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Sucessão na Vale expõe ‘cabo de guerra’ entre governo e mineradora
Presidente Lula articula para emplacar o nome de Guido Mantega como CEO.
Os próximos dias serão decisivos para a Vale (VALE3). Em jogo, está o cargo de presidente da mineradora. Até o fim deste mês, o Conselho de Administração deve decidir se mantém no comando Eduardo Bartolomeo, cujo mandato expira em maio, ou se escolhe um sucessor. Na lista, desponta o economista e ex-ministro Guido Mantega, considerado por muitos um “azarão”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula para emplacar o mais longevo ministro da Fazenda no mais alto cargo da Vale. Esse ruído surgiu em meados do ano passado, quando acabou sendo abafado, mas agora volta a incomodar o mercado financeiro diante de temores quanto a ingerência política na mineradora.
“As ações da Vale vêm sofrendo com a disputa política e a possibilidade de Mantega atuar como CEO da companhia, além das incertezas sobre a China”.
Filipe Villegas, analista da Genial Investimentos, em comentário.
Para se ter uma ideia, apenas em janeiro até a última sexta-feira (19), a Vale acumulava queda de 12% na bolsa brasileira, mais que o dobro das perdas registradas pelo Ibovespa no período (-4,88%). Em 14 pregões seguidos neste início de ano, a ação da mineradora fechou em alta apenas uma vez.
Porém, uma eventual substituição de Bartolomeo por Mantega como presidente-executivo não é tão simples. Após a privatização no fim dos anos 1990, a Val;e tem mais de 90% de seu capital nas mãos da iniciativa privada. O governo federal tem influência direta na empresa apenas por meio da Previ – o fundo de pensão de funcionários do Banco do Brasil (BBAS3). Trata-se do maior acionista individual da Vale, com uma participação de 8,7%.
Ainda assim, seria necessária a aprovação do restante do Conselho, o que, na visão do mercado, é pouco provável. Daí porque o governo coloca outras opções na mesa. Entre elas, está uma vaga para Mantega no Conselho, de preferência, como presidente. Para tanto, o governo apoiaria a reeleição de Bartolomeo, porém, para um mandato mais curto.
Para Ygor Araújo, também da Genial Investimentos, a probabilidade para o cargo de conselheiro é maior. “Ainda assim, a Vale é uma empresa com capital pulverizado, o que torna mais difícil intervenções políticas em sua cadeira de comando”, afirma, em comentário, lembrando que os estatutos da empresa protegem contra o lobby político.
Cabo de guerra
De um lado, a Vale pode desempenhar um papel estratégico em meio aos esforços de reindustrialização do governo, com o anúncio nesta segunda-feira (22) de R$ 300 bilhões em recursos para financiar a indústria nacional. Aliás, os incentivos fiscais para setores específicos preocuparam os investidores.
“A preocupação fiscal e a política industrial bilionária deixam o mercado inseguro”, afirma Lucas Almeida, sócio da AVG Capital. Porém, de outro, a Vale pode ter acesso facilitado a projetos de exploração de jazidas, com o governo reduzindo a burocracia para renovar contratos e acelerando o licenciamento ambiental.
Portanto, no jogo em que se transformou a sucessão do comando da Vale está a disputa sobre estratégia e investimentos. A intenção declarada de Lula é transformar a mineradora em uma parceria do governo, alinhada às iniciativas para impulsionar a economia brasileira, em especial voltados à “agenda verde”.
E os dividendos?
Contudo, isso tende a impactar os dividendos da companhia, tal como se observou ao final do terceiro trimestre de 2023. Em contrapartida, a diversificação possibilita atuar em segmentos que devem complementar o portfólio de produtos para demandas futuras, tornando a Vale cada vez menos dependente de commodities industriais tradicionais.
Em relatório especial de 2024, o BB Investimentos destacou que a transição energética e a descarbonização da indústria demandam produtos premium, que contribuem para a redução de gases do efeito estufa. Para o BB, tal tendência relacionada às questões climáticas pode favorecer empresas mais bem posicionadas, como a Vale.
“A Vale vem fazendo progressos em soluções e iniciativas que resultam em produtos de maior qualidade, alinhados com a busca da indústria pela descarbonização nos processos produtivos, sem deixar de lado o elevado retorno aos acionistas”.
Mary Silva e Victor Penna, analistas do BB Investimentos, em relatório especial de 2024.
No entanto, ainda não há consenso entre os 13 membros do Conselho sobre a melhor direção a ser seguida pela Vale. Entre outros acionistas minoritários estão grandes instituições privadas, como BlackRock, Mitsui, Bradesco (BBDC4) e Cosan (CSAN3). O colegiado da mineradora deve se reunir em 31 de janeiro.
Porém, na pauta, não está incluído o principal tema em discussão: a sucessão do executivo-chefe. Por isso, não se descarta uma reunião extraordinária para tratar do assunto nos próximos dias. O assunto deve ganhar tração esta semana, com outros nomes surgindo como favoritos, como o ex-CEO da Cosan, Luis Henrique Guimarães.
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