Justiça aceita recuperação judicial da Americanas; ação tomba mais 42%

É uma das maiores recuperações judiciais já ajuizadas no Brasil, diz juiz.

A Justiça aceitou nesta quinta-feira (19) o pedido de recuperação judicial feito horas antes pelas Lojas Americanas. A decisão é da da 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro.

Mais cedo, a Americanas (AMER3) divulgou um comunicado informando que entrou com um pedido de recuperação judicial nesta quinta, uma semana após revelar um escândalo contábil de pelo menos R$ 20 bilhões. Após a notícia, a B3 informou que excluiu a varejista de todos os seus índices de referência. No comunicado, a varejista informou uma dívida junto aos credores que soma R$ 43 bilhões.

As ações das Americanas (AMER3) fecharam em queda de 42,53%, cotadas a R$ 1, a mínima do dia. Com isso, o papel acumula desvalorização de 91,6% desde o anúncio do rombo.

Na decisão, o juiz Paulo Assed Estefan destacou que “trata-se de uma das maiores e mais relevantes recuperações judiciais ajuizadas até o momento no país, não só por conta do seu passivo, mas por toda a repercussão de mercado que a situação de crise das requerentes vem provocando e, por todo o aspecto social envolvido, dado o vultoso número de credores, de empregados diretos e indiretos dependentes da atividade empresarial ora tutelada, bem como o relevante volume de riqueza e tributos gerados”.

Estefan apontou ainda que, “como pontuado no requerimento de Recuperação Judicial, a eventual quebra do Grupo Americanas pode acarretar o colapso da cadeia de produção do Brasil, com prejuízos em relevantes setores econômicos, afetando mais de 50 milhões de consumidores, colocando em risco dezenas de milhares de empregos”.

Americanas (AMER3): como recuperação judicial pode impactar ações de bancos e de outras empresas

Ame de fora

O pedido de recuperação judicial inclui além da Americanas as empresas B2W, JSM Global e ST Importações, deixando de fora a fintech Ame, que vinha recebendo forte impulso do ecossistema de lojas físicas e online do grupo.

Os acionistas de referência pretendem manter a liquidez da companhia em patamares que permitam o bom funcionamento da operação, afirma a Americanas, que pediu ainda que a Justiça a autorize a capitalizar a Ame, por considerá-la “um dos maiores vetores de renda do grupo”.

Entenda o caso

No dia 11 de janeiro, a Americanas anunciou inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões, o que resultou na renúncia dos então CEO e CFO da empresa.

Dois dias depois, credores pediram o vencimento antecipado das dívidas da companhia e notícias indicaram que os acionistas de referência propuseram um aumento de capital de R$ 6 bilhões, enquanto bancos credores exigiram um mínimo de R$ 10 bilhões.

Na mesma data, a companhia conseguiu uma tutela de urgência na Justiça, suspendendo por 30 dias o vencimento antecipado das dívidas e quaisquer obrigações. Em seguida, credores, incluindo BTG Pactual e Bradesco, buscaram reverter a decisão, esvaziando o caixa da Americanas.

Sem citar nomes, a varejista afirmou que “alguns poucos credores, sem pensar nos impactos para a coletividade, tomaram medidas precipitadas que culminaram no perigoso esvaziamento do caixa da companhia e, consequentemente, inviabilizaram a sua operação a curto prazo”.

Em meio aos desdobramentos, a companhia, que teve sua nota de crédito rebaixada por agências de classificação de risco, chegou a anunciar a contratação do Rothschild & Co como seu representante no processo de reestruturação com credores. Foi anunciada ainda a indicação da nova CFO Camille Faria, uma executiva com experiência em processos de recuperação judicial.

Pedido aceito em algumas horas

A Americanas informou no início da tarde desta quinta-feira que entrou com o pedido de recuperação judicial, que foi aceito horas depois pela Justiça.

Ricardo Rodil, especialista em finanças e líder do Mercado de Capitais do Grupo Crowe Macro, explica que o pedido de tutela dias antes pode ajudar a explicar a rapidez do processo, já que a própria resposta ao pedido de tutela foi uma indicação de que o pedido de recuperação deveria ser feito. “Não é uma coisa que pegou todo mundo de surpresa”, pontua o especialista.

Rodil avalia que existem bons prognósticos para a recuperação e acrescenta que “é muito melhor do que pedir falência, que muitas vezes significa zero”, em menção aos valores a serem recebidos pelos credores da empresa.

O que poderia invalidar o processo, no entanto, seria alguma indicação de fraude na empresa. ainda de acordo com o especialista. “Há possibilidade que venha a ser que definido que houve fraude. Mas se vai ser comprovado e os efeitos negativos que isso poderia ter na própria recuperação judicial, aí é uma dúvida”, opina.

O pedido desta quinta-feira põe Americanas, que tem cerca de 40 mil funcionários, entre as maiores recuperações judiciais do país. O grupo das maiores operações do tipo no país inclui Odebrecht, com R$ 98,5 bilhões em dívidas em 2019; Oi, com R$ 65,4 bilhões em 2016; e Samarco (R$ 50 bilhões de reais) em 2021.

B3 exclui AMER3 de 14 índices

Logo após a notícia do pedido, a B3 informou que o papel da Americanas, AMER3, será excluído a partir desta sexta-feira (20) de todos os índices acionários aos quais faz parte: IBOV, IGCX, ICO2, ICON, IBXX, IGCT, IGNM, IBRA, IVBX, ISEE, ITAG, SMLL, IBXL e GPTW.

Segundo a B3, será levando em conta o preço de fechamento após o encerramento do pregão regular de 20/01/2023 e a participação da Americanas será redistribuída proporcionalmente aos demais integrantes da carteira, cuja participação será ajustada.

(* com informações da Reuters)

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