A Méliuz anunciou nesta quinta-feira (6) a compra de US$ 4,1 milhões em bitcoin (BTC) para compor o seu caixa após seu conselho de administração aprovar uma mudança na estratégia de tesouraria para poder investir na criptomoeda, seguindo o já famoso modelo da americana Strategy (antiga MicroStrategy), de Michael Saylor.
A companhia informou que sua nova política permite a aplicação de até 10% do caixa em bitcoin, “buscando um retorno de longo prazo no ativo”. A Méliuz disse que adquiriu 45,72 bitcoins por US$ 4,1 milhões, a um preço médio de US$ 90,2 mil por BTC. Trata-se da primeira empresa de capital aberto a fazer isso.
Apesar da comparação com a Strategy, o cenário para a Méliuz é bastante diferente. A empresa de Saylor iniciou suas compras em 2020 em um cenário em que fundos não podiam investir diretamente em bitcoin – e mesmo investidores comuns tinham (e ainda têm) dificuldade em lidar com exchanges, com agentes financeiros de fora de sua zona de conforto, digamos assim. Isso tornou a Strategy uma forma “regulada” de esses investidores terem exposição à criptomoeda – comprar ações da companhia era (e ainda é) uma forma de comprar bitcoin.
No Brasil a história é bem diferente. Enquanto os EUA só permitiram a criação de um ETF de cripto à vista em 2024, o Brasil já tinha um, o Hash11, desde 2021. E ele é hoje o segundo maior em número de cotistas, atrás apenas do IVVB11, que acompanha o S&P 500, e à frente do BOVA11, que segue o Ibovespa.
Não é só isso. Diversos bancos vendem cripto diretamente aos clientes, no conforto do app com o qual cada um já movimenta sua vida financeira.
O público brasileiro, em suma, se sente confortável em investir em cripto de forma mais direta, sem a "intermediação" de uma empresa que encha o caixa de BTC.
Além disso, a Strategy conseguiu aproveitar um grande crescimento do bitcoin nos últimos anos, o que levou o valor de mercado da companhia de US$ 500 milhões para quase US$ 80 bilhões. Atualmente a Strategy tem 499 mil bitcoins em caixa, no valor de US$ 45 bilhões.
A Méliuz, por sua vez, vale míseros R$ 270 milhões, depois de chegar a um valor de mercado de R$ 6 bilhões no seu auge em 2021. “Nossa ação perdeu relevância no mercado, passando a movimentar, em média, apenas R$ 4 milhões por dia no mercado à vista”, escreveu Israel Salmen, presidente do conselho, em comunicado aos acionistas.
Ou seja: a Méliuz fez o movimento em grande parte por conta dos holofotes do ineditismo. Salmen diz que grandes instituições não cobrem mais a empresa e que o cenário é de baixa visibilidade e interesse, sem um caminho claro para reverter essa situação”. Diante disso, ele acredita que investir o caixa da companhia em renda fixa seria um “custo de oportunidade significativo e detrimental aos nossos acionistas”.
Salmen, de qualquer forma, remete à filosofia por trás do bitcoin como justificativa. Ele diz no comunicado: “Muitas pessoas enxergam o bitcoin como um ativo de alto risco. Mas será que compreendemos verdadeiramente o conceito de risco? O que é mais arriscado: manter reservas em dinheiro sujeito a desvalorização devido a políticas públicas de forte expansionismo monetário ou investir em um ativo verdadeiramente escasso, que nos últimos 10 anos valorizou 77% ao ano em dólar?”