Negócios
Responsável por ‘tela azul’ mundial, CrowdStrike vivia uma lua de mel com o mercado
Empresa de cibersegurança entrou para o S&P 500 e tem valor de mercado parecido com o da Petrobras
Há algumas semanas, quando o InvestNews começou a conversar com representantes da CrowdStrike para a produção de uma reportagem, surgiu uma dúvida aqui na redação: as pessoas se interessariam mesmo em ler sobre uma empresa de cibersegurança desconhecida do grande público?
Nesta sexta-feira (19), a própria CrowdStrike resolveu essa questão: uma falha do Falcon, principal produto da empresa americana, travou o Windows globalmente, o que gerou um gigantesco efeito cascata, paralisando serviços e empresas numa escala difícil de quantificar. De repente, todo mundo está falando sobre a CrowdStrike.
A ‘tela azul’ global empurrou para baixo as ações da empresa. Nessa sexta, os papéis caíram 11%. Mas de um patamar alto.
As ações dobraram de preço no último ano, e o valor de mercado atingiu US$ 90 bilhões no mês passado – praticamente o mesmo da Petrobras, a mais valiosa empresa brasileira – e a companhia passou a integrar o S&P 500, famoso índice das maiores empresas de capital aberto dos Estados Unidos.
Os programas de cibersegurança que a CrowdStrike vende a pequenos e grandes negócios prometem a melhor e mais inteligente proteção contra ataques maliciosos. Uma característica ali é o uso de inteligência artificial para identificar tentativas de invasão a softwares e dados – cuja complexidade cresce dia após dia.
O software da CrowdStrike usa aprendizado de máquina para identificar padrões que, teoricamente, não seriam percebidos por antivírus tradicionais. Outro diferencial é que seu Falcon tem mais autonomia para tomar decisões nos sistemas dos seus clientes. O objetivo é parar possíveis ataques o mais rápido possível, evitando que invasores avancem sobre outros sistemas e dados. Assim, as equipes de segurança da informação têm mais tempo para tomar medidas adicionais.
Ainda não se sabe se esse perfil ‘voluntarioso’ do Falcon está de alguma forma relacionado ao apagão global desta sexta-feira.
Fundada por ex-executivos da McAfee, a CrowdStrike gosta de comparar suas soluções às de concorrentes. E as avaliações no seu site são feitas sem dó – ou moderação.
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Os produtos de cibersegurança da Microsoft, segundo eles, são “onerosos”. O sistema da Palo Alto, “difícil de implementar, difícil de usar e difícil de gerenciar”. SentinelOne? “Cobertura fraca, não consegue parar invasões” – mesma avaliação dada ao produto da Wiz – startup que o Google está querendo comprar por US$ 24 bilhões.
“Lerda demais”, “detecção ruim”, “incompleta”. A CrowdStrike não economiza nos adjetivos negativos quando o assunto é concorrência. E é bastante convicta de que seus serviços são bem avaliados pelos clientes.
“O resultado que estamos entregando na CrowdStrike é proteção cibernética na sociedade digital de hoje. Por isso que a empresa se tornou tão bem-sucedida: a tecnologia funciona e os clientes amam”, disse ao InvestNews Daniel Bernard, Chief Business Officer da CrowdStrike. A entrevista aconteceu antes do apagão desta sexta-feira.
Brasil
Especialistas em tecnologia da informação e em cibersegurança com que a reportagem tem conversado nas últimas semanas foram unânimes em dizer que as empresas brasileiras ainda têm muito a avançar nessas disciplinas.
Essa também é a avaliação da própria CrowdStrike. Representantes da empresa disseram ao InvestNews que, na média, as empresas brasileiras investem pouco – ou investem mal – na infraestrutura necessária para proteger seus dados, o que faz do Brasil um dos focos da companhia para os próximos anos.
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“A gente não quer que o Brasil seja o país do futuro para sempre. Precisamos melhorar nossa cibersegurança para que o país consiga entregar boa tecnologia para o mundo todo”, disse ao InvestNews Jeferson Propheta, vice-presidente da CrowdStrike para Brasil e América do Sul – e também um ex-executivo da McAfee.
A LWSA – antiga Locaweb – é uma das maiores clientes da CrowdStrike no Brasil, e desde 2019, quando a empresa chegou ao país. Gustavo Salviano, Chief Technology Officer da LWSA, se disse bastante satisfeito com o serviço da empresa.
“A gente comprou mais de 20 empresas desde o IPO, em 2020. A regra zero era colocar CrowdStrike porque dá uma proteção imediata”, disse Salviano. “Eu não conheço nada do ambiente [de segurança digital da empresa] que eu comprei. Como é que eu me garanto? Eu vou lá e coloco o Falcon.”
Apagão
Em comunicado, a CrowdStrike disse que “está trabalhando ativamente com clientes afetados” e explicou que o problema desta sexta-feira foi causado por um “defeito encontrado em uma única atualização de conteúdo para hosts Windows”.
A empresa destacou que “este não é um incidente de segurança ou ataque cibernético” e que uma correção já foi implantada.
“Nossa equipe está totalmente mobilizada para garantir a segurança e estabilidade dos clientes CrowdStrike.”
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