A joint venture entre HPDC e BRF Arabia será ampliada com o aporte dos sauditas e planos de IPO na bolsa de valores do reino em 2027. O negócio passará a se chamar Sadia Halal após a conclusão da operação, prevista para o primeiro trimestre de 2026.
O HPDC ingressa inicialmente com 10% de participação e planeja elevar sua fatia para até 40% de forma escalonada, por meio de aportes sucessivos de capital — metade primário, destinado ao caixa da Sadia Halal, e metade secundário, diretamente para a MBRF.
O acordo prevê a contribuição de ativos da BRF Arabia, incluindo empresas de distribuição e fábricas em vários países do Oriente Médio, com enterprise value estimado em US$ 2,07 bilhões e faturamento anual de US$ 2,1 bilhões. “A parceria combina a experiência industrial da MBRF com o alcance institucional e financeiro do PIF por meio da HPDC, criando uma plataforma única no mercado Halal”, acrescentou Molina.
De acordo com Molina, os recursos devem zerar o endividamento da subsidiária e reforçar o capital para financiar o plano de expansão regional, que inclui a nova planta de Jeddah, prevista para entrar em operação em outubro de 2026.
O termo halal — que em árabe significa “permissível” ou “lícito” — abrange tudo aquilo que está conformidade com a lei islâmica (sharia), seja em práticas diárias, finanças, vestuário ou consumo.
No caso dos alimentos, halal refere-se a produtos que são preparados e processados segundo padrões específicos: não contêm ingredientes proibidos (como carne de porco ou bebidas alcoólicas), o abate de animais segue rito islâmico de forma ética e o equipamento usado evita contaminação com substâncias não permitidas.
Fornecimento
O contrato de fornecimento entre MBRF e Sadia Halal, com duração inicial de 10 anos, cobre exportações de frango inteiro, cortes e produtos processados, além de carne bovina. O modelo de precificação seguirá a metodologia custo mais 5%, padrão que, segundo o vice-presidente Fábio Mariano, “traz previsibilidade e reduz a volatilidade das margens”.
A parceria também abre espaço para a expansão da companhia no mercado de carne bovina halal, apontado por Molina como um dos principais vetores de crescimento da nova operação. “Foi uma das razões que despertou o interesse do HPDC — ter o bovino no portfólio e consolidar a Sadia Halal como uma empresa multiproteína”, afirmou.
A nova estrutura reúne duas fábricas em Dammam (Arábia Saudita), a planta de Kizad em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) e centros de distribuição no Catar, Kuwait e Omã, além do canal de exportações diretas do Brasil e da participação na Addoha Poultry, produtora local de frango resfriado em Dammam.
A Sadia, principal marca da MBRF é líder em seu segmento, com 36,2% de participação nos países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), atendendo 17 mil pontos de venda com mais de 111 mil entregas mensais. O mercado halal movimenta mais de US$ 2 trilhões por ano e deve ultrapassar US$ 1,5 trilhão até 2027, impulsionado por uma população muçulmana de 1,9 bilhão de pessoas.
Listagem
O IPO da Sadia Halal está previsto para o primeiro trimestre de 2027, na bolsa de Riad, uma das dez maiores do mundo e quarta colocada global em número de aberturas de capital neste ano. O fechamento da transação deve ocorrer no primeiro trimestre de 2026, seguido do prazo regulatório de 12 meses exigido pela legislação saudita.
A operação atribuiu à Sadia Halal um múltiplo de 9 vezes EBITDA, considerado conservador em comparação aos 13 a 15 vezes praticados por companhias de alimentos listadas na bolsa saudita, como a Almarai, referência do setor. Marcos Molina afirmou que a listagem local permitirá destravar valor em um mercado com custo de capital cerca de metade do brasileiro e forte demanda por empresas ligadas à segurança alimentar.
Segundo o executivo, o plano não altera a estratégia da MBRF de realizar um IPO em Nova York, mas a fortalece. “Pelo contrário, isso valoriza ainda mais a companhia quando formos abrir o capital nos Estados Unidos”, disse Molina, destacando que a simplificação societária e os múltiplos mais altos da operação no Golfo devem impulsionar a avaliação global da MBRF.
