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Fenômeno TikTok: AliExpress ganha espaço da Zara com produtos idênticos
Especialistas avaliam que a fast fashion deverá buscar estratégias para superar o fato.
Um dos assuntos que tomou conta do TikTok no Brasil nas últimas semanas foi o volume de roupas idênticas da fast fashion Zara encontradas no marketplace AliExpress por preços muito mais baratos. Para os criadores de conteúdo da rede social, fornecedores da espanhola estão vendendo as mesmas mercadorias no site chinês, porém nenhuma das empresas confirmou a informação ao InvestNews.
Sem o pronunciamento das organizações, não é possível confirmar o aumento das vendas de uma e muito menos as perdas da outra. Contudo, em busca de um parâmetro de resultado, observa-se que apenas a hashtag “zaraaliexpress” no TikTok foi usada em milhares de vídeos, que juntos obtiveram 9,3 milhões de visualizações.
José Sarkis Arakelian, professor de negócios da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), comenta que não é possível confirmar se as empresas anunciantes do AliExpress são mesmo as fornecedoras da Zara, mas que não é de hoje que réplicas são lançadas no mercado.
“Nós não temos como confirmar que são exatamente os mesmos fornecedores… eu imagino que a Zara deve ter todos esses [seus] fornecedores sob contrato, dizendo que eles não podem desviar” as peças, diz Arakelian.
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Daniele Santos, professora do Hub de Moda e Luxo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), também não confirma a possibilidade de fornecedores da Zara oferecerem os mesmos produtos no AliExpress.
“Não podemos esquecer da enorme força de vendas de ‘dupes’ [o mesmo que réplicas] de algumas das maiores marcas do mundo (sejam do segmento de luxo ou não), que está em alta em plataformas internacionais. É possível dizer que nunca foi tão fácil adquirir produtos falsificados, o que traz um novo desafio para marcas do mundo todo”, diz ela.
Qual é o futuro da Zara?
Santos, da ESPM, reforça que, tendo em vista o relatório anual de 2022 da Zara, o dado de que cerca de 76% de todo o faturamento veio de lojas físicas prova qual é o formato de compra favorito dos consumidores da companhia. Portanto, a vantagem competitiva de preços do AliExpress perde força nesse caso, segundo ela.
“É mais possível acreditar que a Zara repensará estratégias de compras frente a [prováveis] fornecedores presentes em concorrentes, e deve criar caminhos para diferenciação de produtos e experiência de compra, aumentando a percepção de exclusividade de alguma maneira.”
Daniele Santos, professora do Hub de Moda e Luxo da ESPM.
Por outro lado, a pesquisa Webshoppers, realizada pela NIQ Ebit em parceria com a Bexs Pay, divulgada neste ano, revelou que o número de pessoas que fazem compras em sites internacionais cresceu de 2021 para 2022, de 68% para 72%.
Além disso, o estudo também aponta que a categoria de produtos mais comprada em sites internacionais refere-se a moda e acessórios, com um salto de 38% em 2021 para 39% em 2022.
Por ser uma fast fashion, Arakelian acredita que em meio a esse cenário a empresa provavelmente irá acelerar as suas produções, para que haja ainda menos réplicas no mercado. Ele ainda crê que a empresa poderá diminuir e melhor selecionar os seus fornecedores.
“A Zara já deve estar, neste momento, mensurando qual é o tamanho dessa confusão, para saber se essa situação pega uma quantidade de peças relevante ou não”, diz ele.
“Garantir que isso não vai acontecer é absolutamente impossível, porque isso acontece com a Zara e com todas as outras marcas, em todos os lugares do mundo… É o preço do sucesso.”
José Sarkis Arakelian, professor de negócios da FAAP.
Réplicas: certo ou errado?
Para Arakelian, o ponto mais importante é a forma como as pessoas consomem os produtos, se elas aceitam comprá-los no AliExpress deliberadamente, sabendo que na verdade eles estão sendo desviados ou copiados da Zara.
“Quais são os princípios éticos que são seguidos? Como essa peça está sendo produzida? Quem está trabalhando com isso? Onde é que eles conseguiram esse material? Se os caras não respeitam a propriedade intelectual, eles respeitam o quê?”, questiona o professor.
Arakelian explica que, mesmo que a Zara cobre preços considerados elevados no Brasil, a loja ainda é vítima dessa situação, uma vez que ela tem um forte investimento na produção das peças, desde a criação até a venda. “Ela [a Zara] é vítima, ela não é o vilão da história. Às vezes, passamos por essa inversão de valores”, comenta.
Ele ainda acrescenta que os preços dos produtos na Zara justificam-se por conta do trabalho de pesquisa, avaliação de tendência, visão de modelo de negócio e construção de marca. “Tudo isso está no valor da peça”, diz o professor, acrescentando que no fim das contas “não é uma concorrência leal”.
Queda da Selic x preços das roupas
Para os especialistas consultados, o corte da Selic, taxa básica de juros, deve favorecer o setor do varejo e, consequentemente, provocar uma queda nos preços dos produtos. No entanto, a mudança não deve acontecer no curto prazo.
Porém, mesmo com o cenário se concretizando, “é possível afirmar que mesmo que haja queda de custo, ainda encontraremos certos produtos com preço elevado em muitas marcas”, pontua Santos, da ESPM.
Além disso, as companhias asiáticas ainda devem continuar pressionando as brasileiras que trabalham com vestuário, podendo dificultar ainda mais a retomada do setor, segundo os especialistas.
Para Arakelian, as companhias asiáticas têm diversas vantagens competitivas. Baixa carga tributária, mão de obra barata e, principalmente, escala global, são algumas delas.
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