Negócios
JBS prepara Wesley Batista Filho para comandar empresa
Após 5 cinco anos, um membro da família fundadora está mais uma vez prestes a assumir as rédeas da empresa.
Por 65 anos, um Batista esteve à frente da JBS (JBSS3). Após um intervalo de cinco anos, um membro da família fundadora está mais uma vez a um passo de assumir as rédeas do que é agora a maior produtora de carne do mundo — e ele terá muito trabalho pela frente.
Embora a gigante brasileira com operações em 15 países, nos cinco continentes, não tenha anunciado um plano de sucessão, Wesley Batista Filho, de 31 anos, é o próximo na fila para o posto mais alto, segundo fontes próximas à família Batista e às operações da JBS.
Wesley Filho, que acaba de assumir o cargo de diretor-presidente da JBS USA, a importante unidade da empresa nos EUA, eventualmente substituirá Gilberto Tomazoni, 64, como CEO global. Em 2018, Tomazoni se tornou o primeiro CEO da empresa a não pertencer à família fundadora depois que um escândalo de corrupção envolveu alguns membros do clã.
Wesley Filho e a JBS não quiseram comentar, e as pessoas familiarizadas com o assunto disseram que não há um cronograma para a sucessão.
Mas quando ele assumir a posição, que já foi ocupada por seu pai, seu tio e seu avô, será um momento crucial para o negócio, que disputa o título de maior empresa de alimentos do mundo.
Ao mesmo tempo em que cresce em novas áreas, como cultivo de salmão e alimentos a base de plantas, a JBS precisará também convencer os investidores globais de que as questões de governança, mão de obra e meio ambiente são coisas do passado.
Também precisará estabilizar seu importante negócio de carnes, que — como os rivais — está enfrentando custos recordes de gado nos EUA e preços elevados de ração animal. Além disso, pessoas familiarizadas com a estratégia da empresa esperam que a tão esperada abertura de capital nos EUA esteja finalmente próxima.
“O grande trabalho operacional foi feito”, disse Tomazoni em entrevista na semana passada, quando questionado sobre uma listagem nos EUA. Em março, ele chamou a operação de “prioridade máxima” para a empresa.
Neto de José Batista Sobrinho — cujas iniciais deram nome à empresa que fundou — e filho do ex-CEO Wesley Batista, Wesley Filho começou a carreira na JBS no turno da noite, em um abatedouro de bovinos em Greeley, Colorado, aos 19 anos. No ano passado, ele foi nomeado presidente de operações globais. A partir de 1º de maio, ele administrará a joia da coroa da empresa, a JBS USA, durante o que se tornou um período desafiador para os processadores de carne bovina.
“Fizemos mudanças no comando de carne bovina dos EUA para acelerar a recuperação desse negócio”, disse Tomazoni na semana passada, depois que a JBS, com sede em São Paulo, divulgou um prejuízo trimestral inesperado, o primeiro em três anos.
No mercado de carne bovina dos EUA, a JBS mal fechou as contas. É uma tendência em todo o setor: a inflação está alta, o consumo está desacelerando e as margens da carne bovina – antes gordas com a demanda da pandemia – estão sob pressão.
Pessoas familiarizadas com a decisão disseram que Wesley Filho foi escolhido para endireitar as operações na JBS USA, inclusive melhorando o desempenho industrial e comercial das unidades americanas.
Ele certamente está familiarizado com elas: quando foi colocado pela primeira vez no Colorado quase adolescente, ele aprendeu a desossar um boi da maneira mais eficiente, como seu pai e avô. Durante as frequentes visitas às instalações da JBS, ele carrega uma régua no bolso e às vezes pára a linha de produção para medir os cortes das costelas em polegadas para garantir que cada peça tenha o mesmo tamanho, segundo pessoas com contato direto com ele.
Escândalo familiar
Talvez o maior obstáculo que Wesley Filho terá de superar seja o próprio nome, que no Brasil desperta lembranças recentes de escândalos de corrupção da geração anterior.
Seis anos atrás, seu pai Wesley e seu tio Joesley confessaram ter subornado centenas de políticos durante a Operação Lava Jato. Seu avô, que tinha 84 anos na época, assumiu temporariamente o cargo de CEO até que Tomazoni fosse escolhido para o cargo.
Os irmãos Batista passaram seis meses na cadeia e foram afastados do dia a dia da empresa. Embora Wesley e Joesley agora estejam livres para retornar a um cargo executivo na JBS, eles mantêm um perfil bastante discreto.
Wesley Filho não esteve envolvido nas investigações, mas é difícil afastar as memórias que trazem o sobrenome.
“Para quem lê apenas que Wesley Filho pertence à família do fundador, nomeá-lo como CEO pode trazer um peso extra de governança para as ações da JBS”
Leonardo Alencar, analista da XP Investimentos
Ao mesmo tempo, ele demonstrou profundo conhecimento das operações globais da empresa ao trabalhar desde o chão de fábrica ao segundo cargo executivo mais alto, passando por diferentes posições de liderança em vários países. “Isso é único no mundo corporativo”, disse Alencar.
A posse de Tomazoni como CEO ajudou a empresa a se distanciar temporariamente da família, mesmo que o veículo de investimento dos irmãos Batista, a J&F Investimentos, ainda detenha 42% da empresa de carnes.
Com a JBS avaliada em cerca de R$ 36 bilhões (US$ 7,3 bilhões), a participação de Wesley e Joesley Batista é avaliada em pouco mais de US$ 3 bilhões. Ao adicionar outros negócios da holding, que também inclui uma das maiores produtoras de celulose do mundo, um banco e empresas nos setores de serviços públicos, mineração, cosméticos e mídia, a fortuna dos Batista vale cerca de US$ 5 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index.
Onda de Aquisições
O avô de Wesley Filho, conhecido como Zé Mineiro, trabalhava como açougueiro quando fundou a JBS em 1953. Começando com capacidade para abater apenas cinco cabeças de gado por dia, o patriarca da família ajudou a fornecer carne para trabalhadores da construção civil em Brasília e depois adquiriu seu primeiro frigorífico. Foi a primeira de uma série de aquisições que transformaram seu negócio em uma potência global de carnes.
O crescimento acelerou quando a JBS comprou uma série de negócios globais, incluindo a Swift, a divisão de carne bovina da Smithfield Foods e uma participação majoritária na Pilgrim’s Pride. As aquisições de aves, suínos e embalagens expandiram ainda mais o alcance da empresa.
Hoje, a JBS é a maior empresa de proteína animal do mundo, com unidades produtivas nos cinco continentes e capacidade para processar 75 mil bovinos por dia. Também comercializa couro, colágeno e biodiesel. Suas várias marcas, desde a australiana Primo até a marca europeia de aves Moy Park, estão presentes em casas de famílias em mais de 190 países.
Era importante para seu pai que Batista Filho pudesse falar vários idiomas depois dos problemas que enfrentou quando morava nos EUA, durante a aquisição da Swift, disse uma das pessoas familiarizadas com a situação. Batista Filho, que estudou em um internato na Suíça e depois largou a Colorado State University para ingressar na empresa em tempo integral, é fluente em inglês, espanhol, português, francês e alemão.
Essas habilidades o ajudaram a se encaixar rapidamente na cultura local durante seus vários cargos ao redor do mundo na JBS, incluindo o reconhecimento e promoção de imigrantes e refugiados a cargos de gerência, disseram pessoas que trabalharam de perto com ele.
Ele também é conhecido por começar o dia cedo — um pesadelo para alguns de seus colegas brasileiros acostumados a começar mais tarde. Um alto executivo da JBS, que pediu para não ser identificado por tratar de assuntos particulares, disse que na primeira semana na empresa foi convocado para uma reunião com Wesley Filho às 7 da manhã. Na semana seguinte, foi chamado para trabalhar em um feriado local.
“Hoje é feriado em São Paulo, mas não no Mato Grosso”, disse Wesley Filho ao executivo. “Vamos voar para lá.”
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