à CVM para tentar barrar a fusão. Mesmo assim, o negócio foi aprovado; a Latache, porém, abriu uma arbitragem pedindo o cancelamento da operação. Para o mercado, a fusão trouxe ganhos potenciais de sinergia e eficiência, mas sem clareza imediata sobre quando esses benefícios se refletiriam nos resultados.
Diante da incerteza, prevaleceu o movimento de venda. A percepção de que uma piora no ciclo do frango nos Estados Unidos poderia respingar no Brasil ajudou a aumentar a pressão vendedora nas últimas semanas.
O acordo com o PIF, no entanto, mudou a narrativa. Investidores que antes estavam céticos voltaram a comprar ações, apostando que o negócio destrave valor e eleve a rentabilidade. Fundos que apostavam na baixa também foram forçados a recomprar papéis, ampliando a pressão compradora.
Com o salto de hoje, a MBRF recupera praticamente toda a perda acumulada desde a fusão e passa a subir 10% em 2025.
Fusão
A fusão entre Marfrig e BRF foi longa e ruidosa. Desde 2021, quando o empresário Marcos Molina começou a investir na dona da Sadia, ele já destinou mais de R$ 15 bilhões entre aumentos de capital e compras de ações.
Molina sempre sustentou que a aposta valia pelas marcas — Sadia, Perdigão e Qualy —, que em sua visão tinham valor superior ao desembolso feito para assumir o controle.
Superadas as etapas da fusão, o empresário mira agora o próximo passo: levar a MBRF à Bolsa de Nova York, em movimento semelhante ao da rival JBS, reforçando a ambição de transformar o grupo em um player global de alimentos.
