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Kepler Weber diz que oferta da americana A-AG para fusão prevê um pagamento de R$ 11 por ação

A proposta representa um prêmio de 48,3% sobre o preço médio das ações nos 60 dias anteriores à oferta

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A americana A-AG Holdco propôs pagar R$ 11 por ação da Kepler Weber para adquirir a fabricante brasileira de silos – foi o que a Kepler informou à CVM nesta segunda-feira (10). A A-AG é dona da marca GSI, também de silos. A compra fundiria GSI e Kepler.

O valor é 5% maior que o do fechamento da última sexta (R$ 10,48) e, de acordo com a empresa, 48,3% superior à média dos 60 dias anteriores a 16 de outubro. Essa é a data em que a Kepler concedeu exclusividade à GPT para avançar nas negociações.

A exclusividade dá à GPT o direito de negociar sem concorrentes por um período determinado. Desde a última semana de outubro, a ação da Kepler sobe 44% – por isso o prêmio em relação à média é maior do que na comparação com o último fechamento.

O preço de R$ 11 por ação avalia a Kepler em R$ 1,9 bilhão – e não é definitivo. De acordo com a empresa, trata-se de uma referência inicial. O mercado esperava mais: a ação da Kepler cai 3% nesta segunda.

A Kepler destacou que, até 90 dias após a assinatura dos documentos definitivos da venda, poderá distribuir dividendos conforme sua política atual, de até 47,5% do lucro líquido anual, sem impactar o preço sugerido pela americana.

Após esse período, e até a conclusão da operação — ou até 180 dias após a assinatura —, o valor poderá ser ajustado, reduzido pelos dividendos pagos e acrescido da variação do CDI.

Segundo o comunicado, as partes seguem em processo de avaliação detalhada da empresa e negociação dos documentos finais. A Kepler ressaltou que, até o momento, não há qualquer acordo vinculante, além do compromisso de exclusividade já firmado.

A proposta da A-AG Holdco, foi divulgada pela primeira vez em 4 de novembro, quando a Kepler confirmou o recebimento de uma oferta para uma possível fusão entre as duas empresas.

Um atalho para a liderança

De acordo com o Citi, as negociações entre a Kepler e a GSI podem dar origem a uma multinacional de armazenagem de grãos sem paralelo no Brasil. A potencial fusão é vista como “um atalho para a liderança”, ao combinar a força da Kepler — líder nacional com cerca de 35% do mercado — com a GSI, terceira colocada, que detém aproximadamente 7% de participação.

Desde que foi vendida pela AGCO ao fundo AIP, em 2024, por US$ 700 milhões (equivalente a 8,3 vezes o Ebitda), a GSI vem adotando estratégias agressivas de preço e financiamento para ampliar sua presença no Brasil, com a meta de dobrar sua fatia de mercado em cinco anos.

Na avaliação do Citi, a combinação com a Kepler criaria um grupo quase onipresente, capaz de participar de praticamente todas as negociações de silos agrícolas do país. “O anúncio reforça o interesse da GSI em se tornar líder de mercado no Brasil por meio de um processo acelerado”, escreveram os analistas André Mazini, Kiepher Kennedy e Piero Trotta.

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O Brasil enfrenta um déficit estrutural de armazenagem de grãos, com capacidade estática equivalente a 70% da produção anual, ante mais de 100% nos Estados Unidos. Entre 2016 e 2024, a produção brasileira de grãos cresceu 6% ao ano, enquanto a capacidade de armazenagem avançou apenas 2,5%. Segundo a Cogo Inteligência em Agronegócio, essa relação pode cair para 55% até 2033, abrindo uma lacuna que a nova companhia estaria bem posicionada para preencher.

Hoje a Kepler negocia a um múltiplo de 6 vezes o Ebitda estimado para 2026, – abaixo dos patamares históricos do setor. Em 2017, quando a AGCO chegou a oferecer US$ 185 milhões pela empresa, o valor representava um múltiplo de 12 vezes o Ebitda — o que, em valores atuais, equivaleria a mais de R$ 3 bilhões.

Possível OPA

O Citi avalia que, por ser controlada por um fundo de private equity, a GSI tende a buscar o fechamento de capital da Kepler, o que abriria caminho para uma eventual oferta pública de aquisição (OPA) – ou seja, a saída da empresa da bolsa. Embora o banco não confirme que uma OPA esteja nos planos imediatos, considera que essa seria uma consequência natural caso a transação avance.

A base acionária pulverizada da Kepler facilitaria o processo: a Trígono Capital detém 15,3%, seguida pela família Heller, com 11,6%, enquanto quase 70% das ações estão nas mãos de investidores de mercado.

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