Negócios
Boticário capta R$ 2 bilhões para produzir cosméticos 100% veganos
Fabricante de produtos de beleza emite debêntures atreladas a metas ESG pela segunda vez desde 2020.
O Grupo Boticário, fabricante brasileira de produtos de beleza, captou R$ 2 bilhões em debêntures atreladas a metas ESG, sigla em inglês para governança socioambiental. A emissão desse tipo de título de dívida – conhecido como sustainability-linked bonds (SLB) – está atrelada ao atingimento de metas sustentáveis pré-definidas.
No caso do Boticário, a meta é fazer com que 100% do portfólio de produtos de todas as marcas próprias da empresa sejam de origem vegana até dezembro de 2026. Vale lembrar que as matérias-primas de origem animal são amplamente utilizadas na indústria de cosméticos para fabricar cosméticos e fragrâncias de uso pessoal.
Para se ter uma ideia, o percentual de produtos de origem ecológica em 2022 estava em 93,6%. No material de divulgação, o Boticário afirma que o “veganismo busca excluir, na medida do possível, as formas de exploração animal e promover o desenvolvimento e uso de alternativas livres dessa origem para benefício de humanos, animais e meio ambiente”.
No entanto, o grupo admite ainda não ter conseguido encontrar substituição para algumas matérias-primas animais, como leite de vaca e mel de abelha. O Boticário se comprometeu a encerrar este ano com 95,4% de seu portfólio totalmente vegano, devendo chegar a 98% em 2024 e, então, em 100% em 2025.
Além disso, o grupo também definiu a utilização até 2029 de 80% da água de reuso gerada na fábrica de São José dos Pinhais (PR), onde fica localizada a principal unidade fabril. Atualmente, cerca de 30% do volume total captado é descartado, sendo que na fábrica paranaense, a utilização de água de reuso era de 0% em 2022.
Porém, com um investimento de quase R$ 10 milhões em uma estação de tratamento de água, os primeiros resultados de reuso surgiram neste ano. Em outubro de 2023, a unidade no Paraná já utilizava 10% da água de reuso e a meta é terminar o ano com cerca de 12%. Em 2024, a empresa pretende investir mais R$ 3,5 milhões nessa frente, chegando a 15%.
Sem apelo ao investidor
Como o Grupo Boticário não tem capital aberto, os títulos não foram vendidos a investidores e ficaram com o banco coordenador da emissão, o UBS BB. As debêntures têm prazo de sete anos, com vencimento em dezembro de 2030 e remuneração inicial de taxa DI mais 1,5% ao ano.
Caso a meta de produtos veganos não seja cumprida até dezembro de 2026, o juro total pago sobe para 1,7% ao ano nos pagamentos seguintes. Se falhar em cumprir a meta de reuso de água, o spread (sobretaxa) irá a 2,3%, podendo subir até 2,5%, caso as duas metas não sejam cumpridas no período estipulado.
Ainda assim, não é a primeira vez que o Grupo Boticário faz esse tipo de operação. Em dezembro de 2020, a companhia teve a primeira operação do tipo SLB no mercado doméstico, captando R$ 1 bilhão. A emissão foi integralmente encarteirada pelo Itaú BBA, que coordenou a operação. À época, a meta era ter 100% de energia renovável em suas fábricas e centros de distribuição espalhados pelo país.
Já a abertura de capital da empresa na B3 não está nos planos. Em evento recente na cidade de São Paulo, o vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo, Artur Grynbaum, afirmou que a pergunta sempre é: “por que faríamos um IPO [oferta inicial de ações]?”, indagou durante o Latam Retail Show.
Na ocasião, em setembro deste ano, o fundador e atual presidente do conselho, Miguel Krigsner, foi ainda enfático: “Temos muito medo de perder aquilo que foi criado com muita dedicação e muito amor”, diz, acrescentando que grandes organizações vão perdendo sua essência à medida que abrem capital.
Com isso, a empresa deve seguir majoritariamente sob controle familiar. Fundada em 1977, o Boticário tem mais de 4 mil lojas – a maior parte franquias – e mais de 1 milhão de revendedoras de venda direta. Ao todo, são mais de 15 mil colaboradores diretos, número que encosta em 50 mil, considerando-se as unidades franqueadas.
Além d’O Boticário, a carteira de marcas próprias do grupo incluei Eudora; Quem Disse, Berenice?; Beauty Box; Vult; O.U.i; Dr. Jones; Tô.que.tô e Truss. Além disso, têm a empresa em soluções de Tecnologia da Informação (TI), GAVB, e a fintech MOOZ.
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