Negócios
Eletrobras tem risco de atrair pouco interesse de investidores, dizem analistas
TCU aprovou avanço da privatização, mas ano eleitoral é sinal de alerta para especialistas.
Em meio ao avanço do processo de privatização da Eletrobras, a empresa deve agora enfrentar o risco de atrair pouco interesse de investidores estrangeiros. É o que disseram analistas ouvidos pelo InvestNews após o Tribunal de Contas da União (TCU) aprovar a continuidade da privatização da empresa.
O TCU aprovou nesta quarta-feira (18) o andamento do processo de privatização da Eletrobras (ELET3; ELET6), por 7 votos a 1. O processo ainda precisa passar por órgãos reguladores de mercado. Especialistas apontam que a grande dúvida que se desenha agora é se haverá investidores interessados pela Eletrobras em meio às dúvidas peculiares de um ano eleitoral.
Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, comentou em nota que a decisão veio em linha com o esperado. “Todas as nossas apostas bem como as do mercado apontavam para esta segunda aprovação no TCU e as dúvidas se voltavam mais para processos envolvendo a execução do processo, como a demanda dos investidores globais em meio a escalada do prêmio de risco de equity e a proximidade com as eleições.”
“Cada dia que passa é crucial para esse projeto, que deve atrair cada vez menos investidores“, complementa Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos. “Seja pelo risco político envolvido, já que o candidato da oposição afirma que pode cancelar essas privatizações. Ou até mesmo porque os investidores estrangeiros têm uma agenda no segundo semestre. Eles devem estar olhando oportunidades em outros cantos do mundo, principalmente oportunidades mais tranquilas, com menor risco envolvido. Então, não tem nada garantido.”
Carvalho acrescenta que “seria pior se o investidor não se interessar pela oferta e não colocar o dinheiro na mesa. Seria um fracasso para o projeto.”
Já Flávio Conde, head de renda variável da Levante Ideias de Investimentos, acredita que a privatização da Eletrobras vai, sim, atrair investidores. “Já tem muito player estudando a companhia e os consórcios estão sendo formados. A privatização pode ser feita a partir do dia 25 de junho, e isso é importante pelo seguinte: a partir do dia 1 de julho, começam as férias de verão no hemisfério norte. Na Europa e nos Estados Unidos, analistas, gestores e fundações saem de férias. Então, fica mais difícil. Além disso, em junho a campanha eleitoral vai estar ainda bem de lado e não vai ter efeito nenhum.”
Conde acrescenta que, “falando dos consórcios que estão sendo formados, são consórcios de empresas que já são do setor, com investidores, normalmente grandes fundações e holdings que têm dinheiro para entrar numa privatização e colocar 3, 4, 5, 10 bilhões de reais. E cada consórcios deve ter alguma empresa que já é do setor de energia elétrica no Brasil. Então, o setor já tem vários investidores locais. E cada consórcio deve arrumar um ou dois investidores estrangeiros.”
O que esperar das ações?
Em meio à expectativa da decisão do TCU, as ações da Eletrobras terminaram o pregão desta quarta em queda. O papel ELET3 caiu 2,16% e o ELET6, 0,73%. Por volta de 18h45 (horário de Brasília), as ADRs da Eletrobras negociadas na Nyse (bolsa de Nova York) avançavam 1,30% na negociação do pós-mercado, cotadas a US$ 8,53, segundo dados do Investing.
Arbetman, da Ativa, afirma que o “processo é positivo para Eletrobras e seu avanço deve destravar valor para as ações da companhia”, e acredita que a oferta das ações que vão passar do governo para investidores privados aconteça no mês que vem.
“Vemos mobilização do governo em executar o processo de forma célere. Dessa forma, acreditamos que é possível a realização do protocolo para a oferta na CVM e na SEC até o fim do maio, a realização de road show em até duas semanas após esse prazo e então, a realização da oferta em meados de junho“, diz Arbetman.
Conde, da Levante, acredita que a notícia deve elevar a cotação das ações da Eletrobras. “Foi uma surpresa agradável. Isso é muito bom para a empresa, para o setor e para a economia em geral. A empresa não tem capacidade de fazer os investimentos que seriam necessários na parte de geração de energia. “
Sidney Lima, analista da Top Gain, comenta o voto contrário de Vital do Rêgo no TCU. “Os temores alegados pelo ministro se dão em relação a possibilidade de uma avaliação abaixo do valor real da companhia, decorrente de um possível ajuste de valores consequência de dívidas judiciais da companhia.”
Próximos passos
A aprovação pelo TCU nesta quarta não significa o fim do processo, que ainda precisa passar pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador do mercado no Brasil, e pela Securities and Exchange Commission (SEC), que regula o mercado nos Estados Unidos.
Isso porque a Eletrobras tem ações negociadas na bolsa de valores brasileira, assim como papéis presentes também no mercado norte-americano na forma de American Depositary Receipts (ADRs).
Na sequência, vem etapa de apresentações da Eletrobras para possíveis investidores (road show). Somente depois disso é que o leilão da companhia é realizado na B3.
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