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Futuro de bitcoin movimenta R$ 1,8 trilhão na B3 – 14 vezes mais que BTC e stablecoins

Um contrato futuro é um acordo para comprar ou vender algo em uma data posterior por um preço combinado hoje

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A stablecoin USDT, que não sai da boca do povo, e o famosinho bitcoin (BTC) são as criptomoedas mais negociadas no Brasil. Mas há um produto financeiro cripto, disponível na B3, cujo volume mensal é 14 vezes maior do que o registrado pelas duas moedas digitais “pop” somadas: o contrato futuro de bitcoin, ou BIT, para os mais chegados.

Um contrato é um acordo para comprar ou vender algo no futuro por um preço combinado hoje. Na prática, quem compra esse produto não adquire bitcoin de verdade, mas aposta na variação do preço da criptomoeda.

No caso brasileiro, cada contrato equivale a 1% do valor do bitcoin. Ou seja, como o BTC está sendo negociado por R$ 554 mil nesta quarta-feira (12), um contrato vale R$ 5,54 mil. O preço dele, portanto, sempre acompanha o sobe e desce da cripto.

De acordo com dados dos boletins diários de informações da bolsa de valores, entre janeiro e outubro deste ano o volume negociado de contratos futuros de bitcoin, lançados em abril do ano passado, somou R$ 1,8 trilhão no Brasil – valor que o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, vai investir por aqui até 2026.

No mesmo período, as negociações de bitcoin e USDT nas exchanges locais somaram R$ 128 bilhões. Ou seja, foram negociados 14 vezes mais futuros de BTC nos últimos 10 meses do que transações no mercado à vista nas corretoras de ativos digitais.

Como o futuro de bitcoin funciona?

Agora vamos aos detalhes. Hoje, ao abrir o home broker, há dois contratos futuros de bitcoin sendo negociados: o BITX25 e o BITZ25. Na bolsa, cada mês tem uma letra – o X representa novembro e o Z, dezembro. Já o número 25 se refere ao ano.

Vamos supor que uma pessoa compre o contrato BITX25 e, no próximo mês, o bitcoin suba dos atuais R$ 554 mil para R$ 600 mil. Como o contrato está atrelado ao valor da cripto, ele pularia de R$ 5.540 para R$ 6.000, gerando um ganho bruto de R$ 460 por contrato.

Mas se o bitcoin cair para R$ 500 mil, o contrato caíria para R$ 5 mil e o prejuízo seria de cerca de R$ 500.

O pulo do gato

A grande sacada é que o investidor não precisa ter os R$ 5.540 inteiros em mãos para operar. Basta ter um valor bem menor chamado margem de garantia.

Para negociar futuros de bitcoin, a B3 exige uma margem mínima de R$ 50 por contrato – uma espécie de caução para cobrir eventuais prejuízos com as oscilações do ativo. Isso significa que, com apenas R$ 50, o trader controla uma posição de R$ 5.540, configurando uma super alavancagem. Algumas corretoras podem exigir valores maiores, de acordo com suas próprias políticas de risco.

Se o preço subir e ele lucrar os tais R$ 460, o ganho será em cima desse valor investido como garantia, ampliando enormemente o retorno percentual. Mas se o preço cair, o prejuízo também é debitado da conta do investidor, sendo igualmente amplificado.

Se a perda for grande e a margem cair abaixo do mínimo exigido, a corretora faz um chamado de margem (ou margin call, em inglês). Na prática, é um aviso de que o investidor precisa repor dinheiro imediatamente para continuar posicionado. Por exemplo: se o trader começou com R$ 50 e o mercado se moveu contra ele, causando uma perda de R$ 45, sua margem restante será de apenas R$ 5, acionando o margin call.

Se o trader não depositar o dinheiro a tempo, a corretora liquida automaticamente a posição, fechando os contratos no mercado e cobrando do investidor. Ou seja, o ganho pode ser alto, mas a perda também. É uma aposta.

Complicado? Um pouco. Mas mesmo assim, esse mercado vem chamando cada vez mais atenção dos investidores e segue bem aquecido – como os números bem mostram.

Volume de futuro de bitcoin chega a R$ 1,8 trilhão no ano

MêsContratos futuros de bitcoin (em R$)Bitcoin à vista (em R$)USDT à vista (em R$)
Janeiro339.112.078.4506.660.000.0007.870.000.000
Fevereiro253.977.999.1904.700.000.0006.290.000.000
Março223.990.581.9664.990.000.0006.360.000.000
Abril203.608.760.8964.980.000.0006.250.000.000
Maio326.759.422.6284.900.000.0007.290.000.000
Junho82.103.172.1425.180.000.0009.630.000.000
Julho95.172.043.1814.160.000.0009.300.000.000
Agosto92.800.176.9883.750.000.0008.300.000.000
Setembro74.470.548.0952.400.000.0007.640.000.000
Outubro108.491.762.6375.200.000.00010.510.000.000
Total1.800.486.546.17346.920.000.00079.440.000.000
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Exige um pouco mais de conhecimento

Geralmente, quem curte esse mercado são investidores com mais experiência e maior tolerância ao risco. Eles são atraídos, segundo Francis Wagner, head de criptomoedas da Hurst Capital, porque o mercado futuro oferece mais flexibilidade e eficiência de capital.

“Em vez de comprar a criptomoeda integralmente, o investidor precisa apenas depositar uma margem de garantia para operar, o que permite movimentar valores muito maiores e otimizar o uso de capital”, disse.

Matheus Gutierrez, analista de criptoativos da Levante Investimentos, também que é justamente a possibilidade de alavancagem – apostar com mais dinheiro do que se tem – que atrai muitos operadores.

“Isso atrai operadores que buscam ‘efeito multiplicador’ sobre o movimento do preço. Como consequência, o volume de contratos futuros tende naturalmente a ser muito maior do que o volume de operações ‘à vista’ (onde você efetivamente compra/vende o ativo)”, falou.

Além da busca por alavancagem, os contratos futuros de bitcoin também funcionam como uma ferramenta de proteção – o chamado hedge. Investidores e empresas que já têm criptomoedas em carteira podem vender esses contratos para se blindar contra uma queda brusca no preço do ativo. Assim, se o mercado cair, a desvalorização dos bitcoins que possuem é compensada pelo ganho obtido na posição vendida no futuro.

Riscos

Já deu pra perceber que esse é um mercado de risco elevado, né? O risco mais evidente, segundo os especialistas, é o da alavancagem, que amplia tanto os ganhos quanto as perdas. Há também o chamado risco de base, que é a diferença entre o preço do contrato futuro e o preço à vista do ativo.

E, claro, a volatilidade do bitcoin, que respiga no preço do contrato futuro. Apesar de estar meio morno nos últimos dias, o BTC costuma dar alguns solavancos. Em meados de outubro, por exemplo, ele encostou momentaneamente nos US$ 126 mil, maior preço da história. Na sequência, chegou a cair abaixo dos US$ 100 mil, para depois se estatabilizar nos atuais US$ 104 mil.

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