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Empreendedor que vendia peixe com fritas na rua chega a 25 lojas no Brasil

Em 2013, Hermes Bernardo montou um food truck para vender o famoso prato inglês após viajar para Londres.

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A jornada do empreendedor Hermes Bernardo, de 37 anos – fundador da FiChips Foods, rede de franquias focada na venda do famoso prato inglês ‘Fish and Chips’ (peixe empanado com fritas) – começou bem antes do que ele imaginava.

Em 2012, o paulista chegou a ficar seis meses sem conseguir caminhar depois de romper o tendão de Aquiles em uma partida de futebol com os amigos. “Nunca tinha feito inglês e quando rompi o tendão, não podia me locomover. Aproveitei para estudar, assistindo filmes sem legendas. Quando consegui voltar a andar, comprei uma passagem para Londres e decidi me virar sozinho”.

Hermes Bernardo, CEO e fundador da FiChips Food, ao lado do boneco Aquiles. Crédito: Divulgação

O empreendedor ficou um mês na terra da rainha Elizabeth para aprimorar o idioma e conhecer a cultura local. Na época, ele conheceu o típico prato inglês ‘Fish and Chips’ (peixe empanado com fritas). Mas somente um ano depois, quando ficou desempregado e se deparou com uma foto da viagem tirada em frente ao Big Ben, é que começou a planejar a abertura do próprio negócio.

“Orei a Deus para que me desse um propósito e olhei para essa foto que de fato não tem nada demais. Mas que despertou em mim, naquele momento, a visão de criar a FiChips”, disse.

Foram seis meses entre a ideia e a execução. Hermes decidiu vender seu carro e investiu o dinheiro, cerca de R$ 40 mil, em um food truck para comercializar o prato inglês. O modelo de negócio, até então, era pouco explorado no Brasil.  

Hermes inovou na apresentação e criou um manequim vestido como guarda real inglês para segurar o cardápio. O boneco foi apelidado de “Aquiles”, como referência ao problema que o impediu de andar.  

Mas foi necessário adaptar a culinária típica inglesa à cultura local. Enquanto no Reino Unido o peixe é vendido em filés e, muitas vezes, em pratos individuais, Hermes decidiu cortar a proteína em tiras e usou uma embalagem em cone para servi-lo com as batatas – como a venda aconteceria na rua, seria mais fácil para os clientes consumirem.   

Hermes também mudou alguns ingredientes e tirou, por exemplo, a cerveja preta usada na para empanar o peixe, além de incluir outros itens no cardápio, como a batata recheada.  

“Lógico que a ideia central do peixe com batata não foi perdida, o diferencial da gente foi adaptar o prato para a nossa cultura, o que fez o nosso negócio crescer como cresceu”, explica.  

Expansão dos negócios

Com o food truck a todo vapor, o empreendedor foi convidado para participar de diversos eventos, dentre eles o Lollapalooza. A partir daí, a agenda de compromissos da FiChips ficou cada vez mais movimentada e só uma unidade não era mais suficiente.  

O empresário decidiu abrir uma segunda operação, mas não conseguiu encontrar fornecedores que pudessem montar um novo food truck a toque de caixa. Na época, o modelo de negócio já tinha virado febre no Brasil e o tempo para transformar uma van em um espaço adequado para vender comida era longo. Para não perder tempo, ele decidiu comprar uma ambulância e, com a ajuda de um amigo, transformou o veículo em sua segunda unidade de food truck.

Modelo Pub da franquia FiChips. Crédito: Divulgação.

A jornada de Hermes não foi fácil. Antes de abrir a primeira loja em um shopping de São Paulo, em 2018, o empresário foi diagnosticado com depressão e precisou se afastar dos negócios. Nessa época, o paulista recebeu o convite para apresentar sua empresa aos tubarões do reality Shark Tank Brasil, do canal Sony, mas recusou para tratar o problema de saúde.  

Em 2019, um novo convite foi feito e, desta vez, Hermes conseguiu participar. Os tubarões João Appolinário, fundador da Polishop, e José Carlos Semenzato, fundador da holding SMZTO se interessaram no negócio e fizeram uma proposta de investimento de R$ 300 mil por 40% da empresa. Hermes chegou a aceitar a proposta, mas depois voltou atrás. 

Atualmente, a FiChips conta com 25 lojas e oferece cinco modelos de franquias: delivery para cidades até 50 mil habitantes, container, shopping, quiosque e loja de rua em formato de pub, com investimento inicial a partir de R$ 152 mil. Todos os modelos são habilitados para trabalhar delivery. O faturamento da rede somou R$ 12 milhões em 2022, e a previsão é alcançar R$ 17 milhões este ano, por decorrência de mais nove unidades que serão inauguradas.

Prato Fish and Chips. Crédito: Divulgação.

Confira trechos da entrevista com o empreendedor:  

IN$- Você imaginava que o fish and chips faria sucesso em um food truck?  

Hermes – Há 10 anos atras, o food truck era pouquíssimo disseminado, não só no Brasil, mas na América do Sul. Mas se você observar, batata é algo que todo mundo come, e o peixe é uma combinação com a batata.  

Um belo dia estava desempregado e pedi uma direção a Deus. Foi quando olhei uma foto minha em Londres e tive um insight. Comecei a desenhar o plano de negócios. Quando eu desenhei as etapas, tinha justamente o objetivo de virar uma rede de franquia.  

Fiz esse planejamento e fui executando (…) Comecei com food truck e fui para a rua vender. E ali tudo começou. Comecei a vender o fish and chips na rua com um manequim vestido como guarda real inglês para segurar o cardápio e que chamamos de Aquiles. Peguei um gancho de um episódio ruim da minha vida, quando rompi o tendão de Aquiles. (…) 

INS$- Em qual momento você viu essa foto em Londres?  

Hermes – Em 2010, eu tinha rompido o tendão de Aquiles. Sempre fui um cara muito proativo de querer aprender as coisas, sempre bato na tecla que o querer é mais importante do que o saber. Nunca tinha feito inglês, não falava inglês, e quando rompi o tendão, não podia me locomover, tive um problema na cirurgia e iria demorar seis meses para voltar a andar.  

Comecei a estudar inglês sozinho, assistindo filmes sem legendas. Foi quando consegui voltar a andar, e disse: vou comprar uma passagem pra Londres e me virar sozinho.  Fiquei mais ou menos um mês lá, em 90% do tempo estava na rua falando com comerciantes. E comecei a viver a cultura deles, como o fish and chips. 

A primeira coisa que minha mãe ensinou a fazer era fritura, e eu sempre fui apaixonado por fritura. Mas não imaginei que iria trazer o negócio para cá. O empanado lá é feito com cerveja preta, eles têm o costume de colocar o vinagre em cima, e, culturalmente, a gente não tem isso aqui.

É uma questão não só de adaptação cultural, mas de enxergar para o negócio também, porque lá tem a cultura de fritura encharcada, nós aqui não gostamos, porque o clima é diferente. Temos a questão de compartilhar, diferente de alguns países da Europa, onde cada um tem o seu prato.  

Eu tive que adaptar o peixe em tiras, e nosso empanado não é com a cerveja. Tive que fazer uma adaptação cultural para que o negócio desse certo no Brasil. Lógico que a ideia central do peixe com batata não foi perdida, o diferencial da gente foi adaptar o prato para a nossa cultura e isso fez o nosso negócio crescer como cresceu.  

INS$- Quando você iniciou a primeira operação de food truck?  

Hermes – Da ideia até a execução, foram seis meses. Tive a ideia no início do segundo semestre de 2013 e o primeiro dia de operação da FiChips foi dia 3 de dezembro de 2013. Naquela época, as empresas que montavam o carro na linha ambulante não entendiam o que eu ia fazer.  

Eu e meu cunhado, que é engenheiro, fizemos um croqui de como seria o espaço. Algumas empresas me chamaram de louco, disseram que não ia dar certo e me perguntavam, porque eu não vendia hot dog ou churros?. Eles diziam: Quem vai comer peixe na rua?  

As vezes as pessoas não falam por mal, mas elas não enxergam o que você está enxergando, e eu já tinha no meu plano que eu queria participar de grandes eventos.  

Fui convidado para fazer o primeiro Lollapalooza. Na mesa com os executivos do evento, fui muito sincero, porque o público estimado era de 70 mil no primeiro dia e de 50 mil no segundo, e eu não tinha atendido nem 1% disso. Mas eles disseram que gostaram muito da proposta e que queriam o Aquiles e o food trcuk lá. Aceitei o desafio, foi transformador, principalmente por pegar um evento dessa magnitude.  

INS$- Na época do Lollapalooza, quantos funcionários você tinha?  

Hermes – Éramos em nove. E deu muito certo, uma bagagem que me trouxe para outros eventos grandes, como a passagem da tocha olímpica no Brasil, o evento de uma liga inglesa que veio para o Brasil, dentre outros grandes eventos de bandas como Queen e Kiss.  

Estava no plano de negócio ter um segundo food truck, porque o boom dos food trucks veio em meados de 2015 e eu comecei em 2013. Entrei um pouco antes da onda, mas sabia que ela era gigante e que uma hora ia quebrar.   

Chegou um momento em que as agendas do meu food truck estavam apertadas, mas já estava no meu plano de negócios ter a segunda operação. 

Quando dei início ao projeto da segunda operação do food trcuk para atender mais eventos, as empresas deram setes meses para deixar o food truck pronto, porque estava começando uma demanda muito forte e a espera era grande. E tempo é dinheiro. Não podia perder essa onda.  

Comprei uma ambulância, ou seja, por dentro era bem revestida e sem falar dos padrões de segurança. Eu lembro que tinha maca e um monte de coisa. Fiz de novo um projeto de como deveria ser feito. Sabia onde ficava melhor colocar o freezer, a fritadeira e o escorredor das batatas.  

A Fichips tinha sido convidada para fazer o evento Monsters of Rock e tinha bandas muito legais. Comentei com um amigo que tinha uma serralheria. Ele queria muito ver uma das bandas, mas não tinha mais ingresso.  

Eu disse que conseguiria, se ele quisesse trabalhar comigo lá no food truck, já que conseguiria colocá-lo como colaborador. Comentei com ele que precisava revestir a ambulância para ir com a van maior.

E ele disse: ‘vamos fazer um combinado: eu instalo toda a parte estrutural da sua cozinha, em troca de ir ao show, porque sempre sonhei em ver essa banda’. E foi assim que aconteceu. Eu comprei toda a estrutura da cozinha e ele montou em praticamente duas semanas.  

INS$Como foi o processo de entrada nos shoppings?  

Hermes Bernardo, CEO e fundador da FiChips Food. Crédito: Divulgação.

Hermes – Eu era ambulante, tinha know how de food truck e ia fazer uma transição para o shopping. A diferença é que numa praça de alimentação você tem McDonalds, Burger King… Como você vai concorrer com esses caras? Tem que fazer algo diferente. Eles têm todo um estudo de mercado e inteligência.  

Em 2018, implementei o delivery no shopping. Naquela época os shoppings eram resistentes, porque acreditavam que já tinham bastante fluxo e não precisava de delivery. Passei essa ideia, e minha operação foi a primeira do shopping com delivery.  

Eu tinha batata recheada, hamburger e o fish and chips. Uma coisa é fazer um delivery de pizza, outra é fazer um delivery de fritura […] Contratei um engenheiro de alimentos para desenvolver as nossas caixinhas para ter o respiro, para não fazer a fritura murchar.  

Quando foi desenvolvido e aprovado, a gente iniciou e foi um sucesso. Passei a receber reclamação do shopping, porque tinha muito motoboy esperando os pedidos saírem e minha operação estava congestionando o shopping. 

A diferença é que numa praça de alimentação você tem McDonalds, Burger King… Como você vai concorrer com esses caras? Tem que fazer algo diferente.

Só que nessa transição de ambulante para shopping, tive um burnout e depressão. Lembro que fiquei uma semana sem sair do quarto, procurei psiquiatra. Acredito que tudo que vem na nossa vida de ruim, não entendemos na hora, mas depois a gente vai entender que precisava passar por aquilo para dar um pulo maior.  

Fui diagnosticado e eu comecei a tomar remédios e vi que me dava muito sono, e na minha conversa com Deus, joguei os remédios foras, comecei a fazer caminhada e a correr.  

Só que antes da depressão, tinha me inscrito no programa Shark Thank e eles me enviaram uma mensagem de que eu tinha sido aprovado. Respondi para que não fechassem as portas para mim, porque eu tinha sido diagnosticado com depressão e que com certeza iria me recuperar. Não poderia confirmar que iria, porque tinha receio de firmar um compromisso. 

Priorizei minha saúde e minha gestão pessoal. Foi aí que veio a sequência dos shoppings, dos deliverys e que formatei a franquia em 2018. Em 2019, fui convidado para participar do shark tkank de novo. Foi muito bacana.  

Eu levei o Aquiles, e brinquei com o Semenzato e o Apolinário. Vou ver se o Aquiles aceita a proposta que estão fazendo, na época aceitei. Mas quando gravei o programa em maio de 2019, eu não tinha nenhuma unidade de franquia, e o episódio foi ao ar em outubro de 2019. De maio a outubro, já tinha fechado 17 contratos de franquia, aquele investimento não fazia mais sentido. 

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