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Venda recorde de criptomoedas levanta dúvidas sobre quem foi varrido do mercado

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No dia seguinte à maior queda diária já registrada no mercado de criptomoedas, todo o setor tentava descobrir quem ficou “segurando a bomba”.

Foram US$ 19 bilhões em apostas evaporados e uma queda generalizada nos preços das criptos, em grande parte por causa das novas tarifas severas da China anunciadas pelo presidente Donald Trump. Uma combinação de fatores — alavancagem excessiva, vendas automáticas disparadas por algoritmos e falta de liquidez em horários atípicos do mercado global — amplificou o que poderia ter sido uma correção menos dramática.

Desde a manhã na Ásia até a tarde nos EUA, neste sábado, traders, executivos e analistas tentavam entender quem exatamente sofreu as maiores perdas. Teria sido alguma grande instituição completamente atingida — ou muitos pequenos investidores vendo suas posições irem a zero? Mais de 1,6 milhão de traders foram liquidados, segundo a plataforma CoinGlass.

“Fizemos uma ampla checagem de mercado e nenhum de nossos parceiros foi afetado além do normal”, disse Matthew Hougan, diretor de investimentos da Bitwise Asset Management. “Claro, é possível que leve tempo até tudo aparecer — e não falamos com todo mundo —, mas não ouvi falar de nenhum colapso.”

Consultas da Bloomberg a grandes formadores de mercado e investidores também não encontraram sinais de que algum “baleia” (grande investidor) tenha implodido — apenas muita especulação de que “alguém” deve ter sido pego no contrapé.

Efeito dominó automático

No mercado cripto, chamadas de margem não funcionam como nos mercados tradicionais: quando o colateral perde valor, os algoritmos vendem automaticamente. Esse mecanismo, que mantém o mercado aberto 24 horas por dia, também faz com que a volatilidade gere perdas em efeito cascata.

Como Trump fez o anúncio em um feriado nos EUA — depois do fechamento do mercado americano, mas antes da abertura europeia e asiática — havia poucos compradores e vendedores ativos, o que agravou o tombo.

As liquidações se concentraram em altcoins (moedas menores fora Bitcoin e Ether), onde a alavancagem costuma ser mais alta e a liquidez, muito menor.

“Não há praticamente liquidez em altcoins além de 5% a 10% do livro de ofertas, especialmente do lado da compra”, disse Zaheer Ebtikar, fundador do fundo Split Capital. “Quando vários ativos despencam ao mesmo tempo e os market makers saem do compasso, o mercado simplesmente morre.”

A exchange que mais sofreu

Esse cenário ficou evidente na exchange Hyperliquid, menor que a Binance, mas que registrou US$ 10 bilhões em negociações liquidadas no período de 24 horas, segundo a CoinGlass.

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“A Hyperliquid teve o maior volume de liquidações de posições compradas e a menor liquidez para compensar”, disse Ebtikar.

Um mecanismo de gerenciamento de risco chamado auto-deleveraging (ADL) — que fecha automaticamente posições lucrativas ou muito alavancadas quando o seguro da exchange não cobre mais as perdas — também contribuiu para agravar o movimento.

“Esse mecanismo não é isento de complicações, especialmente para quem tem carteiras complexas”, disse Spencer Hallarn, chefe global de trading OTC da gestora GSR. Segundo ele, provedores quantitativos de liquidez e participantes neutros de mercado podem ter posições vencedoras encerradas prematuramente, gerando desequilíbrio e necessidade de readequar riscos rapidamente.

Quem lucrou

Um dos poucos vencedores foi o Hyperliquid Provider (HLP) — um cofre comunitário separado da exchange, onde investidores juntam ativos para atuar como formadores de mercado ou liquidadores forçados. O HLP lucrou mais de US$ 30 milhões durante o selloff ao assumir apostas perdedoras e encerrá-las, segundo registros públicos de transações.

“Também há a questão de quem deve arcar com as perdas — a exchange e o pool de liquidez ou os traders”, disse Tarun Chitra, cofundador da Gauntlet Networks.

Ele argumenta que o HLP é favorecido em relação aos traders individuais na Hyperliquid, devido aos algoritmos e parâmetros definidos. E observou que algumas das 50 maiores altcoins por valor de mercado nem tinham tanta alavancagem, o que indica uma onda de vendas espontâneas após o anúncio de Trump.

“O modo como as altcoins desabaram lembrou uma crise financeira, não um simples processo de desalavancagem”, disse Chitra. “Foi mais motivado por vendas à vista do que por liquidações automáticas — por isso acredito que há fundamento nos rumores de que alguém grande teve de desmontar posições ou quebrou.”

Embora o mercado tenha recuperado parte das perdas desde sexta-feira, o estrago completo ainda pode levar dias para aparecer, segundo Edward Chin, CEO do fundo Parataxis.

“Suspeito que ainda ouviremos sobre fundos que quebraram ou market makers que sofreram perdas pesadas nas próximas semanas”, afirmou.

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