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Deflação: o que é e qual o cenário no Brasil

Representando o processo inverso ao da inflação, a queda generalizada dos preços pode parecer benéfica, mas pode causar diversos danos à economia; confira.

carrinho de supermercado sendo carregado por uma pessoa, segurando um saco de café, ilustrando a deflação

Inflação é um termo conhecido, mas você sabe o que é deflação? As duas palavras se referem são fenômenos econômicos sobre a variação de preços de produtos e serviços, e impactam todo o mercado. Mas, enquanto uma significa uma desvalorização do dinheiro, a outra representa o contrário, com queda dos preços.

Apesar de parecer vantajosa para o consumidor, o Banco Central do Brasil (BC) diz que a deflação persistente, assim como a inflação descontrolada, é indesejável, pois “ao contrário do que possa parecer, preços em queda podem ser prejudiciais para o bom funcionamento da economia”, diz a autarquia. O porquê será explicado mais abaixo.  

Quer saber o que é deflação e seu significado, qual a deflação no Brasil e a relação da deflação com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)? Confira estas e mais informações neste texto. 

O que é deflação e como funciona?

Sede do Banco Central do Brasil/Créditos: Agência Brasil

A deflação representa o processo contrário à inflação. Ela significa uma queda generalizada e constante dos preços dos produtos e serviços.

Assim como a inflação, a deflação é utilizada como termômetro para a economia, medindo a saúde econômica do país.

Enquanto a inflação indica uma desvalorização do dinheiro, a deflação indica um aumento de seu valor. Apesar de parecer algo bom, a deflação também pode ser prejudicial para o funcionamento da economia.

“A deflação acontece quando o nível de preços de bens e serviços diminui ao longo do tempo. Apesar de a deflação mostrar que os preços estão caindo, a deflação não é benéfica para a economia como muitos pensam. Um dos motivos é que a deflação mostra que a população está consumindo menos, o que mostra uma demanda por produtos menor, que pode ter como consequência uma desaceleração econômica”

Fábio Louzada, economista, planejador financeiro e fundador da Eu me banco

“Nesse cenário, há também o possível aumento da dívida real, já que a deflação torna as dívidas mais caras, com os preços caindo, resultando em dívidas maiores. E as empresas acabam por deixar de investir em crescimento, levando a menos investimentos e a não criação de empregos. Então, nem a inflação excessiva nem a deflação são consideradas saudáveis para uma economia. Dessa forma e tendo isso em vista, o objetivo do trabalho do BC é atuar de forma a manter uma taxa de inflação moderada para trazer estabilidade econômica”, aponta Louzada.  

Para ser considerado processo de deflação, o recuo de preços deve ser geral, ou seja, refletir em diversos produtos e serviços, e contínuo, não pontual, apesar de vermos com frequência o termo ser utilizado já com apenas um recuo dos índices que monitoram a inflação.

Segundo Fernando Maciel, professor de economia e consultor do Sebrae-SP, no geral, as causas da deflação são a redução do consumo, o excesso de oferta e o aumento da concorrência. 

“No caso do Brasil, são basicamente a redução dos preços dos combustíveis, maior oferta dos alimentos, desemprego e endividamento das famílias”, diz Maciel.

Diferença entre deflação, inflação e desinflação

“Inflação é o aumento geral e contínuo dos preços. Já a deflação é a redução dos preços, e a desinflação é a diminuição do aumento de preços, porém ainda sendo inflação”, explica Fernando Maciel, professor de economia e consultor do Sebrae-SP.

Assim como a inflação, a deflação também é controlada pelas medidas tomadas pelo Banco Central. 

Segundo Louzada, a diferença é que a inflação ocorre quando os preços aumentam ao longo do tempo em uma economia e, com o poder de compra da moeda caindo, as pessoas precisam gastar mais dinheiro para comprar os mesmos produtos. 

Ou seja, ela representa o aumento generalizado dos valores de produtos e serviços, indicando uma desvalorização do dinheiro.

“Já a deflação é uma situação contrária, quando os preços dos produtos e serviços diminuem. Apesar de parecer algo benéfico, na verdade, pode levar a uma diminuição do consumo e aumento da desaceleração econômica por diminuição da demanda”, esclarece o economista.

Neste cenário, os preços diminuem e o dinheiro parece se valorizar, já que o consumidor desembolsa um valor menor para adquirir os mesmos produtos ou contratar serviços.

Ainda segundo Louzada, a desinflação acontece quando os preços ainda sobem, mas com uma taxa mais lenta. “Não significa que os preços estejam caindo, mas indicando, na verdade, que o ritmo de aumento está menor”, alega Louzada.

Ou seja, na desinflação, os preços ainda sobem, ainda há inflação, mas menor que era registrado antes. Ocorre apenas uma diminuição do indicador.

Como funciona o cálculo da deflação?

A deflação é medida e calculada da mesma forma que a inflação. “A deflação é a queda de preços dos produtos que fazem parte do índice de preços, como IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), IPC (Índice de Preços ao Consumidor) e IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado)”, diz Maciel

Ele explica que a inflação é calculada através de uma média de preços dos principais produtos adquiridos pelos consumidores.

O IPCA é considerado o medidor oficial da inflação no Brasil, e calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Reprodução Banco Central 

Segundo o IBGE, “o propósito é medir a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços consumida pela população” e os índices analisados, de produtos como arroz, feijão, passagem de ônibus, material escolar, por exemplo, levam em conta não apenas a variação de preço de cada item, mas também o peso que ele tem no orçamento das famílias.

Resumindo, esta cesta de compras analisada inclui diversos produtos e serviços de categorias como alimentação, transporte, educação e saúde, e alguns têm um peso maior no índice, de acordo sua importância para o consumo familiar. 

O cálculo é feito por meio de um levantamento mensal que aponta a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 e 40 salários mínimos, realizado em 13 áreas urbanas do país, de, aproximadamente, 430 mil preços em 30 mil locais.

O Brasil trabalha com um regime de metas de inflação que visa controlar o indicador. Ou seja, existe uma meta de IPCA, um valor a ser atingido. 

Para isso, o BC toma uma série de medidas e decisões, por meio do Copom (Comitê de Política Monetária), que regula a taxa básica de juros, Selic, reduzindo ou aumentando-a.

Também existem outros índices de inflação, tanto do próprio IBGE como da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Riscos da deflação

Segundo Maciel, se a deflação continuar por vários períodos, ela acaba desmotivando o fabricante a participar deste mercado, podendo até chegar à falta de produto no mercado.

Ele afirma que em períodos curtos a deflação não proporciona riscos, porém em períodos prolongados, os riscos de desequilíbrio de mercado existem. 

Um dos motivos de a deflação não ser positiva é que ela mostra que a população está consumindo menos, o que revela uma demanda por produtos menor, que pode ter como consequência uma desaceleração econômica, explica Louzada. 

Como citado no início deste texto, o BC considera que os preços em queda podem ser prejudiciais para o bom funcionamento da economia. 

Isso porque “um comerciante poderá ter prejuízo se ganhar menos amanhã pelo estoque que fez hoje. As famílias e as empresas poderão adiar suas decisões de consumo e investimento se houver a perspectiva de que os preços estarão mais baixos amanhã, deprimindo a atividade econômica”, diz a autarquia.

Quando há mais produtos no mercado do que demanda (pessoas querendo comprar), como ocorre na deflação, ela acaba causando prejuízos aos negócios e diminuição de empregos, gerando até mesmo uma recessão da economia, já que a deflação desestimula o consumo e causa declínio da atividade econômica.

Como proteger os investimentos da deflação?

“Um dos cuidados necessários para se proteger da inflação é evitar acumular dívidas de alto custo durante períodos de deflação, pois o valor real dessas dívidas pode aumentar. Diversificar os investimentos em diferentes tipos de ativos, como ações, títulos e imóveis, para reduzir o risco financeiro, também é fundamental”, diz Louzada. 

Alguns setores podem se beneficiar da queda da curva de juros, que é relacionada aos movimentos e expectativas de inflação, já que quando a inflação está baixa, o esperado é que a Selic, taxa básica de juros, seja reduzida.

Investimentos em que haja diversas estratégias, com estratégia de longo prazo, como fundos, podem contribuir para a diversificação. Ativos de renda fixa podem ser afetados, especialmente aqueles atrelados à inflação.

O investidor deve estar atento às tendências e tomar cuidado com os riscos, também atentando-se ao seu perfil.

Relação da deflação com o IPCA

Adobe Stock

Como comentamos, a deflação é medida da mesma forma que a inflação, portanto, tem relação direta com o IPCA, já que ele mede mensalmente os preços para o consumidor amplo.

O IPCA indica se o cenário é de queda ou aumento dos preços e, consequentemente, aponta se o quadro econômico é de inflação ou deflação.

Conforme mencionado, o IPCA é medido pelo IBGE e calcula a variação de diversos itens de 9 categorias principais: alimentação, habitação, vestuário, transportes, saúde, despesas pessoais, educação e comunicação.

O IPCA é fundamental não somente para medir a deflação, como para a inflação, desinflação e até para os investimentos.

Exemplo de países em deflação

Em julho de 2023, tivemos alguns outros países, 12 deles, além do Brasil, apresentando um índice de preços negativo, como Estados Unidos, Suécia, Bélgica, Grécia, Itália, Armênia e Espanha, segundo o Global Economy.

“No mundo, o país que apresenta este cenário é a China, que teve deflação de 0,3% em julho [de 2023]. O motivo principal foi o efeito da retomada da atividade econômica após a covid-19 ter passado, e agora que a atividade econômica voltou a sua velocidade normal, acrescentamos a isso o aumento no desemprego”, aponta Maciel.

A China apresentou, em julho, uma deflação pela primeira vez em mais de dois anos, acompanhada também de um índice de queda das importações e exportações, o que tem preocupado.

Neste caso, a queda preocupou o mercado por não ser um evento isolado, já que soma-se a outros fatores econômicos que apresentam recuo e movimento desfavorável da economia.

A economia da China sofreu muito com a covid-19 e tem se esforçado para recuperá-la, lutando contra uma desaceleração atualmente. 

O mercado imobiliário chinês passa por uma crise de dívida, investidores globais veem a recuperação com pessimismo e também há a fraqueza no consumo das famílias chinesas que afetam o mercado como um todo.

Cenário da deflação no Brasil

Adobe Stock

O IPCA apresentou queda de 0,68% no mês de julho de 2022, a maior queda mensal desde 1994, no entanto, somente esta queda pontual não pode ser considerada uma tendência de deflação.

O Brasil também apresentou uma queda da inflação representada pelo índice IGP-DI nos últimos meses, no entanto, o cenário também tem se revertido.

O IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), calculado pelo Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas), após cinco meses de deflação, apresentou aumento de 0,05% em agosto.

Segundo o IBRE, além de ser um indicador econômico, o IGP-DI é usado como referência para correções de preços e valores contratuais.

A leitura do IPCA de julho de 2023 indicou um aumento de 0,12% da inflação, após queda de 0,08% em junho e aceleração de 0,23% em maio – revelando que o país não apresenta deflação.

Quando o Brasil esteve em deflação

“O Brasil apresentou deflação em julho do ano passado (2022), e abril e maio de 2020 pelos motivos da covid-19”, diz Maciel. “No Brasil o nível de desemprego em julho do ano passado estava em torno de 10% com endividamento das famílias”, complementa, apontando as possíveis causas desse recuo geral dos preços.

Como já explicamos, o recuo de 0,68% em julho de 2022, somente, não configura um quadro de deflação, visto que era um evento esporádico e isolado.

O Brasil tem um histórico de alta da inflação, inclusive, com a hiperinflação entre 1980 e 1990, portanto, são poucos os casos de deflação no país.

Confira abaixo a variação mensal do IPCA desde a instauração do Plano Real, em 1994 até a leitura do indicador em julho de 2023:

Reprodução IBGE

Como é possível observar no gráfico, o intervalo de tempo em que o IPCA  esteve negativo foi de julho a setembro de 1998, apenas três meses.

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