Negócios
Montadoras projetam mais um ano morno para vendas e produção de veículos
Expectativa é de alta de 3%, para 2,168 milhões de unidades.
A indústria automotiva divulgou nesta sexta-feira (6) projeções tímidas de desempenho para este ano, espelhando o que concessionárias de veículos já tinham estimado na véspera, diante do cenário de juros elevados que dificulta financiamentos e prevendo exportações em queda.
As montadoras esperam que as vendas de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus novos em 2023 cresçam 3%, para 2,168 milhões de unidades, um patamar considerado pelo presidente da associação que representa o setor, Anfavea, como baixo diante da capacidade de produção de 4,5 milhões de veículos por ano. Em 2022, os licenciamentos caíram 0,7%, a 2,1 milhões de unidades.
Na véspera, a associação de concessionárias de veículos, Fenabrave, afirmou que as vendas devem ficar praticamente estáveis frente ao ano passado, em uma primeira previsão que, se cumprida, marcará um terceiro ano de fraca performance do setor.
“Espero que esses números (da Anfavea) estejam completamente equivocados para baixo e que em alguns meses possamos estar de volta ao número de 2,8 milhões do cenário pré-pandemia”, disse o presidente da Anfavea, Marcio Leite, em entrevista a jornalistas. Ele se referiu às vendas de 2019, de 2,787 milhões de veículos.
A previsão da Anfavea para a produção é de alta de 2,2%, para 2,42 milhões de veículos, com o segmento de pesados – caminhões e ônibus – recuando 20,4%, em um sinal negativo para o desempenho da economia, tradicionalmente movimentada por caminhões.
Na exportação, as montadoras preveem queda de 2,9% em 2023, a 467 mil veículos, depois de alta de 27,8% em 2022.
“Percebemos problema menor sobre (oferta de) semicondutores neste ano e precisamos trabalhar para crescimento da demanda e o crédito e questão tributária são fatores para isso”, disse Leite. “Precisamos ultrapassar essa barreira de 2,1 milhões de unidades de vendas e voltar a patamares minimamente aceitáveis na casa de 3 milhões”, acrescentou.
Segundo ele, o setor viu com bons olhos o discurso do ministro da Indústria e Comércio, o vice-presidente Geraldo Alckmin, nesta semana, mas é necessário velocidade no governo para implementar medidas de reindustrialização do país.
A pressa ocorre em razão do estágio de definição de planos de investimentos do setor para os próximos anos, em um momento no qual as matrizes das montadoras instaladas no país definem locais onde bilhões de dólares serão aplicados em fábricas e tecnologias que incluem eletrificação e direção autônoma.
O presidente da Anfavea lembrou que em 2013 as montadoras no Brasil prepararam planos de investimento que tinham como norte previsão de que o mercado nacional cresceria para perto de entre 4,5 milhões e 5 milhões de veículos por ano. A última vez que as vendas de veículos no Brasil superaram a casa dos 2 milhões de unidades foi em 2014, com vendas de 3,5 milhões de unidades.
“O Alckmin conhece a indústria e ele falando de reindustrialização é algo que para a gente soa como música. Mas é importante vermos se vamos conseguir ter uma velocidade na implementação de medidas”, disse o presidente da Anfavea.
Ele criticou medidas tomadas por governos estaduais que aumentaram alíquotas de ICMS e defendeu urgência na reforma tributária, destacando a triplica tributação de IOF aplicada sobre o setor automotivo por causa de incidência em vendas de montadoras para concessionários, dos concessionários para consumidores e na contratação de seguro.
“Não podemos trabalhar com aumento de impostos neste instante e neste ano tivemos 12 Estados que aumentaram suas alíquotas…Isso é inadmissível”, disse Leite.
Em todo 2022, o volume montado de veículos no Brasil foi de 2,37 milhões de veículos, alta de 5,4% sobre o ano anterior. O presidente da Anfavea afirmou que falta de componentes eletrônicos fez o setor deixar de produzir 250 mil veículos no ano passado.
Em dezembro, os emplacamentos totalizaram 216,9 mil unidades, crescimento de 4,8% no comparativo anual. O desempenho foi em parte afetado pela Copa do Mundo e por falta de operação nos últimos dias do ano passado de alguns departamentos de trânsito estaduais encarregados pelo licenciamento, disse Leite.
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