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2 meses após comprar ativos da Marfrig, Minerva ainda gera dúvida por negócio
Em meio à desconfiança do mercado, CEO da empresa reforçou tese de consolidação na América Latina em evento com investidores.
Dois meses após a venda de ativos da Marfrig para a Minerva, a transação continua fazendo preço nas ações da Minerva. Com o mercado ainda desconfiado sobre as vantagens do negócio, o CEO da companhia, Fernando Queiroz, reforçou esta semana em evento a investidores que o foco é consolidar a dominância da empresa no segmento de carne bovina na América do Sul. Mas, para especialistas, a meta pode ser atingida somente no longo prazo, enquanto o endividamento ainda preocupa no horizonte mais curto.
Entre dos frigoríficos, a ação da Minerva (BEEF3) está na lanterna do setor na bolsa brasileira, a B3. No acumulado de novembro e no ano até agora, somente ela caminha para fechar no negativo. As perdas em 2023 até agora estão perto de 40%. Enquanto isso, as demais têm resultados positivos para o investidor, com BRF (BRFS3) se destacando com alta acumulada em mais de 80% no ano. JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3) também seguem no azul.
Especialistas do mercado creditam essa diferença a diversos fatores, mas o principal deles é a compra de unidades de abate de bovinos e ovinos na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai da Marfrig, por R$ 7,5 bilhões, fechada em agosto.
Uma das principais preocupações é sobre o endividamento da empresa após o negócio. Embora não tenha a maior relação entre dívida e Ebitda (ou seja, o endividamento comparado com a capacidade de geração de caixa) na comparação com as demais, a trajetória é o sinal de alerta, assim como a visão do mercado sobre a possibilidade de redução à frente.
É o que explica Johny Nicolas, analista de ações da Esh Capital. A JBS, por exemplo, tem relação maior entre dívida e Ebitda, mas pelo tamanho da empresa, a tendência é de que ela tenha mais acesso a captação de recursos.
Também chamando a atenção para o endividamento, Heitor Martins, estrategista de investimentos na Nexgen Capital, cita que a preocupação com as margens do setor adiciona mais incertezas. “A Minerva precisaria dispor de um caixa entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões. Isso naturalmente é muito ruim para uma companhia, imagina um compromisso dessa magnitude em um setor que já não estava com uma margem tão atrativa.”
Mas a Minerva sabe dessa desconfiança do mercado. Nesta terça-feira (28), durante o chamado “Minerva Day”, o CEO destacou os planos de consolidação na América do Sul, buscando se aproveitar de peculiaridades regionais como criação de bois a pasto e oferta de mão de obra com menor custo.
“O setor cada vez mais vai para áreas mais competitivas, é muito mais barato na América do Sul, um grande diferencial, além da questão da natureza”, disse Fernando Queiroz no entendo, voltado para investidores.”50% do trading vai estar nas nossas mãos dentro de cinco anos”, acrescentou ele.
Agora, o mercado espera até que essas expectativas se materializem, enquanto continua penalizando a ação. “Acho que leva tempo para o Minerva justificar essa transação e começar a aparecerem boas sinergias”, opina Marco Saravalle, analista e sócio-fundador da Sara Invest. “O grande desafio continua sendo esse, entregar todo esse ramp up (elevação) de receitas desses ativos adquiridos.”
Mas há outros motivos
Enquanto o negócio com a Marfrig reforçou as preocupações sobre o endividamento da Minerva, o mercado internacional direcionou as atenções para as receitas. No 3º trimestre, o frigorífico viu suas receitas totais caírem mais de 15%, em um movimento puxado pela forte queda de mais de 22% do mercado externo, contra uma leve contração de 1,2% no interno.
A preocupação é de que essa queda persista nos meses à frente, como afirma Johny Nicolas, citando a “dependência que a Minerva tem da exportação de carne bovina”, especialmente para a China.
“O Brasil é o principal fornecedor de carne bovina para o mundo. Quando eu falo em exportação, existe uma dependência da China – 53% até agora em 2023 está sendo para a China. E a China está pagando menos por essa carne. Isso impacta muito a rentabilidade dos frigoríficos, fica mais difícil gerar margem e desalavancar.”
Nesse contexto, o analista questiona os planos da Minerva para aquele mercado, já que a desvalorização do yuan e a forte queda nos preços da carne suína puxam para baixo as perspectivas de curto prazo.
“A tese vendida pela empresa é de que o mercado é crescente, porque a China consome pouca carne bovina. Concordo. Mas isso é algo muito de longo prazo, e o mercado acaba olhando muito para 2024.”
Johny Nicolas, analista de ações da Esh Capital.
Enquanto isso, localmente, a cotação do boi também é ponto de atenção, como aponta André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital. “A arroba do boi aqui no Brasil, que caiu abaixo de R$ 200, voltou a subir e já se encontra próximo de R$ 250, e isso impacta diretamente nas margens da empresa, que começam a ser pressionadas.”
Nesse cenário, Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, aponta a diversificação geográfica como um dos pontos-chave para que a empresa consiga uma “virada de ciclo” em 2024.
Já Fernandes não vê perspectivas favoráveis, justamente “devido a essa possível inversão de ciclo na arroba do boi aqui no Brasil, e um ambiente mais incerto na América Latina com trocas de governos“.
Enquanto isso, na concorrência
Do setor, a maior alta é de BRF, que já sobe mais de 80% em 2023. Mas Nicolas, da Esh Capital, aponta que BRF, diz que a ação “performa pior num prazo mais longo”, pois a empresa “não consegue sustentar três resultados bons”.
Enquanto isso, Marfrig tem alta acumulada de mais de 17% em 2023 até agora, com investidores avaliando positivamente a venda de ativos para Minerva, especialmente por expectativas de melhora no endividamento. “Mas o mercado está cético com o cenário de 2024 com o ciclo de bovinos nos Estados Unidos”, diz Nicolas.
Quanto à JBS, ele diz que “é uma tese um pouco diferente” e “estável”. “É mais diversificada globalmente, e o investidor pode ter menos surpresas negativas de queda de receita e rentabilidade”, diz o analista da Esh, que é acionista de JBS. A ação da companhia acumula alta de mais de 11% no ano até agora.
Fernandes, da A7 Capital, comenta que Marfrig e JBS têm motivos em comum para a alta recente de seus papéis. “Muito se dá pela perspectiva do mercado quanto a melhora de margens dessas empresas no mercado americano, onde está concentrada a maior parte da receita delas”.
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