Opinião WSJ: O Fed está atrasado na redução dos juros

Os modelos falhos do BC americano dependem de um crescimento mais lento para evitar o superaquecimento da economia

A inflação desacelerou para 0,1% em maio, oferecendo mais uma oportunidade para o Federal Reserve repensar sua política monetária, que segue atrasada em relação ao ciclo econômico. Muitos sinais indicam que os juros deveriam estar mais baixos, mas o Fed optou por mantê-los inalterados, preso aos seus modelos econômicos de “limites ao crescimento”.

A pesquisa de maio do Departamento do Trabalho apontou 700 mil pessoas a menos com emprego em comparação a abril – um sinal claro de dificuldade entre as pequenas empresas. A taxa de juros preferencial está em 7,5%, alta demais para a maioria dos negócios. Os juros de cartões de crédito ultrapassam 20%, um recorde histórico. As taxas de financiamento imobiliário estão proibitivas, e a confiança dos construtores de imóveis, em queda.

Outros grandes bancos centrais, incluindo o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra, cortaram suas taxas repetidamente nos últimos meses, reconhecendo a tendência global de desinflação. A taxa dos Fed Funds, hoje em 4,3%, é pelo menos o dobro das taxas de política monetária da Europa e do Japão.

As tarifas do presidente Trump impediram a China de despejar produtos nos EUA, mas, em vez de reduzir o excesso de produção, a China respondeu despejando seus produtos no restante do mundo, exportando deflação. As previsões de crescimento global caíram significativamente, com o Reino Unido registrando contração do PIB na quinta-feira.

Isso deixa o Fed tão atrasado em relação à tendência global de desinflação quanto esteve em relação à inflação durante o ciclo eleitoral de 2023-24. Esses atrasos recorrentes nas taxas de juros — dirigindo pelo retrovisor — prejudicam a economia ao ampliar as oscilações de inflação e de juros.

Existe um caminho claro para o Fed reduzir os juros, já que as políticas de Trump estão ampliando a capacidade de manufatura e de energia nos EUA e priorizando a estabilidade do dólar como moeda de reserva global. Um crescimento robusto, baseado em aumento da produção orientada pelo mercado, é totalmente compatível com o duplo mandato do Fed de estabilidade de preços e pleno emprego.

A estabilidade de preços leva a investimentos privados mais fortes e geração de empregos, o que, por sua vez, sustenta a produção necessária para manter a estabilidade de preços. É um círculo virtuoso que resulta em juros mais baixos, salários mais altos e maior acessibilidade.

Os eleitores elegeram Trump não apenas para impulsionar a economia, mas também para consertar a política monetária, promover ganhos salariais líquidos e proteger o dólar. O presidente defende o trabalhador esquecido, e suas políticas econômicas até agora têm sido um sucesso. Numa economia em crescimento, as pequenas empresas conseguem oferecer mais empregos, com salários melhores, e ainda assim obter lucro.

Em contraste, os modelos do Fed dependem da desaceleração do crescimento para evitar superaquecimento. O Fed está preso a juros altos por causa da falácia do “limite ao crescimento” — a ideia de que a economia dos EUA tem um baixo potencial de crescimento que não deve ser ultrapassado.

Isso prejudica especialmente os investimentos das pequenas empresas, fundamentais para construir a cadeia de suprimentos doméstica. O volume de empréstimos comerciais e industriais em aberto — essencial para o capital de giro das pequenas empresas — está hoje abaixo dos níveis de janeiro de 2023, mesmo em termos nominais. Isso não é suficiente para impulsionar o crescimento econômico ou sequer acompanhar a inflação.

O Fed criou múltiplos obstáculos ao crédito para pequenas empresas. Suas políticas regulatórias orientam os bancos a evitarem esse tipo de empréstimo. Além disso, a política de balanço pós-2008, com o Fed detendo grandes volumes de títulos de longo prazo do governo, favorece o governo e as grandes corporações, em detrimento de pequenas e novas empresas. O Fed está oferecendo juros tão altos aos bancos (4,4%) e aos fundos de mercado monetário (4,3%) que acaba sufocando o crédito para os pequenos negócios. Isso limita o crescimento necessário para financiar aumentos salariais.

O governo Trump está transformando a economia para melhor, desregulando, incentivando o investimento empresarial, reduzindo impostos e fortalecendo os produtores domésticos nos setores de energia e outras indústrias. Com as perspectivas de crescimento melhorando — especialmente se o projeto de reconciliação tornar os cortes de impostos permanentes —, os modelos antiquados do Fed provavelmente continuarão argumentando contra cortes de juros. Muitas pequenas empresas inovadoras têm confiança no que podem oferecer, mas não conseguem bancar novos investimentos, então aguardam. O risco é que esse subinvestimento prejudique o crescimento necessário das cadeias de suprimentos domésticas.

Enquanto o Fed hesita, os contribuintes também arcam com um custo enorme, porque o governo dos EUA e o próprio Fed são hoje os maiores tomadores de crédito de curto prazo do mundo. A escolha do Fed por juros altos aumenta rapidamente os gastos com juros do governo e a dívida nacional. O Fed usa os empréstimos que obtém de bancos e fundos de mercado monetário para manter um portfólio de US$ 6 trilhões em títulos — que hoje está fortemente deficitário. Atualmente, o Fed é, na prática, o maior hedge fund do mundo. Suas perdas já somam US$ 1 trilhão e continuarão crescendo até que os juros caiam.

O Fed continua usando os mesmos modelos de demanda agregada que causaram ciclos de inflação e deflação desde os anos 1970. Em 2002, nestas mesmas páginas, argumentei que o Fed nunca analisou seu erro de deflação do final dos anos 1990 — o erro que levou à crise financeira asiática e a uma queda de 65% no índice Nasdaq — e que estava propenso a repetir erros em inflação e deflação por conta da natureza defasada de seus indicadores. Esses modelos precisam ser substituídos por princípios pró-crescimento e de estabilidade do dólar, capazes de cumprir o duplo mandato do Fed e a visão de Trump de uma economia forte, produtiva e com altos salários.

O autor, David Malpass, foi subsecretário do Tesouro dos EUA (2017-19) e presidente do Banco Mundial (2019-23). Atualmente é pesquisador sênior em finanças internacionais na Mitch Daniels School of Business da Purdue University.

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