ESG – Environmental Social and Governance – InvestNews https://investnews.com.br Sua dose diária de inteligência financeira Mon, 29 Apr 2024 20:11:35 +0000 pt-BR hourly 1 https://investnews.com.br/wp-content/uploads/2024/03/favicon-96x96.ico ESG – Environmental Social and Governance – InvestNews https://investnews.com.br 32 32 Metas de diversidade: por que empresas estão cortando estes indicadores de seus relatórios? https://investnews.com.br/financas/metas-de-diversidade-por-que-empresas-estao-cortando-estes-indicadores-de-seus-relatorios/ Mon, 29 Apr 2024 11:50:33 +0000 https://investnews.com.br/?p=574197 Gastar US$ 1,2 bilhão com negócios de diversidade. Dobrar a liderança negra e latina. Aumentar o recrutamento de faculdades e universidades historicamente negras.

Essas metas de diversidade foram destacadas nos relatórios anuais das empresas em 2022. Um ano depois, desapareceram. 

Dezenas de empresas alteraram as descrições de iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) em seus relatórios anuais aos investidores à medida que esses programas são ameaçados legal e politicamente. As mudanças destacam a dificuldade enfrentada pela busca de equilíbrio pelas empresas, que lidam com a pressão de críticos e defensores de medidas de diversidade.

Leia aqui a matéria na íntegra.

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Carro elétrico: a vida útil da bateria corrói mesmo o valor de revenda? https://investnews.com.br/negocios/carro-eletrico-a-bateria-destroi-mesmo-o-valor-de-revenda/ Thu, 28 Mar 2024 20:19:34 +0000 https://investnews.com.br/?p=566087 Qualquer pessoa que pense em comprar um carro novo ao menos considera a ideia de levar um elétrico para casa. E cada vez mais gente tem feito isso. O BYD Dolphin, EV mais bem sucedido no Brasil até aqui, vendeu 1.807 unidades em fevereiro. O elétrico chinês foi o 33º carro mais comercializado no mês. Não é pouco: isso o coloca logo atrás do Toyota Yaris, e à frente de Honda City e Fiat Cronos, Peugeot 208 – carros a combustão bem conhecidos.

A performance dos elétricos no mercado, de qualquer forma, talvez pudesse ser melhor não fosse um receio do consumidor: o valor de revenda.

Um celular vira tijolo quando a bateria arria, certo? Bom, a bateria reponde por mais ou menos 60% do valor de um EV novo, a depender do modelo. Para um elétrico de R$ 200 mil, seriam R$ 120 mil. Com a desvalorização natural de um carro usado, então, seria questão de pouco tempo para que uma eventual troca de bateria lá na frente, para manter o carro andando, simplesmente não valha a pena. Seria melhor colocar um pouco mais de dinheiro e pegar um novo de uma vez.

Isso gera uma complicação óbvia no quesito preço de revenda – a demanda por EVs usados seria sempre menor que a oferta, jogando os preços para baixo. E de fato: a desvalorização dos elétricos “antigos” nos mercados mais maduros, que já lidam com uma relativa massificação dos EVs há mais de uma década, tem sido significativamente maior que a dos carros a combustão.

Só que tem um pulo do gato aí. Não é bem por conta da vida útil da bateria. Como vamos ver agora.

O mercado americano de EVs usados

Nos EUA, a desvalorização média dos elétricos com pelo menos três anos de uso foi de 29,5% entre setembro de 2022 e setembro de 2023. Muito mais que a dos modelos a combustão, que recuaram apenas 4,8% no mesmo recorte. Os dados são da Edmunds, uma respeitada plataforma de dados de vendas de carros. 

As maiores quedas foram justamente nos dois modelos mais vendidos nos EUA, o SUV Tesla Model Y (-40%) e o sedan Tesla Model 3 (-36,3%). Mas há uma razão de mercado por trás disso.

No primeiro semestre de 2023, Elon Musk reduziu em até 30% o preço dos modelos novos de sua montadora – aí é automático: caiu o preço do novo, o do usado vai junto. Foi um esforço para fazer frente à concorrência, já que há muito tempo a Tesla deixou de ser monopolista no mundo dos elétricos.

Carro elétrico recarregando bateria

Mesmo assim, o domínio dela ainda é grande: 55% de todos os elétricos vendidos nos EUA são da montadora de Elon. E as decisões que saem de lá têm o impacto de um terremoto para o mercado, como ressalta por J.R. Coporal, CEO da Auto Avaliar – uma concessionária com 4.200 unidades no Brasil focada no mercado B2B e que fatura US$ 1,4 bi anuais.

“Quando o mercado é tão dominado pela Tesla, como acontece na Europa e nos EUA, se o Musk acordar e decidir baixar o valor dos carros, ele faz o mercado todo despencar. E ele já fez isso”.

J.R. COPORAL, CEO DA AUTO AVALIAR

Não é só a Tesla, nem apenas EUA e Europa. A concorrência entre montadoras tem reduzido preços mundo afora, Brasil incluído. Até outro dia, os elétricos mais baratos por aqui custavam perto de R$ 200 mil. Agora, o elétrico mais em conta é o Dolphin Mini, lançado em fevereiro de 2024 por R$ 115 mil – preço baixo para um elétrico de última geração, com mais tecnologia embarcada que os de um, dois anos atrás.

Essa evolução rápida dos elétricos zero km, aliada à guerra global de preços, mina o preços dos usados. Não tem jeito.

Ainda assim, fica a pergunta:

Mas e a bateria?

A boa notícia é que um carro elétrico não é um celular gigante. Suas baterias duram bem mais. Via de regra, retêm entre 80% e 85% da capacidade após oito ou dez anos de uso – daí a garantia média nos EUA, e a da BYD por aqui, ser de oito anos para as baterias.

“Dá para dizer que as elas chegam a 12 anos. E isso não quer que a bateria vai parar de funcionar – só que a autonomia passa a ser risível”, diz o jornalista automotivo Henrique Rodriguez, editor da revista Quatro Rodas.

12 anos pode não ser tanto tempo no mundo dos carros a combustão – os mais bem conservados mantém um bom valor de revenda após um intervalo assim. Logo, há algum efeito da durabilidade das baterias nos preços dos elétricos usados.

Por outro lado, 12 anos é um intervalo razoável na escala dos avanços tecnológicos. O preço das baterias dos carros elétricos caiu 90% nos últimos 10 anos. É improvável que isso repita, ao menos com tal intensidade – a última década basicamente marcou o nascimento dessa indústria. Mas a tendência é haver baterias mais em conta lá na frente para quem cogitar uma reposição. Outra tendência é que saia mais simples e barato fazer reparos que melhorem a vida útil. Com isso, os EVs usados poderão desvalorizar menos.

Tem mais: a chinesa CATL, maior fabricante de baterias do mundo, anunciou nesta quinta (28) uma bateria que mantenha 85% da capacidade por 15 anos – o que permitiria aos fabricantes estender a garantia de novos modelos para esse intervalo de tempo.

Eles também anunciaram que essa nova bateria suporta mil ciclos de recarga sem perda alguma. Para quem carrega o elétrico duas vezes por semana, isso significa 9,6 anos de bateria zerada.

Nesse ritmo, talvez não demore a chegar o dia em que elétricos usados terão mais valor de revenda do que seus pares com escapamento.

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Quem perde quando mulheres negras chegam aos espaços de poder? https://investnews.com.br/colunistas/infiltrado-na-limer/quem-perde-quando-mulheres-negras-chegam-aos-espacos-de-poder/ Sun, 24 Mar 2024 21:19:43 +0000 https://investnews.com.br/?p=565385 A presença feminina em cargos de diretoria estatutária e em conselhos de administração ainda está abaixo do desejável na maioria das empresas brasileiras. Ilustrando esse fato, temos o estudo “Mulheres em Ações”, publicado em dezembro de 2022 pela B3, que se baseou em informações públicas prestadas pelas companhias em documentos regulatórios.

Esse mapeamento da evolução da diversidade de gênero no mercado brasileiro retrata uma realidade que já passou da hora de ser transformada.

Segundo o “Mulheres em Ação”, “de cada 100 empresas com ações negociadas em bolsa no Brasil, 61 não têm mulheres em cargos de diretoria estatutária, e 37 não têm participação feminina no conselho de administração, embora seja possível observar um aumento da presença de mulheres nos CAs no último ano.”

A pesquisa Women in Business, da auditoria Grant Thornton, ouviu cerca de 5 mil executivos e executivas em 28 países e os dados não são positivos. As mulheres em cargos no alto escalão em empresas brasileiras médias eram 38% em 2022, no ano seguinte esse índice passou para 39%, só um ponto percentual a mais de um ano para o outro. O estudo registrou a queda da participação de mulheres em cargos importantes no Brasil, era 35% em 2022, e em 2023 eram apenas 31% em postos de CEO.

Neste cenário do mundo corporativo, que já é desalentador, quando fazemos o recorte de gênero e raça a desigualdade é gritante. Identificar a sub-presença histórica em espaços de poder e decisão, é revelar um gargalo injusto na prática, apesar das mudanças de discurso e da própria agenda ESG ter avançado como tema urgente nas últimas décadas.

Esse alerta está dado e a situação precisa ser encarada de frente por setores do mercado e da sociedade que têm compromisso com o combate à desigualdade de gênero e raça, além da promoção da diversidade. 

Em março de 2023, o Women On Board (WOB) – que certifica empresas que possuem pelo menos duas mulheres em conselhos; e o Conselheira 101 – programa de incentivo à presença de mulheres negras em conselhos de administração – manifestaram-se sobre resultado de estudo realizado pelo ACI Institute, núcleo de pesquisas em governança corporativa da KPMG. 

Nessa pesquisa, a presença de mulheres negras correspondia a um traço percentual em conselhos de administração de empresas abertas brasileiras. A contundência desse resultado é reafirmada publicamente pelo WOB e Conselheira 101: “Traço. Não é 1%. Não é 2%. Não é 3%. É traço. Em um país em que 25% da força de trabalho é formada por mulheres negras.”

Gargalo

O absurdo concreto desse gargalo é ressaltado pela fundadora do Conselheira 101, Jandaraci Araújo. “Correspondemos a 28% da população brasileira, somos a maioria da maioria, visto que mulheres são 52% da população. No entanto, não estamos representadas nos espaços de liderança de forma equânime, seja nas organizações privadas ou públicas”, destacou ela em março de 2023, em declaração veiculada no jornal O Globo.

É fundamental ressaltar que existem mulheres negras prontas e capacitadas para ocuparem esses espaços, sem desculpas para a argumentações que se refiram a não haver o perfil no mercado. E essa busca por qualificação faz parte de ações individuais e coletivas, como o próprio Conselheira 101, responsável pela formação de dezenas de mulheres negras para atuarem em conselhos, desde 2020, ao ser criado por um coletivo de mulheres. Apoiado pela KPMG e Women Corporate Directors Foundation, o programa já formou 67 executivas, e destas quase a metade já está atuando em conselhos de administração, consultivos e comitês. 

Quem perde quando as mulheres negras chegam aos espaços de poder?

O status quo que valida a supremacia do homem branco e sua forma de estar e agir. Dito isso, precisamos também reafirmar que a diversidade não é uma concessão e, sim, um grande fator de contribuições, além de promoção da igualdade. Um conselho de administração que tenha representações de diversos segmentos da sociedade é um espaço potente para geração de riquezas econômicas, financeiras e sociais, exatamente por colocar na mesma mesa – em contraposição, confronto ou convergência – diferentes visões de mundo, do mercado e da sociedade. 

Esse diferencial é confirmado por uma mulher experiente nesses espaços, a Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós. Atualmente, ela é uma das poucas mulheres negras que contrariam as estatísticas que apresentamos, pois atua como conselheira deliberativa do Instituto Tomie Ohtake, conselheira consultiva de diversidade da Ambev e do Pacto de Promoção da Equidade Racial.

Liliane Rocha, CEO da Gestão Kairós e Autora do Livro Como ser Uma liderança Inclusiva Foto: Myla Dutra

Liliane Rocha afirma, em artigo publicado no Universa Uol (novembro de 2023), que “cada mulher negra em conselho revoluciona o topo da tomada de decisão. Além de serem profissionais, intelectuais e especialistas gabaritadas para ali estarem, levam consigo percepção e vivência social que por muitos anos não existiam nas reuniões e conversas dos conselhos, uma vez que a perspectiva de diversidade e inclusão, ESG, igualdade e equidade são inerentes às suas vivências em sociedade”. 

Quem ganha com as mulheres negras nesse espaço é toda a sociedade. Ao estar nesses lugares, sua presença é um fator poderoso para minar o pacto da branquitude, como nos alerta Cida Bento: “A branquitude se expressa em uma repetição ao longo da história, de lugares de privilégio assegurados para as pessoas brancas, mantidos e transmitidos para as novas gerações”.

As mulheres negras são as propulsoras da mudança, ao avançar, elas são capazes de mudar as estruturas, em março e o ano inteiro. Estamos com elas!

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Crédito de carbono não é investimento https://investnews.com.br/colunistas/salve-o-mundo-lucre/credito-de-carbono-nao-e-investimento/ Thu, 21 Mar 2024 16:49:04 +0000 https://investnews.com.br/?p=564406 “As alterações climáticas induzidas pelo homem estão afetando o planeta. Globalmente, 2023 foi o ano mais quente já registrado”. Esse é o trecho do primeiro parágrafo de um estudo publicado pela Agência Europeia do Ambiente, e ele dá o subsídio necessário para afirmar que não, o crédito de carbono não é um investimento.

O estudo continua: “A temperatura média global no período entre fevereiro de 2023 e janeiro de 2024 excedeu os níveis pré-industriais em 1,5°C”. E eu afirmo: o crédito de carbono foi criado para financiar o combate ao aumento da temperatura, que pode extinguir toda a vida humana do planeta. A meta combinada pelos países no Acordo de Paris é limitar o aquecimento a 1,5°C até 2050.

Para atingirmos essa meta foi criado o crédito de carbono. Diferentemente de outros tipos de créditos, ele foi feito para ser aposentado. “Aposentar” um crédito de carbono quer dizer que uma empresa investiu em um projeto, por exemplo, de preservação ambiental de uma floresta tendo como retorno a neutralização dos gases que emitiu para para fabricar seus produtos. Após esse saldo ser cientificamente comprovado, a empresa dá baixa de tais créditos na sua demonstração financeira.

Na prática, uma indústria que emitiu 1 milhão de toneladas-equivalentes de CO2 no ano de 2023 vai ser incentivada pelo crédito de carbono a preservar uma floresta ou evitar o aumento das suas emissões – primeiro para neutralizá-las, obtendo saldo zero. Quando a companhia captura mais carbono da atmosfera do que emite, ela gera um saldo negativo de suas emissões, possibilitando a certificação dos créditos de carbono. Esse excedente pode ser vendido pela empresa, que obtém um lucro. 

crédito de carbono
Adobe Stock

Porém, a meta principal da empresa não é lucrar com os créditos de carbono. É neutralizar suas emissões de gases nocivos. Mesmo com essa possibilidade de retorno financeiro com os créditos, eles não foram criados para esse fim. 

O crédito de carbono é um instrumento para incentivar a neutralização das emissões de gases da empresa e de sua cadeia de valor. E isso já é muito. Não se esqueçam de que não estamos cobrando os muitos anos de emissão desenfreada por essa empresa, só os anos atuais e futuros.

Crédito de carbono também não é um empréstimo para financiar uma empresa. Não é um LCI ou LCA, as chamadas letras de crédito imobiliário ou agrícola cujos investimentos financiam os devidos setores da economia. O crédito de carbono não foi criado para que o investidor tenha retorno financeiro. 

Ele veio para ser um instrumento tangível de financiamento das questões climáticas; um incentivador para que governos, empresas e sociedade enxerguem de forma tangível que há uma forma de lutarmos essa guerra climática. 

Nesse sentido, o novo marco legal dos créditos de carbono que está para ser votado no Senado não deve ter foco financeiro ou econômico. Deve apenas promover esse instrumento como um incentivo à redução das emissões de gases nocivos à atmosfera.

No entanto, um dado alarmante segundo o Relatório da Organização das Nações Unidas publicado em 2023: o mundo está caminhando até 2050 para um aumento de temperatura de 2,5°C a 2,9°C, acima dos níveis pré-industriais. 

Ou seja, se continuarmos tratando o crédito de carbono como um instrumento financeiro, continuaremos a seguir essa trilha de destruição, temos que mudar a rota. E isso começa pela compreensão da natureza do crédito de carbono – do por quê de ele ter sido criado.

Alexandre Furtado é economista, Presidente da Comissão de Crédito de Carbono da Associação Brasileira de Carbono (ABCarb) e Sócio da Grant Thornton

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade dos autores e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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Teremos uma 2ª onda de inflação ou desinflação pelo mundo? https://investnews.com.br/colunistas/salve-o-mundo-lucre/teremos-uma-2a-onda-de-inflacao-ou-desinflacao-pelo-mundo/ Wed, 06 Mar 2024 09:15:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=561055 Escrevi esta coluna com o Doutor em economia Mauro Rochlin diante de um debate que deve impactar a questão social do ESG, principalmente, de acordo com os rumos da inflação, taxas de juros e sua relação com emprego e crescimento econômico dos países. 

Isso aconteceu porque em palestra recente, o diretor de Políticas Econômicas do Banco Central (Bacen), Diogo Guillen, de forma bem didática apresentou as expectativas futuras de inflação no mundo e Brasil. Para a autoridade monetária haverá nos próximos anos a continuidade da tendência mundial de desinflação apresentada no decorrer de 2023. 

Tecla ‘SAP’: enquanto a deflação é a redução dos preços, a desinflação é a diminuição do aumento de preços, porém ainda sendo inflação.

Voltando, essa visão é bem próxima do que os economistas de forma geral estão também apontando diante da desinflação mundial ocorrida em 2023. Na Europa, por exemplo, houve uma inflação de 10,4% no fim de 2022 para 3,4% no mesmo período de 2023. Nos Estados Unidos, o Banco Central americano, o FED, comemorou na virada deste ano a vitória contra a inflação.

No entanto, dados recentes publicados na revista “The Economist” mostram uma certa turbulência nesse caminho de desinflação mundial apontado pelo Banco Central. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve aumento da inflação entre os meses de novembro de 2023 e janeiro de 2024, com a taxa chegando a 4% se anualizada em relação aos 3 meses anteriores. A subida dos preços ao consumidor fez com que a expectativa de inflação dos analistas americanos também piorasse para o próximo ano.

Na Europa, em janeiro de 2024, os preços ao consumidor subiram, mesmo fenômeno ocorrido na Austrália, o que fez com que o presidente do Banco Central alertasse de que ainda levará um certo tempo para que a inflação seja mais “sustentável, baixa e estável”.

Diante disso, o que os bancos centrais devem fazer: serem mais prudentes e continuarem com taxas de juros elevadas, ou reduzi-las para perseguir o crescimento econômico?

Antes de responder a essa pergunta, porém, vamos lembrar a origem do processo inflacionário que ainda condiciona a política monetária dos países.

Como consequência da pandemia, três fatores exerceram impacto importante sobre os preços: a alta na cotação das commodities, em 2021/2022, a política fiscal expansionista adotada por quase todos os países como reação a pandemia e, por fim, a desarrumação das cadeias produtivas globais. Vejamos, então, como ocorreu a emergência desses fatores e como, por consequência, ocorreu um forte aperto inflacionário.

Em primeiro lugar, a rápida retomada da demanda de commodities, já desde o último trimestre de 2020, teve por efeito uma expressiva alta de preços no comércio internacional. De fato, a recuperação em “V” da economia mundial gerou uma crescente pressão sobre as matérias-primas ditas estratégicas – como petróleo, gás, minério de ferro e trigo -, impactando várias cadeias produtivas. 

Em segundo lugar, a adoção de políticas fiscais fortemente expansionistas, ao elevar o consumo das famílias, potencializou esse efeito. O aumento de gastos dos governos, como reação à recessão que se instalou, turbinou a demanda de consumidores e empresas, reforçando a pressão altista. Por último, a desarticulação das cadeias globais de suprimentos, resultado da paralisação compulsória imposta pela pandemia, reduzindo a oferta de produtos a nível global, atingiu fortemente o custo das empresas, elevando os preços. Semicondutores, material eletroeletrônico, produtos químicos, fertilizantes e outros bens intermediários tiveram seu processo produtivo interrompido, o que afetou diversos segmentos industriais. 

Agravando esses efeitos, a guerra na Ucrânia, no início de 2022, ao acentuar as limitações à oferta daquelas commodities estratégicas, exerceu pressões adicionais sobre os preços. O resultado disso tudo foi uma piora no processo inflacionário e a consequente adoção de políticas monetárias fortemente restritivas.

Com o uso de remédio amargo, os efeitos esperados não tardaram a aparecer. De um lado, a alta de preços foi contida. Em 2023, a inflação recuou de forma significativa, tanto nas economias avançadas como nas emergentes. No entanto, do outro lado, se reduziram as perspectivas de crescimento econômico, principalmente nos países europeus. No caso brasileiro, como a alta da taxa de juros foi muito pronunciada – a taxa Selic chegou a 13,75% – a inflação passou a cair de forma consistente. Desde o segundo semestre de 2022, a taxa tem convergido em direção à meta abrindo espaço para a reversão do ciclo de alta dos juros.

Aliás, o Banco Central brasileiro está nos mostrando que sua política monetária será de corte de juros por conta de estar trabalhando com um cenário de desinflação para os próximos anos. O próprio diretor do Banco Central ressaltou na palestra que alguns países cortaram suas taxas de juros e outros estão próximos a cortes por conta dessa visão de que a desinflação veio para ficar. No entanto, o que ainda preocupa segundo ele é a inflação de serviços, que no Brasil está entre 5,5% e 6% anualizada. 

Mas para decidir a melhor política monetária e de combate à inflação também deve-se monitorar muito de perto o mercado de trabalho e o de crédito. No que tange ao crédito, houve normalização, depois de problemas (Lojas Americanas) com o varejo, no início de 2023. Sobre o emprego, a taxa média de desocupação caiu 7,8% segundo a PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios – em 2023. É a taxa mais baixa desde 2014. 

Outro ponto relevante para a decisão de política monetária, além do crédito e do emprego, é a previsão do nível de atividade econômica. Com a expectativa de crescimento do PIB, em 2024, de apenas 1,6% (Focus), haveria espaço para baixa dos juros.

Aliás, foi reiterado pelo diretor do BACEN que o compromisso da autoridade monetária é o de levar a inflação para o centro da meta de 3%, notando que as expectativas continuam desancoradas, em torno de 0,5 ponto percentual acima do alvo (Focus). Uma expectativa que, no entanto, mantém a economia em um rumo de desinflação. 

Por fim, um alerta: a inflação de serviços pode ser um obstáculo à queda dos juros. Aqui e nos EUA. Com a taxa anual rondando 6%, no Brasil, e 4%, nos EUA, as chances de uma política monetária mais moderada diminuem. Com isso, as apostas de se iniciar, em maio, um ciclo de queda por lá e de se aprofundar as quedas por aqui tendem a se reduzir. Muita cautela parece ser o que inspira a estratégia dos bancos centrais. O problema é o efeito deletério sobre o crescimento do PIB.

Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Crédito de Carbono da ABCarb e Sócio da Grant Thornton.

Mauro Rochlin é Doutor em Economia (UFRJ) e coordenador acadêmico na Fundação Getúlio Vargas

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade dos autores e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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Secretário da Fazenda cita elogios à transformação ecológica do Brasil durante G20 https://investnews.com.br/esg/secretario-da-fazenda-cita-elogios-a-transformacao-ecologica-do-brasil-durante-g20/ Thu, 29 Feb 2024 21:18:51 +0000 https://investnews.com.br/?p=560178 O secretário-executivo da Fazenda, Dario Carnevalli Durigan, que assumiu a presidência do Conselho de Administração do Banco do Brasil no ano passado, afirmou nesta quinta-feira (29) que ficou muito “impressionado” sobre como o Brasil é visto pelo mundo, em especial pela transformação ecológica, durante o G20, que ocorre no Ibirapuera, em São Paulo.

O comentário foi feito durante evento do Banco do Brasil, também na cidade.

“Eu conversava na (reunião) bilateral com a França, por exemplo, que dizia que 62% da matriz energética francesa vem da energia nuclear, quando eu disse que mais de 90% da nossa matriz vem da energia renovável, eles ficaram muito impressionados”.

Durante evento, Durigan elogiou a governança corporativa (que passou a ter um foco maior na sustentabilidade) do banco público e afirmou que o governo quer um banco de “excelência”.

“O Banco do Brasil não deixa a desejar para nenhuma instituição no mundo”, afirmou.

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Responsabilidade empresarial e o esvaziamento dos fundos ESG  https://investnews.com.br/colunistas/esg-news/responsabilidade-empresarial-e-o-esvaziamento-dos-fundos-esg/ Wed, 28 Feb 2024 09:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=559359 Ao longo dos últimos anos Larry Fink, CEO da BlackRock, empresa com cerca de US$ 9,4 trilhões em ativos, tornou-se amplamente conhecido – mesmo para quem é de fora do mercado financeiro –, devido às cartas anuais destinadas a CEOs, nas quais reforçava gradativamente que sua empresa só investiria em companhias que estivessem alinhadas e aderentes a tratativas ambientais, sociais e de governança. Sua atuação foi de grande relevância para fortalecer o conceito da sigla ESG (em tradução livre Ambiental, Social e Governança). Temas complexos, atuais e imprescindíveis para a gestão de risco, mitigação de crises e catástrofes, entre outros. 

No entanto, o próprio Larry em meados de junho de 2023 afirmou ter parado de usar o termo ESG devido à “politização do tema”. Disse que apesar disso, sua “gestora continuará conversando com as empresas nas quais têm participação sobre descarbonização, governança corporativa e questões sociais a serem abordadas”.  O que poderia parecer um movimento isolado tem, por incrível que pareça, se multiplicado em alguns setores da sociedade. Temos visto esforços para descredibilizar os impactos e a relevância dessa agenda.

No Brasil, recentemente o site “Brasil Paralelo” lançou o vídeo “A Face Oculta da Agenda ESG”, na qual a narrativa central questiona a atuação das empresas na agenda ESG, bem como outros aspectos. Os argumentos afirmam que um pequeno grupo de pessoas não eleitas está decidindo por todos.

Em meio a esse cenário, dados da consultoria Morningstar, divulgados pelo site Bloomberg, mostram que os investidores retiraram um recorde de US$ 5,1 bilhões líquidos de fundos ESG nos últimos três meses de 2023; ao longo de 2023 as perdas foram de US$ 13 bilhões. Outro levantamento realizado pela Lipper, uma fornecedora de dados financeiros, com dados obtidos com exclusividade pela CNN, mostra que os ativos sob gestão em fundos ESG nos EUA diminuíram de US$ 339 bilhões (cerca de R$ 1,706 trilhão) para US$ 315 bilhões (R$ 1,585 trilhão) até o final de setembro do ano passado. 

Confesso que isso me causa estranhamento e até uma certa perplexidade, em pleno 2024, após o empresariado ter visto tantas crises, falências, derrocadas de executivos e grandes empresas por crises ambientais, sociais e de D&I das mais variadas formas, termos que reafirmar, que qualquer negócio em um mundo com mais de 8 bilhões de habitantes, pós pandêmico, com inversões climáticas das mais estrondosas, que acarretam desastres impactando milhares de pessoas, um executivo ainda conceber a ideia de liderar um negócio, cortando ou restringindo investimentos nas temáticas ambiental, social e de governança.

Veja, uma empresa que fatura bilhões por ano para um pequeno grupo de acionistas, responsável por fazer a economia girar para seus funcionários, que tenta fortalecer sua marca junto a vários stakeholders, não deveria se preocupar em assegurar o mínimo de emissão de gases de efeito estufa possível na sua atuação? Ou, quem sabe, usar de modo mais eficaz e inteligente os recursos hídricos e energéticos que têm à disposição? Quem sabe realizar uma boa gestão dos seus resíduos sólidos?  Ou, se responsabilizar em disseminar internamente e externamente conteúdos consistentes sobre o tema?

Estas mesmas empresas não deveriam atentar para a redução das desigualdades nos municípios, muitas vezes pequenos, em todo o mundo nos quais estão presentes? Há como renunciar à diversidade, à inclusão, a ter maior proporcionalidade de mulheres, negros, pessoas com deficiência, LGBTQPIAN+, com mais de 50 anos em seus quadros funcionais?

Prestação de Contas, Transparência, Responsabilidade Corporativa e Equidade são assuntos secundários na gestão de grandes negócios globais, com alta possibilidade de impactar a vida de milhares de pessoas e de cada um de nós?

Acreditamos, de fato, que é possível traçar um novo marco de padrão civilizatório, na forma de investir e fazer negócios, ou ao final, politizamos estas questões, e simplesmente diremos que são ruins para a economia, Cortaremos projetos, fornecedores e parceiros nessas frentes e seguiremos normalmente, fazendo negócios, como sempre fizemos antes, da forma mais predatória possível?

Como sempre reforço, cada liderança tem neste momento em suas mãos a possibilidade de decidir em que direção da marcha civilizatória está caminhando.  

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BYD lança supercarro elétrico de luxo para rivalizar com Ferrari https://investnews.com.br/negocios/byd-lanca-supercarro-eletrico-de-luxo-para-rivalizar-com-ferrari/ Mon, 26 Feb 2024 21:48:09 +0000 https://investnews.com.br/?p=559392 A montadora chinesa BYD lançou seu carro mais caro no domingo, um supercarro elétrico de alto desempenho de 1,68 milhão de yuans (US$ 230.000) para rivalizar com Ferrari e Lamborghini.

O Yangwang U9 será inicialmente exclusivo para o mercado chinês, disse a empresa em evento transmitido ao vivo em Xangai. O carro pode atingir 100 quilômetros por hora em 2,36 segundos e atingir uma velocidade máxima de 309,19 km/h, disse a BYD.

Novo carro de luxo elétrico da BYD. Crédito: Bloomberg

A BYD se tornou a frabicante dos veículos elétricos mais vendidos do mundo, ultrapassando a Tesla no último trimestre de 2023. Embora seja mais conhecida por carros acessíveis, a empresa comercializa seus modelos de luxo sob as marcas Yangwang e Fang Cheng Bao.

Elétricos da Yangwang

Outros elétricos da marca Yangwang devem ser lançados mais tarde este ano na China, incluindo um sedã de luxo que custará cerca de 1 milhão de yuans.

A Yangwang começou a entregar carros no final de novembro. Até agora, a empresa tem um único modelo em produção, um utilitário esportivo de luxo chamado U8, que custa 1,1 milhão de yuans. A montadora entregou 3.653 unidades até o final de janeiro.

As ações da BYD saltaram até 4,7% em Hong Kong nesta segunda-feira, depois que o chairman Wang Chuanfu propôs duplicar uma recompra de ações negociadas na China para 400 milhões de yuans. Play Video

As ações da montadora listadas em Hong Kong caíram 12% este ano, diante de receios de que a queda na demanda force as empresas a reduzirem preços e margens de lucro.

A empresa está lançando atualizações de sua linha existente com o slogan “eletricidade é mais barata que o petróleo”, reduzindo também os preços. O Morgan Stanley disse que a campanha provavelmente tem como alvo carros a combustão de empresas como Nissan.

O primeiro navio da BYD para transportar veículos elétricos atracou na Holanda, na semana passada, concluindo uma viagem de aproximadamente seis semanas da China, com as mais recentes exportações da empresa para a Europa.

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O ESG vai te pegar em 2024: inovação em modelos de receita e negócios limpos e renováveis https://investnews.com.br/colunistas/salve-o-mundo-lucre/o-esg-vai-te-pegar-em-2024-inovacao-em-novos-modelos-de-receitas-e-negocios-limpos-e-renovaveis/ Mon, 26 Feb 2024 09:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=558862 Esse é o quarto de um especial de cinco artigos com as previsões e temas mais quentes de investimentos sustentáveis em 2024. Nessa coluna, o foco é compreender que a inovação tecnológica é o motor do ESG (acrônimo em inglês para os aspectos financeiros ambientais, sociais e de governança) e que os investimentos sustentáveis estão tornando possível a criação de novas formas para as empresas gerarem receitas e novos modelos de negócios surgem.

É importante compreender o que é um modelo de negócio, e para isso, basta você saber como a empresa gera sua receita e quais são os seus custos advindos. De forma simples: uma indústria farmacêutica que gera receita produzindo e vendendo remédios tem seus custos advindos da produção e distribuição para essa comercialização, portanto, o modelo de negócio é a produção e venda de medicamentos.

Por isso, indico investir em empresas que buscam novos modelos de negócios, novas gerações de receitas ou redução de custos com a economia verde e suas tecnologias inovadoras. 

Os tempos são de mudanças rápidas e profundas nas estruturas de mercado e da produção econômica, mais do que isso, a base da nova economia é em cima do carbono neutro. A percepção agora é de que o mercado é baseado no preço do carbono – e isso tende a influenciar no sucesso das empresas. E por esse motivo a conta muda.

Você pode pensar em um modelo de negócio tanto do lado da receita quanto da despesa; neste caso, o avanço de tecnologias de nanomateriais a base de carbono – como o grafeno – tem se provado como grande agente de eficiência tecnológica e de redução de elementos nocivos e poluidores em nossa indústria. E isso por sua vez influencia diretamente na redução do custo de produção das indústrias e na geração de nova receita com a comercialização dos créditos de carbono ou aumento do ativo intangível de ser uma empresa mais ambientalmente sustentável.

Veja o exemplo do uso do grafeno em indústrias como a cimenteira, setor muito poluidor que com menos de 1% de adição em plásticos e concreto reduz em até 30% o consumo de resina virgem e cimento. Ou seja, pode-se com a adição desse nanomaterial chegar a reduzir o custo de produção em até 30%. 

Agora, em uma economia à base do carbono neutro, essa indústria pode, além disso, gerar uma nova receita também da venda dos créditos de carbono ou mesmo conseguir um capital mais barato dos investidores por conta da busca por se tornar carbono neutro.

Diversos setores estão buscando formas diferentes de se aproveitarem da revolução tecnológica verde, sendo a indústria de mobilidade urbana uma delas. Nesse caso, o governo brasileiro está vindo como agente incentivador por estar preparando nesse momento medidas de estímulo à produção nacional de ônibus elétricos para que as frotas se tornem carbono neutro. Segundo pesquisa da Plataforma E-Bus Radar, dos 107 mil ônibus que rodam no Brasil, apenas 444 são elétricos. 

Olha o gigantesco tamanho do mercado de uma nova fonte de receita que se apresenta para as empresas distribuidoras de energia elétrica. Para efeito de comparação com países da América Latina, segundo a E-Bus Radar, no Chile há 2043 ônibus elétricos; na Colômbia, 1590. 

Ou seja, com 10% da frota de ônibus acrescido dos veículos elétricos, as empresas distribuidoras de energia elétrica terão uma fonte de receita nova enorme proveniente da comercialização de sua energia em tomadas instaladas em estacionamentos dos ônibus, supermercados, shoppings, prédios comerciais, residenciais, sem contar em postos de gasolina. 

Esses são só alguns dos exemplos de novas gerações de receita e modelos de negócios que vão se espelhar pelo mundo advindas da corrida para a transição para uma economia carbono neutro e vocês já sabem que temos que aproveitar esses incentivos. Em breve, eles também se encerram, principalmente, quando os retornos financeiros dos projetos sustentáveis diminuírem ou quando os custos de capital se tornarem mais caros para as empresas. De qualquer maneira, mesmo não fazendo nada, o ESG vai te pegar em 2024.   

Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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O G de ‘governança’ pode ser a letra da vez na cartilha da agenda ESG https://investnews.com.br/colunistas/infiltrado-na-limer/o-g-de-governanca-pode-ser-a-letra-da-vez-na-cartilha-da-agenda-esg/ Tue, 13 Feb 2024 09:15:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=554611 A Governança emerge nesse início de 2024 com uma visibilidade maior, uma consequência relacionada a algumas experiências negativas que se destacaram no último ano. Esse destaque do G de ESG vem, segundo especialistas na esteira da repercussão do caso Americanas e de denúncias de trabalho análogo à escravidão. Da tríade de elementos que formam a agenda ESG, a Governança se caracteriza pela complexidade, pois envolve ações internas e externas, monitoramento constante, incorporação efetiva de práticas e avaliação contínua. 

O mundo corporativo foi pego no pulo, literalmente, com a reverberação de casos emblemáticos, forçando um recálculo de rota. A menor importância dada à Governança pode ser – realmente – uma falha que impacta tanto o S de Social como o A de Ambiental, que têm tido mais destaque no momento de divulgar as ações, por terem iniciativas mais voltadas ao público externo às corporações.

No entanto, sem uma sólida governança, formada e realizada com práticas internalizadas e postas em prática, os outros pilares não se sustentam por muito tempo e um conjunto de boas estratégias, sem um de seus pilares bem firmados, pode cair por terra e, alguns casos vistos e documentados amplamente, de forma muito danosa à imagem e saúde financeira.

A “Panorama ESG 2023”, realizada pelo ManpowerGroup – líder global em soluções de recursos humanos, teve como objetivo entender qual o cenário atual de ações ESG no mundo. Nesse estudo temos respostas de mais de 40 mil empregadores, ouvidos em 41 países e territórios – incluindo o Brasil. A pesquisa trouxe dados que lastreiam o alerta em relação ao “esquecimento” da governança, em comparação aos outros dois elementos do trio. 

Esse estudo revelou que 42% das organizações têm o pilar Social como foco da agenda ESG; em seguida, com 26%, está a responsabilidade ambiental, enquanto apenas 14% focam na governança. O restante respondeu que não tem um programa de sustentabilidade ou ESG (12%), e finalmente um pequeno grupo respondeu que não sabe (6%).

Imagem de bonecos de madeira

Ao analisar essas respostas, vale destacar também a análise de Wilma Dal ColDiretora de Gestão Estratégica de Pessoas no ManpowerGroup Brasil sobre os resultados: “Quando as diretrizes para tomadas de decisão partem da ética e do pressuposto de considerar todos os envolvidos equitativamente, há muito mais impulso para políticas afirmativas, de inclusão e de preservação ambiental. Cumprir as obrigações legais, contratar parceiros confiáveis e garantir condições de trabalho saudáveis e justas são fatores indiscutíveis no exercício da integridade enquanto empregadores. ”

O todo como fator fundamental, em relação à agenda ESG, é algo que temos sempre ressaltado aqui e encontramos convergência tanto na pesquisa como na análise do Manpowergroup. A importância do movimento em cadeia, da transversalização das práticas, em especial ética e transparência, o aperfeiçoamento constante, observando regras, universalizando práticas, efetivando uma cultura da empresa, são sinais de uma boa governança que acaba por conduzir e impactar positivamente as ações de responsabilidade ambiental e social.

Numa entrevista ao Estadão, veiculada em 25 de dezembro de 2023, o professor de direito comercial da USP e sócio do escritório PGLaw, da área de governança corporativa, Carlos Portugal Gouvêa, ainda alerta que “não haverá mudanças significativas em 2024, mesmo após os escândalos envolvendo o setor”.

Entre os vários especialistas ouvidos nessa matéria, ele traz essa visão negativa e contundente: “Não acredito que vá mudar, como não mudou nos últimos anos. O mercado brasileiro é visto como de risco. A baixa qualidade de governança corporativa no Brasil já está precificada. Para haver alterações, de fato, é preciso modificar o sistema como outros países em desenvolvimento, como a índia e a Colômbia, têm feito”.

Vamos destacar dados de um outro estudo, o ESG no Ibovespa PwC Brasil – 2023, que indicam a necessidade de diversidade nestes espaços. O Estudo da Ibovespa alerta que a “a Nasdaq, uma das mais importantes bolsas do mundo, passará a exigir a divulgação de estatísticas relacionadas à diversidade no Conselho de Administração das empresas listadas.

Será obrigatória a nomeação de dois conselheiros de grupos minoritários, no mínimo — uma pessoa do gênero feminino e uma da comunidade LGBTQ+ ou de alguma outra minoria. ”

Essa mesma pesquisa informa sobre ações similares no Brasil, com a inclusão de regras de diversidade na composição da Administração para as empresas listadas, pela B3: estas organizações devem “eleger pelo menos uma mulher e um membro da comunidade subrepresentada (pessoa preta ou parda, com deficiência ou integrante da comunidade LGBTQ+) como membro titular do Conselho de Administração ou da diretoria estatutária a partir de 2025. ”

O que o professor Gouvêa traz como argumento na matéria do Estadão é um fato: “Fora do Brasil, o G é muito focado em anticorrupção, o que é um tema tóxico no Brasil. É algo que tem que ser retomado. ” É interessante essa visão pois ela tem muitas camadas, ao pensarmos na polissemia do termo corrupção. Tanto pode ser vista como algo apenas relacionado a dinheiro, como algo maior.

Quando temos relatórios de ESG confusos ou pouco objetivos, ótimas políticas de equidade, ações afirmativas, inclusão que não saem do papel, para dar apenas alguns exemplos, também não seria um tipo de corrupção? Quando o discurso alinhado à agenda não é verificável ou concreto, mas continua ecoando publicamente para agregar valor, não é um tipo de fraude?

Sabemos as respostas e a partir desses questionamentos e informações que identificamos o grande gargalo da governança no país. Mostro o que é bom e bonito da porta para fora e escondo algumas sujeirinhas aqui no tapete dos escritórios: isso se sustenta?

Nesse cenário de análise, vários especialistas apontaram o papel estratégico dos Conselhos de Administração para fortalecer a governança. Faz todo sentido quando o professor Carlos Portugal Gouvêa aponta que a mudança não deve chegar tão rápido, e aqui acrescentamos que, enquanto as altas lideranças e Conselhos continuarem abrigando as mesmas pessoas, o que pode mudar? 

Não se faz mudança e boa governança sem mudar as pecinhas do jogo.

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