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O que Femsa, Globo e Marcelo Claure viram para colocar R$ 300 mi na startup que vende para restaurantes

A Cayena é um marketplace de insumos que tem plano de chegar a 500 cidades brasileiras

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Nos primeiros minutos de conversa, o baiano Pedro Carvalho, cofundador da startup Cayena, avisa: a história da empresa não é mais uma daquelas românticas de empreendedorismo. Ao contrário. O pragmatismo prevaleceu desde as primeiras conversas de Carvalho com os sócios, o paulistano Gabriel Sendacz e o argentino Raymond Shayo. Os três se conheceram ainda na faculdade, no curso de economia do Insper, um dos principais do país, há mais de uma década.

Passados quase 15 anos, o trio passou a conhecer muito bem o mundo das finanças e o mercado de capitais. Passaram pelos principais bancos de investimento e private equity do país, como Bank of America, JP Morgan e Brookfield. Justamente por terem sido criados profissionalmente “do outro lado do balcão”, foram muito críticos ao avaliar os mais diversos modelos de negócios e a rentabilidade deles.

“Nós nos escolhemos como sócios e fomos atrás do que a gente iria fazer”, explica Carvalho. “Daí, olhamos várias teses: de salão de beleza a cemitério… Até chegarmos ao food service”.

Foi desse olhar pragmático que nasceu em 2019 a Cayena, um marketplace para que restaurantes e bares possam repor seus insumos. Na prática, o papel dela é intermediar e conectar os distribuidores dos produtos aos comércios.

Gabriel Sendacz, Raymond Shayo e Pedro Carvalho, fundadores da startup Cayena (Divulgação)

Com a startup avançando a passos largos e contando com investidores de peso, como a mexicana Femsa e o Grupo Globo, o trio foi abordado pela Bicycle Capital, gestora de Marcelo Claure, um dos principais investidores de venture capital do mundo. “A gente tinha uma posição de capital bem sólida das rodadas [de investimento] anteriores, mas sabemos como esse mercado funciona e não dá para deixar passar uma oportunidade”, afirma Shayo. 

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Em meados do mês passado, a Cayena recebeu um aporte Série B – rodada de investimento para startups que têm um produto provado e agora necessita de escala – de R$ 300 milhões liderado pela Bicycle de Claure, executivo que comandou o SoftBank na América Latina e apostou em empresas como Nubank e Rappi. Hoje, Claure é sócio da Bicycle Capital junto com Shu Nyatta, outro profissional que também passou pela casa de venture capital japonesa.

“Nós acreditamos que a Bicycle é o maior parceiro que podemos ter para nossa próxima fase de crescimento. Eles [Claure e Nyatta] investiram nos melhores cases da região, praticamente todos os unicórnios passaram por eles”, lembra Raymond Shayo. “Entendemos que, com a Bicycle, conseguimos chegar até o IPO. Eles já fizeram esse caminho várias vezes.”

Marcelo Claure: executivo da Shein no Brasil e sócio da Bicycle Capital (Bloomberg)

Além da Bicycle, o investimento foi acompanhado por outros fundos que já eram investidores da Cayena: Femsa Ventures, Picus Capital, Astella, Globo Ventures, Endeavor Catalyst, Canary, FJ Labs, Clocktower, e Norte Ventures. “Tivemos que limitar a rodada pelo excesso de demanda, senão acabaríamos muito diluídos”, diz Carvalho.

Crescimento em dois anos

Com os recursos, a plataforma de insumos para restaurantes, que hoje atende cerca de 100 cidades, pretende multiplicar por cinco o número de municípios e chegar a mais Estados – atualmente, 90% dos municípios estão em São Paulo e o restante no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. A meta é chegar a esse número em até dois anos.

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O dinheiro será para fortalecer o time comercial e de atendimento ao cliente, e as regiões observadas para a expansão estão nos Estados de Goiás e Minas Gerais, além do Distrito Federal. “Trabalhamos com fornecedores âncoras, que atendem nas regiões metropolitanas e nos permitem expandir mais rápido, com menos atrito”, explica Gabriel Sendacz.

O modelo de negócios

A Cayena ganha dinheiro cobrando uma comissão das empresas que vendem dentro da sua plataforma – o percentual varia conforme o tamanho do pedido e dos tipos de produto. A empresa ainda não atingiu o breakeven – ou seja, ainda registra prejuízo operacional. “Mas, se pisarmos no freio, a gente já empataria. Atingir o breakeven ou não tem sido uma escolha nossa e isso é positivo”, afirma Pedro Carvalho.

Outra forma que a empresa começa a desenvolver é a comercialização de dados. “Se uma marca como a Heineken quiser saber quais bares estão comprando mais da concorrência, podemos trabalhar para oferecer uma condição mais vantajosa da cerveja deles para esses comércios”, exemplifica Shayo.

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A Cayena está situada em um setor que conta com mais de 1,5 milhão de estabelecimentos comerciais voltados para a alimentação, sendo que 90% disso é formada por pequenos empreendedores, com baixo poder de barganha – que é justamente o que a Cayena pretende atacar. “Nosso cliente médio é a típica pizzaria de bairro, mas temos mercearias, franqueados de grandes marcas e bares ”, diz Sendacz.

A startup afirma que consegue diminuir em até 25% o custo desses comércios com insumos graças a seu modelo de negócios que alia tecnologia com previsibilidade de pagamento. Isso porque a empresa, por meio da Cayena Pay, antecipa o pagamento aos fornecedores e dá um prazo maior para que os clientes quitem suas obrigações.

“A gente tá falando de um mercado que movimenta R$ 1 trilhão aqui na América Latina por ano. E é um mercado muito analógico, com pouquíssima tecnologia ainda embarcada nesse setor”, lembra Carvalho.

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