O grupo Abra se consolidou como o dono de fato da Gol Linhas Aéreas após a execução do plano de reestruturação das dívidas. A holding saiu do processo com 80% das ações da companhia de aviação detidas direta ou indiretamente.
O percentual foi alcançado após o controlador aceitar receber US$ 950 milhões em novas ações, além de US$ 850 milhões em dívidas reestruturadas dentro do plano de reestruturação. Essas operações, junto com a capitalização da companhia, fizeram parte dos esforços para a Gol sair da recuperação judicial pedida em janeiro de 2024 nos EUA sob as regras do Chapter 11.
Mas quem é a Abra? O grupo formado em 2022 foi fruto do casamento entre os principais acionistas da colombiana Avianca, os fundos Kingsland, Elliot e Salt Lake One, e os controladores da Gol, a família Constantino. Os fundadores da Gol detém diretamente a totalidade das ações ordinárias (ONs, com direito a vota) da aérea brasileira e 45,16% das preferenciais (PNs, sem direito a voto, mas com precedência no recebimento de dividendos) por meio do fundo Mobi. Antes da reestruturação, a participação dos Constantino alcançava 53,7% do capital da companhia de aviação.
A holding que hoje controla a Avianca e a Gol, além dos programas de milhagem LifeMiles e Smiles, tem na presidência executiva o ex-CEO da Gol e atual presidente executivo do conselho da aérea, Constantino Oliveira Jr. Já o CEO é o atual vice-presidente executivo da Avianca, o colombiano Adrian Neuhauser. Além dos dois, o salvadorenho Roberto Kriete, ex-TACA e ex-Avianca, chefia o conselho de investidores.
A criação da Abra evoca o surgimento da Latam, em 2012. A diferença é que os controladores da Gol e da Avianca preferiram manter a estrutura de holding, com operações independentes das duas companhias. No caso da fusão entre a Lan Chile e a brasileira TAM, as empresas integraram as operações e passaram a operar sob uma mesma marca.
As companhias da Abra juntas empregam cerca de 30 mil profissionais de aviação e controlam uma frota com cerca de 300 aeronaves. Agora que um dos principais objetivos de 2025 foi alcançado, a saída da Gol da recuperação judicial, a holding planeja voos mais altos.
Os sinais mais fortes apontam para uma negociação de aumento de participação e eventual incorporação da chilena Sky Airlines. Um dos trunfos da Abra é o fato de ser detentora de instrumentos de dívida que podem ser convertidos em ações da aérea.
Uma eventual aquisição de controle da Sky ajudaria o grupo a consolidar operações nos países da América do Sul, como Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai. Com Gol e Avianca, a Abra tem uma atuação representativa nos mercados do Brasil, Colômbia, Equador e América Central.
Outra frente é o processo de fusão entre a Gol e a Azul. A aérea e a Abra assinaram em janeiro deste ano um memorando de entendimento não vinculante com a intenção de combinar seus negócios no Brasil.
O pedido de recuperação judicial feito pela Azul no fim de maio pode, no entanto, atrasar os planos. A companhia entrou com a solicitação também pelo Chapter 11 nos EUA, nos mesmos moldes do processo que a Gol acabou de concluir.
A expectativa da Azul é de concluir o plano de recuperação até o fim de 2025. Até lá, o mais provável é que uma eventual fusão fique em banho maria. Mas representantes da Abra têm sinalizado que a operação continua como um dos principais objetivos da holding.
O CEO da Abra, Adrian Neuhauser, afirmou durante um evento internacional no início do mês que o grupo ainda acredita na consolidação. O executivo também informou que o memorando de entendimento com a Azul foi enviado em junho para aprovação regulatória.