Newsletter

O “sumiço” de R$ 2,8 bi dos ETFs cripto brasileiros – e por que o investidor não fugiu

Apesar da queda no patrimônio líquido dos fundos em meio ao recuo do bitcoin e das altcoins, os investidores locais aumentaram a exposicão

Publicidade

A queda recente do mercado cripto atingiu em cheio os ETFs (fundos negociados em bolsa) brasileiros de ativos digitais. Desde a máxima histórica do bitcoin (BTC), em 6 de outubro, até esta terça-feira (25), o patrimônio líquido (PL) desses fundos caiu de R$ 9,7 bilhões para R$ 6,9 bilhões – um tombo de quase 30%.

O PL representa o valor total do fundo em determinado momento. Como esses ETFs compram criptomoedas, guardam em custodiante e vendem cotas que representam uma fração desses ativos, o patrimônio líquido recua quando os preços das criptos caem.

O bitcoin escorregou de US$ 126 mil no início de outubro para a faixa dos US$ 86 mil nesta quarta-feira (26), um deslize de 31% no período, impulsionado por um cenário global de aversão ao risco.

Dois exemplos: o HASH11, maior ETF local de criptmoedas, da gestora Hashdex, viu seu patrimônio liquido cair de R$ 4,3 bilhões no ápice do BTC para R$ 2,9 bilhões (o bitcoin tem peso de 74,20% no fundo). O PL do QBTC11, da QR Asset, que figura entre os maiores do Brasil, recuou de R$ 825,7 milhões para R$ 622,2 milhões.

No total, o Brasil tem cerca de 20 ETFs de criptomoedas. Os dados para esta reportagem foram obtidos nos boletins da B3 e no site Status Invest. BDRs de fundos não entraram no levantamento por não disponibilizarem dados isolados.

Brasileiros “compram a queda”

Apesar da queda no patrimônio líquido e do recuo no preço do bitcoin, os investidores brasileiros “compraram a queda”. Dados da CoinShares mostram que os ETFs locais acumulam entradas de US$ 20,9 milhões no mês (R$ 112 milhões) – o único país no positivo. Só na semana passada, as aplicações somaram US$ 3,5 milhões (R$ 18,7 milhões). Fora o Brasil, apenas a Austrália registrou resultado positivo, com US$ 2 milhões (R$ 10,7 milhões), no mesmo período.

Enquanto isso, os produtos globais de investimento em ativos digitais tiveram saídas de US$ 4,59 bilhões (R$ 24,64 bilhões) no acumulado mensal. Na semana passada, as retiradas chegaram a US$ 1,9 bilhão (R$ 10,2 bilhões), puxadas principalmente pelos produtos dos Estados Unidos, que viram US$ 1,6 bi (R$ 8,6 bi) em retiradas.

O número de cotistas de ETFs cripto no Brasil também aumentou no período: a quantidade pulou de 270,2 mil investidores em 6 de outubro, data da máxima do bitcoin, para 276,7 mil atualmente.

Os ETFs de cripto no Brasil têm uma dinâmica diferente, segundo Henry Oyama, diretor da Hashdex. “Vemos resgates em momentos de euforia e novas aplicações quando há correções, refletindo um investidor mais disciplinado e experiente. Essa maturidade é resultado de anos de trabalho em educação e estruturação de produtos regulados”, falou.

Por que os ETFs de cripto se popularizaram

O primeiro ETF cripto do Brasil foi lançado em 2021. De lá para cá, outros foram criados. Esses produtos atraíram investidores porque têm exposição às criptomoedas, mas funcionam no mercado regulado de fundos negociados em bolsa, com regras já estabelecidas no país há algum tempo.

Isso facilitou a entrada tanto do varejo quanto de investidores institucionais – muitos deles ainda impedidos, por política interna, de operar diretamente em exchanges, que oferecem a possibilidade de investir diretamente em criptomoedas.

Os ETFs e fundos de cripto locais ainda continuam sendo dominados pelo investidor de varejo, segundo Theodoro Fleury, gestor e diretor de investimentos da QR Asset. “Esse público valoriza a simplicidade operacional do ETF e a ausência da necessidade de lidar com autocustódia, senhas e carteiras digitais”.

Ao mesmo tempo, segundo Fleury, há um crescimento gradual da participação institucional. “Essa tendência dialoga com o movimento global de profissionalização da classe de ativos, impulsionado pela entrada de grandes gestoras internacionais”, falou ele.

Publicidade

Já Oyama, da Hashdex, disse que os investidores de varejo começam com tíquetes menores, mas vê também uma presença crescente de institucionais que aproveitam distorções e oportunidades táticas.

Nos boletins de produtos da B3 dos últimos três meses, dois ETFs criptos figuram na lista dos 10 mais negociados do mercado, ao lado de fundos já ”famosinhos”, como o BOVA11, que replica o desempenho do Ibovespa.

Desvantagens e riscos

Se até o tesouro direto tem risco – mesmo sendo quase nulo –, os ETFs não seriam diferentes, ainda mais os atrelados a criptomoedas. O primeiro risco é justamente a volatilidade, que ficou evidente nos últimos dias com a queda do bitcoin.

ETFs menores também carregam o problema de liquidez – quando há pouca procura pelas cotas no mercado, pode ser difícil vendê-las sem ter de aceitar um preço mais baixo do que o de ativos equivalentes mais líquidos. Outro ponto: esses fundos mantêm as criptomoedas em custodiantes. Se houver qualquer problema com essas empresas, os ativos podem ser diretamente prejudicados.

Além disso, a negociação desses ETFs segue o horário da B3, de segunda a sexta. Já as criptomoedas operam 24 horas por dia, inclusive nos fins de semana. Por isso, se o investidor quiser aproveitar uma alta expressiva fora do horário de bolsa para realizar lucro, simplesmente não conseguirá.

Esses fundos ainda cobram taxa de administração e, por serem negociados na bolsa, estão sujeitos a corretagem e custódia das corretoras, além de emolumentos e à taxa de custódia da própria B3. Esses custos reduzem parte do retorno que o investidor teria com as criptos.

Exit mobile version