Culpa do cenário de juros altos: o mesmo que favorece excepcionalmente quem pode esperar. Com a Selic em 15% e a inflação na casa dos 4%, o tempo necessário para juntar o que você precisa tende a ser menor do que em situações normais – quando os juros estão mais próximos da inflação.
Há ainda uma terceira possibilidade: o meio termo entre financiamento e poupança. É o consórcio, que se baseia no sistema de poupança coletiva.
Só para lembrar como funciona: o valor que você quer contratar é dividido pelos cotistas dentro de um grupo. Por exemplo, se houver 50 associados, cada um vai pagar 1/50 do crédito por mês, em 50 vezes.
A cada mês, então, o grupo contará com o valor completo de um veículo. Há um sorteio entre os integrantes para ver quem poderá usar o montante naquele mês. E o dinheiro vem na forma de uma carta de crédito – uma espécie de cheque garantido pela administradora consórcio.
Depois disso, você continua pagando as mensalidade até a liquidação do grupo, claro, até que todos os participantes tenham sido contemplados com suas cartas de crédito.
Os participantes também podem obter o direito de usar o dinheiro por meio de um lance, ou seja, adiantando parcelas. Quem oferece mais leva (mais sobre isso adiante).
Uma quarta maneira para quem prefere não esperar para dirigir o carro novo é a assinatura. Nesse modelo, não há entrada nem financiamento. Você fecha um contrato de aluguel de longo prazo, de um ano a 48 meses.
Vamos ver aqui as vantagens e desvantagens de cada modalidade.
Quanto custa o financiamento
A opção mais comum é o financiamento. Todo mundo sabe que escolher fazer um empréstimo significa pagar mais pelo carro. Mas quanto a mais? Vamos usar um exemplo prático.
A premissa é a aquisição de um automóvel no valor de R$ 150 mil, caso, por exemplo, de um Jeep Renegade ou de um Nissan Kicks. Também vamos supor que você juntou uma entrada de R$ 75 mil e financiou o resto em 48 vezes.
As simulações nas plataformas de compra e venda de veículos mostram que, na média, você vai pagar R$ 2.860 por mês ao longo de quatro anos.
No fim, você terá desembolsado R$ 212 mil. Entram os R$ 75 mil de entrada mais R$ 137,2 mil pagos no financiamento. Ou seja, o seu carro novo terá saído por R$ 62 mil a mais do que numa compra à vista. Esse é o preço do imediatismo.
Juntar dinheiro e pagar à vista
Agora vamos comparar com o cenário de juntar dinheiro e pagar à vista. Em um período em que a taxa básica está no maior patamar em 19 anos, o poder dos juros compostos faz valer muito a pena essa estratégia. Ela faz o tempo de poupança cair bastante.
Para uma comparação simétrica, vamos imaginar o mesmo cenário do financiamento: você quer um carro de R$ 150 mil e já tem R$ 75 mil na mão. Pois bem.
Se você deixar aplicado os R$ 75 mil a 100% da CDI (que segue fielmente a Selic) e guardar os mesmos R$ 2.860 que seriam pagos na prestação, o investimento vai alcançar o valor que você precisa de um anos e 10 meses. Isso já considerando o rendimento líquido, depois dos 17,5% de imposto que o leão cobra para esse período.
Nessa simulação, usamos uma Selic média de 13%. Simplesmente porque hoje ela está em 15%, e o Boletim Focus prevê que ela feche 2026 a 12% e 2027 a 10,5%. Logo, faz sentido usar 13% como uma média realista.
Mas note que nesse período, de quase dois anos, o preço do carro deve subir. Para quanto? Ninguém sabe. Mas vamos supor que ele siga o IPCA, e que o índice de inflação média para esse período esteja de acordo com as previsões do Boletim Focus, do Banco Central: 4%.
Numa realidade assim, a mais provável, você vai precisar de R$ 162 mil. Com um CDI de 13% no período de um ano e 10 meses, com capital inicial de R$ 75 mil e aportes de R$ 2.860 mensais, você terá juntado – já líquido de IR – justamente R$ 162 mil.
Consórcio vale a pena?
E o consórcio? Em geral, os custos dessa modalidade ficam no meio termo de pagar à vista e financiar. Incluem uma taxa de administração, entre 10% e 20% do valor do crédito, além de uma taxa de fundo de reserva, de cerca de 2%.
Nas plataformas de consórcios, considerando que você já tem uma entrada de metade do valor do carro, as simulações para uma carta de crédito de R$ 75 mil trazem uma parcela mensal de R$ 1.750 em 48 vezes (4 anos). Isso resulta em um custo de R$ 84 mil, dos quais R$ 9 mil se referem às taxas de administração e do fundo de reserva. Nada da magia dos juros a seu favor, mas bem mais em cota que um financiamento.
Mas você precisa estar atento às taxas, claro. Se, por exemplo, esse custo fosse de 22% (com taxa de administração mais alta, de 20%, mais o fundo de reserva de 2%), o acréscimo sobre o valor pretendido seria de R$ 16,5 mil.
Os prazos mais comuns para consórcios são de 4 a 7 anos (48 a 84 meses). O ideal, então, é você ter juntado antes uma reserva para fazer lances. Se quiser brigar de verdade pela contemplação, você terá de oferecer algo entre 25% e 40% da carta de crédito.
Na prática, você tem como levar o carro antes do que conseguiria se fosse juntando para comprar à vista. As taxas do consórcio são o preço por esse privilégio.
Assinatura também é opção
Na modalidade de assinatura de veículos, as plataformas têm cobrado em torno de R$ 3,6 mil por mês para o aluguel de um veículo na faixa pretendida, como um Jeep Renegade Longitude ou um Nissan Kicks, em planos de 24 e 36 meses.
O valor inclui o uso do automóvel mais o imposto sobre propriedade de veículos automotores (IPVA), seguro e manutenções. Isso significa que você vai desembolsar cerca de R$ 43,2 mil a cada ano para ficar livre de preocupações com IPVA, seguro e oficina. Outra vantagem é pegar um carro zero quilômetro e no mesmo prazo de comprar financiado ou à vista. Além de não precisar gastar nada de entrada.
O aluguel parece menos vantajoso comparado a comprar. Mas se colocarmos em perspectiva os custos fixos de um automóvel que você adquiriu zero quilômetro a percepção pode mudar.
Em buscas por sites de compra e venda de automóveis e utilitários, é possível calcular a depreciação do preço pago no carro zero após um ano de uso. Essa redução se situa em uma faixa entre 15% a 20% nos primeiros 12 meses. Esse custo representa de R$ 22,5 mil a R$ 30 mil para um veículo que custou R$ 150 mil.
E tem ainda os custos de impostos e seguro. O IPVA anual em São Paulo tem uma alíquota de 4% sobre o valor venal. No nosso caso, o imposto alcançaria R$ 6 mil.
Já o seguro do veículo se situa entre 6% e 7% do valor do veículo anualmente. Isso representa um montante total de cerca de R$ 9 mil a R$ 10,5 mil.
Então o custo mensal do IPVA mais o seguro alcançaria R$ 1,3 mil. Se considerarmos a depreciação, o custo total para o dono do veículo vai ficar entre R$ 38,5 mil a R$ 46 mil ao fim do primeiro ano de uso, sem contar os custos de revisões obrigatórias que podem acrescentar mais R$ 1 mil nessa conta.
Na média entre o menor e o maior valor anual, o gasto com a assinatura é, basicamente, o mesmo. O custo mensal vai variar de R$ 3,3 mil a R$ 3,9 mil contra os R$ 3,6 mil da locação.
É claro que a partir do segundo ano de uso esses custos para o dono do carro caem consideravelmente. Isso porque o veículo apresenta uma depreciação menor, entre 7% e 10%. Além disso, como o valor venal do veículo caiu, o IPVA também fica menor. Da mesma forma, com o carro valendo menos, o custo da proteção também recua.
A depreciação no ano, portanto, vai se reduzir para uma cifra em torno de R$ 12 mil. O seguro também recua para um custo de R$ 8 mil anuais. Já o IPVA vai para R$ 5 mil. No total, são R$ 25 mil no ano. Bem menos que os R$ 43,2 mil da assinatura ou uma diferença de R$ 18,2 mil.
Mas se você mantiver o valor que tinha economizado para a entrada naquele CDB a 100% do CDI o jogo muda. No fim de 24 meses, os R$ 75 mil terão se tornado R$ 99 mil ou um ganho de R$ 24 mil. A conta mostra que o retorno da aplicação teria mais que compensado a diferença da assinatura.
A conclusão é que assinar um carro pode ser vantajoso no primeiro ano, uma vez que você não terá de se preocupar com IPVA, seguro, depreciação ou manutenção. Mas representa um custo extra crescente a partir do segundo ano em diante.
E se o carro for um usado?
Mas tem outra conta possível de ser feita. E se em lugar de um automóvel 0 km a intenção fosse comprar um seminovo de um ano de uso?
Os preços de seminovos com 1 ano já embutem a depreciação de 15% a 20% em relação ao zero quilômetro.
Na prática, quem juntou o dinheiro para comprar um veículo, se optar por um seminovo de 1 ano e baixa quilometragem, poderá adquirir um modelo de categoria superior comparado ao novo.
Ou seja, com R$ 150 mil você compra um automóvel usado, que, se fosse 0 km, custaria de R$ 172 mil a R$ 180 mil.
Seria uma escolha como trocar um Jeep Renegade zero por um Compass seminovo ou, em outro exemplo, um VW T-Cross na vitrine da concessionária por um Toyota Cross com um ano de garagem.
