Negócios

Associação critica transferência obrigatória do controle da Amazonas Energia para Âmbar, da J&F

Para Frente Nacional dos Consumidores, custos para solucionar crise deveria sair de recursos do Tesouro

Publicado

em

Tempo médio de leitura: 4 min

A associação que representa os consumidores de energia criticaram a decisão da Justiça do Amazonas que obriga a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a aprovar, em 48 horas, a transferência do controle da Amazonas Energia para a Âmbar, empresa da holding J&F.

“Nosso entendimento é que é um equivoco da Justiça. Apesar de reconhecermos a situação crítica pela qual passam os consumidores do Amazonas, a solução proposta é ruim, porque mais uma vez resolve-se um problema criando outros”, afirmou Luiz Eduardo Barata, presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, ressaltando os custos bilionários que irão recair sobre a conta de luz.

Vale destacar que a Amazonas Energia já é uma das empresas que mais recebem subsídios da conta de luz. Neste ano, foram repassados R$ 3,14 bilhões da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo que hoje é responsável por 13,6% do valor pago nas contas de luz, para a distribuidora amazonense.

A Âmbar, empresa de energia elétrica do grupo J&F, conglomerado da família Batista, está negociando com o governo as condições para assumir o controle da Amazonas Energia, distribuidora com uma dívida que beira os R$ 10 bilhões e um longo histórico de graves problemas operacionais — especialmente o furto de energia — e financeiros, correndo o risco de caducidade da concessão.

Na véspera, a juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Amazonas, concedeu liminar determinando que a Aneel aprove o plano de transferência societária da distribuidora amazonense nos termos propostos pela Âmbar — o que, segundo análise técnica da agência reguladora, iria onerar os consumidores de energia de todo o país em valores bilionários e muito maiores do que o necessário.

Na decisão, a juíza considerou que a Aneel está atrasando deliberações relacionadas ao tema e descumprindo prazos da medida provisória 1.232, editada pelo governo federal em junho para resolver a situação da concessionária amazonense. A MP, que ainda não foi apreciada pelo Congresso, perde validade em 10 de outubro.

“O que efetivamente existe nos autos é a existência de um diploma legal com data de expiração próxima, qual seja 12 de outubro de 2024, sobre o qual a agência reguladora se encontra em mora de cumprimento. O risco de dano irreversível é inegável…”, diz a decisão.

LEIA MAIS: Com dívida “impagável” e o maior furto de energia do país, Amazonas Energia abre o jogo

Procurada, a Aneel disse que “aguarda a notificação para dar cumprimento à decisão judicial”.

Para Barata, da entidade de consumidores, o melhor caminho para resolver a situação da Amazonas Energia seria uma intervenção da agência reguladora, em processo de destituiria a administração atual da distribuidora e a prepararia para um futuro leilão de venda, a fim de atrair companhias com experiência no ramo de distribuição de energia.

“Se a concessionária está passando por uma crise gravíssima, nós vamos colocar para prestar serviço uma empresa que não tem experiência nenhuma?”, questionou Barata, lembrando do diagnóstico feito pela área técnica da Aneel que apontou falta de capacidade técnica da Âmbar no segmento de distribuição.

Ele também defende que os custos de todo esse processo deveriam ser arcados pelo Tesouro, e não pelos consumidores de energia, que já são onerados com uma série de outras políticas públicas e subsídios do setor elétrico.

A Aneel fez uma análise técnica da proposta apresentada pela Âmbar para assumir a concessionária amazonense, concluindo que ela teria um custo de R$ 15,8 bilhões para a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) –encargo pago na conta de luz–, o dobro dos R$ 8 bilhões que seriam suficientes para reequilibrar a concessão.

A proposta da Âmbar e aperfeiçoamentos apontados pela área técnica da Aneel foram colocados em consulta pública neste mês. O regulador ainda não indicou, porém, quando pretende pautar o processo para uma decisão final.

Mais Vistos