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Ao menos quatro empresas listadas na B3 já tiveram rombo contábil; relembre
Via, IRB Brasil e CVC são algumas das companhias que já enfrentaram problemas nas suas contas, além de Americanas.
O anúncio da Americanas (AMER3) de que encontrou em uma análise preliminar “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões em seu balanço, que pegou investidores de surpresa, e fez a ação da varejista desabar quase 90% até agora, não foi um caso isolado de empresas listadas na bolsa de valores brasileira.
Investigações ainda apontarão se houve erro contábil ou fraude no caso da Americanas, mas outras empresas de capital aberto no Brasil já passaram por situações semelhantes.
Relembre outros três casos recentes, os impactos nas ações das empresas e o desfecho de cada um deles.
Via
Uma delas foi a Via (VIIA3). Em novembro de 2019, a então chamada Via Varejo anunciou em fato relevante ao mercado que ao final de setembro e no início de outubro daquele ano, a companhia recebeu denúncias anônimas relativas a supostas irregularidades contábeis.
Depois da divulgação das informações, as ações da empresa naquele dia chegaram a cair mais de 9% e entraram em leilão. Mais tarde, os papéis voltaram a ser negociados e a ação fechou com recuo de 0,99%.
Após investigação, a empresa anunciou que foram encontrados indícios de fraude contábil caracterizada pela manipulação de verbas para processos trabalhistas da companhia e pela diferença indevida dos ativos vendidos e a contabilização de dívidas. Além disso, também foram encontradas falhas de controles internos que poderiam resultar em erros em determinadas contas contábeis da companhia.
Com isso, a empresa informou um impacto de cerca de R$ 1,2 bilhão a R$ 1,4 bilhão, com ajustes sendo feitos nos resultados do 4º trimestre de 2019, com impacto no patrimônio líquido da companhia entre R$ 800 milhões e R$ 940 milhões.
Como consequência, a empresa informou na época que estes ajustes gerariam um efeito no caixa na companhia no decorrer dos próximos três a quatro anos.
IRB Brasil
No mês de fevereiro de 2020, a gestora brasileira Squadra Investimentos publicou uma carta questionando dados do balanço do IRB Brasil (IRBR3). Neste dia, a ação da empresa chegou a cair 15%.
Na época, o IRB se defendeu, dizendo que suas demonstrações são elaboradas de acordo com as normas contábeis e que a performance financeira da companhia estava fielmente retratada nas demonstrações contábeis.
Cerca de uma semana depois, uma nova carta foi divulgada pela gestora com mais análises.
Além disso, ainda no início de 2020, chegou a ser divulgado na imprensa um aumento de participação da Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, no capital social do IRB. No dia, a ação do IRB Brasil fechou em alta de 6,6%.
Os rumores aconteceram, pois a direção do IRB indicou para o conselho fiscal a advogada Márcia Cicarelli, procuradora da Berkshire no Brasil. Executivos do IRB também teriam confirmado a informação em teleconferência com analistas.
Porém, o Grupo Berkshire Hathaway divulgou comunicado informando que nunca teve ações e não tinha a intenção de se tornar um acionista do IRB. Com isso, no dia do comunicado, a ação do IRB caiu 30%. Na época, executivos da resseguradora renunciaram ao cargo.
O IRB informou que a conclusão da investigação independente realizada identificou os responsáveis pela disseminação de informação inverídica sobre a base acionária da companhia; a detecção da existência de irregularidades no pagamento de supostos bônus a ex-diretor e outros colaboradores do IRB Brasil e suas controladas; a realização de operações de recompra de ações da companhia que ultrapassaram as quantidades autorizadas pelo conselho de administração e confirmaram que uma série de registros contábeis conduzidos pela antiga diretoria que estavam efetivamente incorretos e deveriam ser refeitos.
Em fato relevante, o IRB disse que as demonstrações financeiras de 2019 foram ajustadas e aprovadas pelo conselho de administração, substituindo as anteriores e que as apurações realizadas identificaram os diretores e demais colaboradores envolvidos.
CVC
A operadora de turismo CVC (CVCB3) informou no início de fevereiro de 2020 que no processo de preparação de suas demonstrações financeiras relativas ao exercício social de 2019 foram constatados indícios de erros na contabilização de valores transferidos aos fornecedores de serviços turísticos referentes às receitas próprias de tais fornecedores, de cerca de R$ 362 milhões.
No dia do anúncio, a ação da CVC chegou a desabar 8%, e o caso gerou a renúncia do então presidente da companhia, Luiz Fogaça, e a nomeação de Leonel Andrade para o cargo.
A CVC informou que os relatórios apresentados pela apuração identificaram: evidências de que deficiências nos controles internos da companhia contribuíram para a ocorrência das distorções contábeis; evidências de que essas deficiências foram ocultadas por colaboradores da CVC, inclusive dos auditores externos; e indícios, não conclusivos, de que os resultados da CVC podem ter sido intencionalmente manipulados.
A empresa disse na época que os erros contábeis não teriam impacto sobre a geração e os saldos de caixa reportados nas demonstrações financeiras, pois o capital de giro reportado no período seria diminuído no mesmo montante, e que os valores foram devidamente transferidos aos fornecedores.
De acordo com a CVC, o impacto dos ajustes no lucro líquido da companhia foi reduzido pelo lançamento de crédito referente à recuperação de impostos de renda e contribuição social que foram pagos indevidamente, estimados pela empresa em, aproximadamente, R$ 42 milhões.
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